Revista Retratos
Brasiliense percorre o país e chega aos quatro pontos extremos
21/05/2018 09h00 | Atualizado em 05/06/2018 11h12
Um turista que caminha na praia da Ponta do Seixas, em João Pessoa (PB), está no ponto mais oriental (ao Leste) do território brasileiro. Outro que tira fotos do arroio Chuí, pequeno rio localizado na fronteira entre o Rio Grande do Sul e o Uruguai, pode postar nas redes sociais a prova de que visitou o ponto mais meridional (ao Sul) do Brasil. Porém, encontrar turistas fazendo uma selfie no ponto mais ocidental (a Oeste, próximo à nascente do rio Moa, no Acre) ou no mais setentrional (ao Norte, no Monte Caburaí, em Roraima) é algo pouco provável, pois não é nada fácil chegar a esses locais. É o que conta o brasiliense Leonardo César Osório Meirelles, 52 anos, administrador de imóveis que realizou a proeza de visitar os quatro pontos extremos do país.
Em 2014, Leonardo partiu do Monte Caburaí, percorreu cerca de 6.200 km e chegou ao arroio Chuí. Em 2016, saiu da nascente do rio Moa e seguiu até a Ponta do Seixas, vencendo um percurso de 5.800 km. Em ambos os trajetos, se deslocou a pé, de bicicleta ou de caiaque, contando com o apoio de um carro para transportar barraca, comida e equipamentos.
Ao todo foram necessários cem dias na travessia Oeste-Leste e 120 na travessia Norte-Sul, incluindo as paradas para descanso. Segundo ele, o maior desafio foi alcançar o ponto extremo localizado no Acre, pois o caminho até a nascente do rio Moa, na serra Contamana, é cheio de abismos, cânions, animais selvagens e vegetação densa. Para conseguir chegar até lá, estudou as rotas a serem seguidas, traçou as coordenadas e contratou pessoas para ajudá-lo a carregar comida e equipamentos.
No Monte Caburaí (RR), a realidade não foi diferente. Passou por várias comunidades indígenas e seguiu a pé pela mata até a divisa do Brasil com a Guiana, onde está implantado o marco que determina o extremo Norte do Brasil – que assim foi reconhecido em 1998.
Foi nesse ano que uma missão oficial formada pela Comissão Brasileira Demarcadora de Limites, órgão do Ministério das Relações Exteriores, juntamente com o Exército, o IBGE e representantes do governo da Guiana, foi ao Monte Caburaí confirmar uma informação que o Brasil conhecia desde 1933: o ponto extremo do Norte do país não fica no Oiapoque (AP), mas no Monte Caburaí, no município Uiramutã (RR), conforme explica o vídeo a seguir:
“Desde o Império já se sabia que o ponto extremo era em Caburaí. As missões do Brasil e de Portugal não conseguiram chegar lá, mas no Oiapoque conseguiram chegar. Então, foi feita uma convenção dos extremos da faixa litorânea (Oiapoque e Chuí)”, explica Carlos Alberto Castro Junior, gerente de Geodésia e Cartografia do IBGE, em Goiás.
Para documentar sua aventura, Leonardo acoplou uma máquina fotográfica no peito que tirava uma foto a cada minuto. O resultado foi um acervo de 60 mil fotos e 60 horas de vídeo de todo o percurso, tudo sincronizado por GPS, com data e horário. “Vi muita coisa nesses milhares de quilômetros. Achei o Cerrado lindo e o encontro das águas do Rio Negro com o Solimões. Fiquei muito chateado com o desmatamento, com a grande quantidade de animais atropelados ao longo do caminho e com o abandono de muitas estradas”, lamenta.
Matéria publicada na Retratos nº 11.