Revista Retratos
Pesquisas domiciliares ajudam a contar histórias das famílias brasileiras
21/10/2019 14h00 | Atualizado em 25/10/2019 10h04
Daniele Miranda, o marido Paulo José da Silva e os quatro filhos moram há nove anos em uma casa no bairro do Realengo, Zona Oeste do Rio de Janeiro. Cada elemento dessa residência faz parte da história dessa família, que também é contada pelo IBGE através de suas pesquisas domiciliares.
As pesquisas domiciliares do IBGE, como a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua), a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) e o Censo Demográfico, fazem um retrato da população brasileira, não só a partir das informações sobre os moradores, mas também através das características dos próprios domicílios.
A primeira característica que se percebe do imóvel de Daniele é o fato de ser uma casa. Esse é o tipo de moradia mais popular no país, resistindo aos projetos de verticalização das cidades. De acordo com os dados da PNAD Contínua, suplemento Domicílios e Moradores, em 2018, 183,3 milhões de pessoas residiam em casas. Enquanto os apartamentos representavam 13,8% dos 71 milhões de lares no Brasil, as casas correspondiam a 86%. Havia ainda outros como casa de cômodos, cortiço ou cabeça de porco, que somavam 0,2%.
Daniele comenta, com orgulho, que projetou todas as obras, desde o casamento. “Esse terreno é da família do meu marido há mais de 40 anos. Quando eu vim morar aqui, era direto na telha. Chovia mais dentro de casa do que fora”, lembra, rindo.
O telhado de concreto sem telha – como era antigamente na casa de Daniele – é o mais comum no Brasil. Ainda segundo a PNAD Contínua, em 2018, metade dos domicílios do país tinham esse tipo de telhado, enquanto 14,7% tinha telhado com laje de concreto, sem telhas – como o usado atualmente no lar da carioca.
Informações sobre material das paredes, teto e piso são fundamentais para compreender melhor a realidade de milhões de famílias. A gerente da PNAD Contínua, Maria Lucia Pontes, explica que esses dados se referem à adequação da moradia em termos de saúde e bem-estar da família.
Segundo Maria Lucia, o IBGE segue manuais de estatística para definir o que é essencial nos questionários. Além disso, existem demandas como a do Ministério das Cidades, sobre o tipo de esgotamento sanitário, ou de Minas e Energia, sobre a energia usada no preparo de alimentos. “São diferentes demandas que nos levam a determinar se os domicílios contribuem para a boa qualidade de vida”, comenta a pesquisadora.
Outra mudança que Daniele fez após se casar foi no piso, que era de taco e agora é de cerâmica. “O solo é muito úmido, a madeira estraga em pouco tempo. O piso cerâmico, além de durar, se mantém fresco mesmo nos dias quentes. Eu espalhei tapetes pela casa, porque tem dia de não conseguir pisar no chão de tão frio”, conta.
Independentemente do clima, o piso cerâmico é da preferência da maioria da população e está presente em 77,6% dos lares brasileiros. Já o piso de madeira (usada em tacos e tábua corrida, por exemplo) só é usado em 6,7% dos domicílios do país.
Na casa, encontramos vários bens que o IBGE também investiga, como fogão, geladeira, máquina de lavar e televisão, que tem lugar de destaque na sala de Daniele. “A posse de determinados bens se relaciona com o poder aquisitivo da família, e pode variar muito”, explica a analista da PNAD Contínua, Adriana Beringuy.
O casal dorme no primeiro quarto. Já no segundo quarto, dormem os quatro filhos: Thayson, de 12 anos, Caio, de 9, Sofia, que vai completar 6, e Pablo, de 3. Eles são a inspiração para o próximo projeto. “Além de acabar com as goteiras, trocamos as telhas por laje porque, até o fim do ano, queremos construir um segundo andar. Vamos colocar quartos separados para os meninos mais velhos, que já estão em idade de dormir sozinhos”, explica Daniele, comentando que “não pode ficar todo mundo amontoado, dividindo cama e colchões no chão”.
A preocupação dela reflete a realidade do adensamento domiciliar excessivo, que é quando mais de três pessoas dividem o mesmo dormitório. Segundo a Síntese de Indicadores Sociais, que usa os dados da PNAD Contínua, em 2017 essa situação afetava 12,2 milhões de pessoas, em 2,3 milhões de domicílios. Entre os indicadores de inadequação do domicílio (condições que tornam o domicílio precário ou vulnerável), o adensamento é o que afeta mais pessoas, chegando a 12,1% das crianças de 0 a 14 anos de idade.
As mudanças não vão parar. Com a construção de quartos no segundo andar, Daniele quer derrubar paredes e expandir a cozinha. A maior preocupação é com as festas em família, que fazem a geladeira ficar pequena para tanta comida e bebida. “Quando fazemos festa, cada um traz um prato de salgado, um prato de doce e bebidas”, conta, com um sorriso. Para Daniele, a família está sempre em primeiro lugar nos projetos. “Estamos construindo, reformando, para nossos filhos. Não vamos ficar por aqui para sempre, né? Então, temos que deixar algo para eles, algo sólido”, conclui.
Confira a matéria completa na edição 18 da revista Retratos.
Essa foi a última edição da revista Retratos, que deixa de ser produzida pelo IBGE em função das medidas adotadas pelo Instituto de racionalização de gastos e redução de despesas.
De maio de 2017 a outubro de 2019, em suas 18 edições, a Retratos mostrou reportagens que abordam temas atuais, ligados ao trabalho do instituto na missão de retratar a realidade do país para o exercício da cidadania.
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