Revista Retratos
Gerações conectadas: POF mostra mudanças no consumo
03/07/2017 09h00 | Atualizado em 12/07/2019 11h35
Cléa Rubinstein, aos 71 anos, usa a tecnologia com a mesma facilidade que os netos Gabriel (4) e Dora (10), seja usando o Whatsapp para falar com uma filha que mora em Londres ou com a outra, mãe das crianças, que reside na mesma rua que ela. Nascida em Olaria, na Zona Norte do Rio de Janeiro, desde os oito anos ela mora em Copacabana. Já são sete décadas e várias mudanças de estilo de vida, refletidas na evolução do orçamento familiar.
Filha de imigrantes judeus que aqui chegaram vindos da Romênia na década de 1930, D. Cléa recorda o ambiente familiar da infância:
“Falávamos português e iídiche em casa. Preparávamos pratos típicos judaicos em celebrações e, de vez em quando, era preciso fazer alguma adaptação. O gefilte fish, por exemplo, que é um bolinho de peixe típico judaico, é feito com carpa, um peixe de rio, mas nossa família teve que se adequar aos peixes nacionais”.
De lá pra cá, a receita já mudou de novo e hoje os restaurantes judaicos costumam usar processador elétrico para moer a tilápia, um peixe fluvial africano que foi introduzido no Brasil para a pesca artesanal nos anos 80 e hoje representa cerca de metade da produção da piscicultura no país.
Assim como os hábitos culinários e alimentares mudaram, também os orçamentos familiares se adaptaram aos novos tempos. As despesas com alimentação, que ocupavam mais de um terço (33,9%) das contas das casas nos anos 70, tiveram sua influência reduzida a menos de um quinto (19,8%) em 2008-2009.
Do caderno de dedicatórias às redes sociais
Cléa também se lembra das conversas com as colegas de escola numa época sem celulares, Orkut ou Facebook: “Quase todas as meninas tinham cadernos de mensagens, em que os colegas escreviam dedicatórias no fim de cada ano. Eram mensagens de amizade e bem-querer, não se revelava nenhum grande segredo. Era tudo bem público e respeitoso. Aquilo servia como uma espécie de rede social da época, considerando-se as devidas proporções.
As conversas dos jovens também já eram longas na época do telefone fixo: “Falávamos muito ao telefone. Era só um aparelho na sala de estar, sem extensões para outros cômodos da casa. Às vezes, nossos pais reclamavam e tínhamos que desligar na hora”.
Essas e muitas outras informações são coletadas pelo IBGE desde o Estudo Nacional da Despesa Familiar (Endef), feito em 1974-75. Depois, foi realizada a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) em 1996, 2002-2003 e 2008-2009. A coleta da próxima edição da pesquisa começou em 26 de junho e vai até 2018.
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Um salto no peso das crianças
A POF também revelou um salto no número de crianças de 5 a 9 anos com excesso de peso ao longo de 35 anos: em 2008-09, 34,8% dos meninos estavam com o peso acima da faixa considerada saudável pela OMS. Em 1989, este índice era de 15%, contra 10,9% em 1974-75.O padrão era semelhante nas meninas, que, de 8,6% na década de 70, foram para 11,9% no final dos anos 80 e chegaram aos 32% em 2008-09.
Imagem: Licia Rubinstein