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Censo 2022 em campo

No Mosteiro de São Bento: recenseamento em domicílio coletivo

Editoria: Séries Especiais | Carlos Alberto Guimarães | Arte: Brisa Gil

03/10/2022 14h00 | Atualizado em 24/01/2023 13h02

  • Destaques

  • Monges beneditinos do Rio de Janeiro respondem ao Censo 2022, que também vai coletar dados em asilos, orfanatos, quartéis, presídios e outros domicílios coletivos com morador.
  • No Censo de 2010, os domicílios coletivos representavam 0,1% de todos os domicílios ocupados no Brasil.
Monges residentes no Mosteiro de São Bento foram recenseados em setembro - Foto: Jessica Cândido/Agência IBGE Notícias

Às 7h15 da manhã, os monges residentes no Mosteiro de São Bento, no Centro do Rio, começaram a entoar os cantos gregorianos que dão início à missa matinal. Encerrada a celebração de 45 minutos na capela-mor, retiraram-se para seus aposentos. A rotina de orações e trabalho daquele dia 6 de setembro só foi quebrada às 9h, com a chegada da recenseadora do IBGE. Com seu dispositivo móvel de coleta à mão, veio pronta para fechar mais uma série de questionários.

Mas por que o IBGE faz recenseamento em um mosteiro? Porque o Censo também entrevista as pessoas que residem em estabelecimentos ou instituições onde a relação entre os habitantes é restrita a normas de subordinação administrativa. São os chamados domicílios coletivos com morador. Além de mosteiros e conventos, esta classificação inclui quartéis, asilos, orfanatos, pensões, hospitais, clínicas (com internação), presídios e até campings.

“No Censo de 2010, os domicílios coletivos representavam 0,1% de todos os domicílios ocupados no Brasil”, lembra Gustavo Junger, técnico da Coordenação de População e Indicadores Sociais (Copis) do IBGE. Passada mais de uma década, mudanças metodológicas, conceituais e tecnológicas refinaram a contagem, o que deve ser percebido no Censo 2022. “A própria tipologia dos domicílios coletivos foi alterada”, ressalta o técnico.

Em 2010, foram pesquisados cinco tipos de domicílios coletivos: asilo, orfanato e similares; hotel, pensão e similares; alojamento de trabalhadores; penitenciária, presídio ou casa de detenção; e outros. “Nessa categoria de ‘outros’, abrigava-se um grande grupo no qual não era possível distinguir esses tipos de domicílios”, explica Junger. Após revisão da equipe multidisciplinar do IBGE, chegou-se à melhor fórmula para a pesquisa que está em campo, com 11 categorias.

A classificação neste Censo 2022 passou a ser assim: abrigo, albergue ou casa de passagem para população em situação de rua; clínica psiquiátrica, comunidade terapêutica e similar; orfanato e similar; penitenciária, casa de detenção e similar; quartel ou outra organização militar; abrigo, casa de passagem ou república assistencial para vulneráveis; asilo ou outra instituição de longa permanência para idosos; unidade de internação de menores; hotel ou pensão; alojamento; e outros. “Com a distribuição dessa população de forma mais desagregada, é possível realizar estudos e pensar políticas de forma mais precisa, voltada para grupos específicos dentro desses domicílios”, completa Junger.

Para se ter uma ideia da dimensão do trabalho, somente na categoria que inclui os presídios, o IBGE vai visitar cerca de 1.500 estabelecimentos penais em todo o país. Para cada tipo de domicílio, nós empregamos uma estratégia diferente”, explica José Francisco Teixeira Carvalho, superintendente estadual do IBGE no Rio. “No caso das penitenciárias, nós enviamos um ofício à Secretaria de Segurança e ela o encaminha aos diretores das unidades, para que nos deem acesso”, complementa. Durante a operação de recenseamento no local, não há necessidade de entrevistar individualmente cada detento, pois pode-se recorrer a registros administrativos de posse dos diretores de cada instituição.

Igreja começou a ser construída em 1633, no alto do Morro de São Bento - Foto: Jessica Cândido/Agência IBGE Notícias
Equipe de reportagem do IBGE chegou cedo ao local e registrou momentos da missa matinal - Foto: Jessica Cândido/Agência IBGE Notícias
Maior cargo na hierarquia beneditina, abade Dom Filipe da Silva celebra a missa das 7h15 - Foto: Jessica Cândido/Agência IBGE Notícias
Ambiente bucólico inspira à "oração e trabalho", o lema de São Bento - Foto: Jessica Cândido/Agência IBGE Notícias
Um a um, os monges compareciam à salinha reservada para o recenseamento - Foto: Jessica Cândido/Agência IBGE Notícias
Recenseadora Ana Cristina do Amaral levou menos de duas horas para concluir seu trabalho - Foto: Jessica Cândido/Agência IBGE Notícias

No Mosteiro de São Bento, o abade Dom Filipe da Silva – ocupante do cargo mais alto na ordem beneditina – preparou uma salinha no primeiro andar do prédio especialmente para o recenseamento de seus subordinados. Um por um, os monges se dirigiam ao local e eram entrevistados por Ana Cristina do Amaral. “Fui muito bem recebida aqui no mosteiro, todos ajudaram muito”, atesta a recenseadora, responsável por aquele setor no Centro da cidade.

Em menos de duas horas, o trabalho estava concluído. No total, residem ali 34 monges. Como quatro deles estavam na enfermaria, foi o próprio Dom Filipe quem passou as informações relativas aos que não puderam comparecer pessoalmente – procedimento normal em se tratando de domicílios coletivos.

“O Censo é superimportante pois revela a todos nós o rosto de uma nação: seu potencial, seus números, suas virtudes, suas necessidades”, afirma Dom Filipe, acrescentando que “todos devem cooperar, pois cada Censo vai revelando facetas de um país”.

Oração e trabalho, a rotina monástica

O Mosteiro de São Bento foi fundado em 1590, no alto do morro de mesmo nome. Foi a segunda ordem religiosa a estabelecer casa no Rio de Janeiro, sendo os beneditinos antecedidos apenas pelos jesuítas. A atual igreja começaria a ser construída em 1633 e o novo prédio do mosteiro, que substituiu o antigo, feito de taipa de mão, teve sua construção iniciada em 1652. Hoje, além do mosteiro e da igreja, o local também abriga um colégio e uma faculdade, todos ligados à ordem beneditina e dirigidos pelo abade Dom Filipe da Silva, de 60 anos.

Nascido no município alagoano de Rio Largo, o religioso ingressou no mosteiro em fevereiro de 1988 e, após um ano de postulantado e dois de noviciado, fez seus votos definitivos em 1993. Tornou-se abade em 2006. Graduado em filosofia e teologia, explica de memória a rotina monástica. “Acordamos todos os dias às 4h30 e iniciamos a vigília (de orações) às 5h. A missa conventual começa às 7h15. O almoço é servido a partir das 11h45 e as vésperas (como é chamada a missa da tarde) ocorrem às 18h. Às 20h, nos recolhemos às celas (aposentos)”. Eventualmente, em dias de solenidades, como Natal e Páscoa, os horários sofrem alterações. “Mas nossa vida é dedicada ao lema ‘Ora et Labora’, que em latim significa orar e trabalhar”, ressalta Dom Filipe.

Responder ao Censo, no entanto, não foi nem um pouco trabalhoso. O questionário básico foi preenchido em menos de cinco minutos. “O Censo oferece indicativos para as ações nos vários campos da vida: educação, saúde, saneamento básico. Isso dá base para o governo compreender suas ações e para o próprio povo se ver e ver o seu rosto... e olhando seu rosto, analisar o que pode melhorar, o que pode mudar, o que pode crescer”, conclui.