Revista Retratos
ODS 7: assegurar o acesso a energias renováveis e limpas
21/12/2018 10h30 | Atualizado em 26/07/2019 17h56
Garantir o acesso universal à energia de forma adequada às necessidades da economia é condição vital para a dignidade humana e para o crescimento do país. Porém, essa meta não pode ser cumprida sem um olhar atento ao meio ambiente. Daí a necessidade da construção de uma matriz energética baseada na produção de energia limpa e renovável. Essa é a preocupação do Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 7, tema da entrevista com Michel Lapip e Flavia Cahete, técnicos do IBGE responsáveis pela articulação desse ODS no Brasil.
Revista Retratos - Pensando nas propostas do ODS 7, quais são os principais desafios para a matriz energética brasileira?
Michel Lapip - O ODS 7 trata do uso de energia limpa e renovável, que atenda às necessidades das economias em crescimento sem agredir o meio ambiente. Temos desafios tanto globais como nacionais. Hoje nossa sociedade é extremamente dependente da energia. Sem ela, não chega água às casas das pessoas, nem mantimento. Existem muitos países em que parte da população não tem acesso à energia elétrica. Já no Brasil temos um acesso quase universal, que aumentou muito nos últimos anos.
Flávia Cahete - Só que esse acesso implica uma demanda por energia a preços mais baratos, o que está relacionado ao uso de fontes fósseis. E aí está um dos principais desafios do ODS 7: fazer a transição para uma economia com mais acessibilidade à eletricidade, porém de forma que fontes renováveis sejam mais utilizadas. No caso do Brasil, acho que estamos bem posicionados.
Retratos - Por quê?
Michel - No Brasil, a matriz energética é baseada em energias renováveis e limpas, como a produzida em hidrelétricas, a partir de biomassa (cana de açúcar) e a eólica. Hoje, 65% da energia do país é gerada nas hidrelétricas. Isso garante uma matriz muito limpa em termos de emissão. Na verdade, usamos as termoelétricas, que são mais poluentes, principalmente em períodos de escassez de chuva, quando diminui o volume dos reservatórios, e em horários de pico [do consumo].
Retratos - Para quais indicadores já temos informação?
Flávia - O ODS 7 tem seis indicadores, sendo que quatro já têm metodologia e dados para o Brasil disponíveis na Plataforma ODS. Os dois primeiros são o percentual da população com acesso à eletricidade e o percentual com dependência primária em combustíveis e tecnologia limpos – item em que o Brasil precisa ficar atento porque, nos últimos anos, com o preço do gás de cozinha aumentando muito, em algumas regiões a população passou a usar mais lenha. Esses dois indicadores estão relacionados à meta de assegurar o acesso de energia à população de forma confiável. Outro indicador é relacionado à participação da energia renovável no total final do consumo de energia. Para o Brasil, fizemos uma pequena adaptação, pois não estamos olhando a participação no consumo e sim na oferta. O último indicador é o nível de intensidade de energia primária, que é um indicador de eficiência energética: quanto se utiliza de energia para gerar uma unidade de PIB?
Michel - Cumprimos o objetivo de fazer todos os indicadores globais, os quais devem ser alcançados por todos os países. A partir de agora vamos começar a discutir os indicadores nacionais.
Retratos - Qual é a relação do ODS 7 com os demais Objetivos?
Flávia - Acho que o ODS 7 se relaciona muito com o ODS 9, que é sobre industrialização sustentável, porque falamos de fontes, crescimento econômico e desenvolvimento, que são temas comuns ao ODS 9. Inclusive, ele tem um indicador que está relacionado com emissão de gases de efeito estufa, de mudanças climáticas e nós aqui fazemos parte dessa discussão.
Michel - Uma boa parte dessas emissões vem da produção de energia. Outro relacionamento é o ODS 6, da água, justamente porque temos uma matriz com forte geração de energia hidrelétrica. Como a escassez de água e seu uso desenfreado vão impactar na geração energética?
Retratos - Como vocês veem a relação entre energia e sociedade?
Flávia - Os relatos sobre o programa de acessibilidade no qual o Brasil se empenhou nos últimos anos, o “Luz para todos”, é muito nesse sentido: “Eu passei a ter luz, passeia a ter condições de trabalho, a aproveitar mais meu dia”.
Michel - Hoje a necessidade é tão grande que não ter energia afeta a dignidade humana. Para fazer qualquer coisa, se parte do pré-requisito que se tem energia.