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IBGE em campo

Pesquisa revela diversidade regional no consumo alimentar do brasileiro

Editoria: Séries Especiais | Helena Tallmann (MG), Rita Martins (BA), Rodrigo Paradella (RJ) e Leandro Santos (MA)

08/05/2018 09h03 | Atualizado em 20/09/2019 15h58

Casa por casa, rua por rua, a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) do IBGE constrói um raio-x do dia a dia do brasileiro, mostrando suas condições de vida, alimentação, consumo, rendimento, entre outros. A coleta da POF está prevista para terminar em julho, quando 75 mil domicílios terão sido visitados. Uma das informações trazidas pelo levantamento é o que vai à mesa em cada estado do país, desvendando preferências regionais por alimentos que muitas vezes passam desapercebidas. Em campo desde junho do ano passado, a POF atualizará o perfil alimentar do brasileiro, que hoje tem sua última análise feita na edição de 2009 da pesquisa. É desse último levantamento que vêm as informações atualmente utilizadas no cálculo de inflação dos alimentos, por exemplo.

Apesar do tempo decorrido, alguns hábitos mostrados na pesquisa de 2009 se mantém na rotina da população. É o caso do consumo de feijão preto no Rio de Janeiro (8,3 kg por ano, em 2009), por exemplo, quatro vezes mais alto no estado que no resto do Brasil (2kg) e muito comum na casa de Dona Suzette, 62 anos, visitada pela POF em maio deste ano. “Todas as pessoas que eu conheço aqui no Rio comem feijão preto. Comemos todos os dias”, revela a moradora do bairro do Cavalcanti, na Zona Norte da capital carioca, que vive com o marido e o filho.

O agente de pesquisa do IBGE Renan Coelho, 27 anos, foi o responsável pela visita à casa de Dona Suzette. O estudante de Administração Pública conta que tem sido bem recebido pelos moradores cariocas. “A receptividade, no geral, é boa. Em alguns casos específicos, as pessoas não estão muito afim de responder, mas atendem por educação. Mas, a partir daí, para marcar a segunda entrevista fica mais difícil -achar a pessoa. Mas esses casos são 10% ou 15%. Fora isso, é tranquilo”, explica.

Dona de casa, Suzette explica que sua família não deixa de comer pão francês, uma das preferências do carioca. “Eu como muito pão francês. Pão de forma também, mas nem sempre. Sou chegada a pão francês mesmo”, diz. No estado do Rio, cada pessoa consumia em média 17,2 kg de pão francês por ano em 2009, contra 12,5 kg no resto do país. Já o de forma industrializado era duas vezes mais consumido no Rio (2,2kg contra 0,8kg).

A capital do estado é apenas uma das 53 cidades que terão domicílios visitados no Rio de Janeiro, com um total de mais de 4,4 mil residências.

Em Minas, a tradição fala alto

Na casa da Joelma Oliveira, 34 anos, o almoço não foge às tradições mineiras: sempre tem arroz, feijão, legumes e verduras. A carne entra alguns dias da semana, normalmente o lombo ou pernil de porco. De acordo com os dados de 2009, Minas Gerais é o maior consumidor desses dois produtos, junto com toucinho fresco, costela e vísceras suínas. O animal é o preferido no estado. “É mais fácil de comprar e gostoso também”, explica.

A dona de casa mora com cinco filhos e o marido em Ribeiro das Neves, região metropolitana de Belo Horizonte. Também não faltam à mesa outros pratos típicos da culinária estadual: canjiquinha com costelinha, feijão tropeiro e frango com quiabo. Esse último, a família comeu recentemente, engrossando as estatísticas da POF: Minas liderou ranking de consumo per capita do alimento em 2009, seguida de Bahia e Sergipe.

Quando o assunto é o café da manhã ou o lanche da tarde, é comum associar o Estado ao pão de queijo. Apesar disso, curiosamente ele não tem o maior consumo desse produto, perdendo o primeiro e segundo lugares para o Distrito Federal e Goiás, respectivamente. O produto seria mais constante na casa de Joelma caso o preço fosse mais acessível. Hoje, a família o consome cerca de duas vezes por mês.

A agente de pesquisas Cínthia Figueira da Silva com Joelma e os filhos, em Ribeiro das Neves (MG) - Foto: Eduardo Veloso

O famoso queijo minas é outro ingrediente farto na gastronomia estadual e tem situação similar ao pão de queijo: apesar de saboroso, o preço pode ser salgado demais. Por isso, muitas vezes a dona de casa opta pela muçarela ou o queijo prato. “Muito raro a gente comprar um queijo inteiro”. Contrariando o senso comum, segundo dados de 2009, a maior média de consumo do produto é atribuída a Pernambuco, depois Paraíba, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte e, só então, Minas Gerais.

O cafezinho, no entanto, não escapa do imaginário comum, e Minas Gerias apresenta a maior aquisição per capita de café moído, sendo quase 3kg por ano. Para acompanhar, o estado também está no topo da lista a rosca doce, e entre as dez principais unidades da federação na aquisição das categorias “biscoitos, roscas, etc.” e “bolos”. Tradição comum em alguns municípios mineiros, Joelma compra bolo de fubá (ou broa) na porta de casa, vendido no bairro pelo fabricante ou revendedor.

Uma das sobremesas mais encontradas na casa da família é o doce de leite. “Compramos uma vez por mês mais ou menos e comemos puro na colher”, conta Joelma. Dentro da categoria de “doces e produtos de confeitaria”, o doce à base de leite é o item mais adquirido pelos mineiros (4º lugar entre os estados). Em seguida, empatam o chocolate em tablete e o sorvete, ambos com Minas Gerais na oitava posição.

Até o fim da coleta, a Pesquisa de Orçamentos Familiares terá visitado 5,6 mil domicílios em Minas Gerais em 202 municípios.

No Maranhão, POF passará por mais de 2,6 mil domicílios

Mais de 2,6 mil domicílios em 89 cidades do Maranhão serão visitados ao longo da pesquisa. Ao todo serão 2.637 residências maranhenses visitadas no decorrer dos quatro trimestres de coleta, que termina em julho. Em São Luís, capital do estado, serão 529 de famílias visitadas.

O agente de pesquisas Dennis Silva entrevista a moradora Carmelita da Silva em São Luis (MA) - Foto: Leandro Santos

Uma das pessoas entrevistadas durante a pesquisa foi a aposentada Carmelita da Silva, 76 anos. Moradora do Centro, ela falou sobre seus hábitos alimentares, dieta composta por alimentos simples como frango, peixe e camarão que ela adquire no Mercado Central, situado próximo à sua casa. Já o autônomo Luiz Gonzaga da Silva, 68, morador do bairro do São Francisco, dá preferência a frango e carne bovina, e, por sua vez, adquire os produtos em uma feira local.

A pesquisa também serve como uma forma de aprendizado para aqueles que atuam diretamente na aplicação dos questionários. É o caso da agente de pesquisa Michelle Nunes, de 30 anos. “Nós fizemos um treinamento para a coleta dos dados. A dificuldade é algo que encontramos no primeiro momento, mas depois foi bem tranquilo”, destacou.

Na Bahia, a tradição não sai da mesa

Nas casas baianas, a comida regional também não sai de moda. Priscilla Marcelle Sousa, uma das agentes de pesquisa e mapeamento atuantes na POF no estado relatou que os ingredientes de pratos típicos - como dendê, castanha e gengibre – foram mais citados no período da Semana Santa, quando famílias locais costumam preparar receitas tradicionais, como moquecas, vatapá e caruru.

Para a aposentada Maria Helena de Jesus, o feijão é item indispensável no cardápio da família. “Hoje se falta o feijão está faltando alguma coisa. Desde criança, a gente come arroz com feijão, então acostumou”, conta. E não é qualquer tipo de feijão, é o carioquinha, conhecido também como “mulatinho”, em contraponto ao feijão preto. A Bahia é o quarto maior consumidor per capita do produto (1,4kg por ano) no Brasil e, curiosamente, supera em muito o Rio de Janeiro, apenas o 20º no ranking (0,05kg).

Já para a dona de casa Maria Cristina Pereira, as frutas e verduras são itens indispensáveis na alimentação da família. “Com o tempo eu passei a me preocupar mais com a alimentação saudável, mas nem sempre dá para comprar”, explica. As duas informantes moram em Simões Filho, cidade da região metropolitana de Salvador, um dos 136 municípios que participarão da coleta no estado, com um total de mais de 4 mil domicílios.

“Essa é uma pesquisa amostral. É como se fosse uma pequena gota do seu sangue, que contém toda a informação do seu corpo. Assim é uma pesquisa amostral” conclui o supervisor da POF na Bahia, Carlos Rui.

Maria Helena é entrevistada pela agente de pesquisas Priscilla, em Simões Filho (BA) - Foto: Rita Martins