Revista Retratos
ODS 2: defesa da agricultura sustentável e o combate à fome
19/12/2017 09h00 | Atualizado em 26/07/2019 18h03
Garantir a segurança alimentar e promover a agricultura sustentável são ações indispensáveis para assegurar o progresso de uma nação. Isso implica pensar em políticas voltadas à valorização do agricultor, ao combate à fome e à redução da obesidade da população. André Costa e Octávio Costa, pesquisadores do IBGE responsáveis pelo Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 2 (ODS 2), comentam sobre os desafios que o Brasil tem pela frente e o papel do IBGE nesse trabalho.
Revista Retratos - Ainda existe fome no Brasil?
André Martins - As pesquisas do IBGE e de outros institutos têm revelado que o Brasil não integra mais o mapa da fome no mundo. É claro que os levantamentos sempre mostram um grupo ou outro que apresenta características de desnutrição, mas isso não ocorre por problemas de disponibilidade de alimentos. O mais provável é que haja deficiências locais na gestão das políticas de distribuição, ou mesmo uma situação temporária, como o desemprego do provedor de uma família, por exemplo. O que a gente tem observado, especialmente após a POF (Pesquisa de Orçamentos Familiares) 2008/2009, é justamente o contrário. As pessoas estão comendo mais, só que alimentos inadequados. O consumo de alimentos processados aumentou muito, e isso tem acarretado problemas como obesidade, o que não deixa de ser tão preocupante quanto a fome.
Retratos - Na sua visão, a agricultura brasileira pode ser considerada sustentável?
Octávio Costa - Dependendo dos critérios, nenhuma agricultura será considerada 100% sustentável. Apesar de já existir um conceito da FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura) de agricultura sustentável desde 1988, os indicadores de sustentabilidade agrícola ainda são motivos de controvérsia e discussão. A ideia de ter metas e indicadores serve para acompanhar a evolução da agricultura rumo a práticas mais sustentáveis ao longo do tempo, permitindo a comparação com outros países. No caso brasileiro, acredito que não tenhamos alcançado a sustentabilidade, mas estamos evoluindo quando comparamos com a agricultura de décadas passadas. Estamos aumentando a nossa produtividade, ou seja, usamos menos área para obter uma mesma produção de alimentos. Isso significa uma menor demanda por desmatamento e de incorporação de terras ao sistema produtivo, mantendo ou aumentando a produção de alimentos.
Retratos - O que o IBGE já tem de pesquisa sobre as condições nutricionais da população brasileira?
André - Desde 1974, o IBGE realiza pesquisas por amostragem que servem de base para pesquisa de orçamento do consumo da população. Tivemos, por exemplo, o Endef (Estudo Nacional da Despesa Familiar) 1974/1975 e a POF 1987/1988, 1995/1996, 2002/2003 e 2008/2009, que serviram de base para atender parte dos indicadores. Em algumas pesquisas, inclusive, tivemos estudo antropométrico, que mediu e pesou parte da população.
Retratos - E sobre a produção agrícola?
Octávio - O que o IBGE produz hoje atende parcialmente às demandas dos indicadores. Temos algumas informações sobre produção e produtividade agrícola do Censo Agropecuário de 2007. O Censo (Agropecuário) desse ano vai trazer muitos desses dados.
Retratos - Quais são os desafios para o IBGE nestas áreas?
André - Na área de produção alimentar, o desafio é manter as pesquisas já existentes e produzir outras, de forma regular. O ideal seria transformar a POF, que é de cinco em cinco anos, em uma pesquisa anual, mais simplificada, mas sabemos que isso envolve custos.
Octávio - Na agropecuária, ainda precisamos nos debruçar sobre os indicadores e planejar futuras pesquisas para poder atender a esses objetivos. É importante também pensarmos em pesquisas pós-Censo Agropecuário para alimentar esses indicadores estabelecidos pela ONU e acompanhar a evolução do ODS 2. Algumas informações não são pesquisas que vão nos dar e sim registros administrativos do governo, como por exemplo, dados do Banco Central e estimativas de gastos em subsídios agrícolas e em crédito rural. Formar essas parcerias também é um desafio para o IBGE.