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Biomas

IBGE propõe abordagem ecológica para a regionalização do território nacional

Editoria: Geociências | Jana Peters | Arte: Helga Szpiz

25/11/2025 10h00 | Atualizado em 25/11/2025 10h00

Floresta Estacional Sempre-Verde da Amazônia Meridional é um dos 15 domínios naturais do Bioma Amazônia - Foto: Luiz Alberto Dambrós

O IBGE lança a investigação geocientífica experimental Domínios e Regiões Naturais Terrestres dos Biomas do Brasil, que apresenta uma proposta inédita de regionalização natural do território nacional. O estudo será apresentado em um evento na Casa Brasil IBGE COP-30, em Belém, no dia 27 de novembro, às 9h, e terá transmissão ao vivo pelo YouTube.

Diferente dos limites político-administrativos tradicionais, como estados e municípios, essa abordagem considera critérios ecológicos e ambientais para representar com mais precisão a diversidade dos biomas brasileiros e apoiar a produção de estatísticas ambientais, sociais e econômicas. O estudo, que inclui as ilhas oceânicas revela a diversidade natural dos biomas brasileiros, expressa em 52 domínios naturais (grandes áreas com características físico-bióticas semelhantes), e 271 regiões naturais (subdivisões mais detalhadas dentro desses domínios).

Dos 52 domínios, 43 estão em áreas continentais, 8 no sistema costeiro e 1 abrange o conjunto das ilhas oceânicas. Entre as 271 regiões, 246 ocorrem no interior do continente, 19 nas zonas costeiras e 6 nas ilhas. No interior continental, 183 regiões correspondem às áreas nucleares dos domínios e 63 situam-se em zonas de transição, em geral entre biomas distintos.

Número de Domínios e Regiões Naturais, total, no interior continental,
no Sistema Costeiro e nas Ilhas Oceânicas, segundo os Biomas

Biomas e  Ilhas Oceânicas    Número de Domínios Naturais  Número de Regiões Naturais 
Interior Continental Sistema Costeiro  Ilhas Oceânicas Total  Interior Continental  Sistema Costeiro Ilhas Oceânicas Total 
Áreas  Nucleares  Áreas de Transição 
Brasil  43  52  183  63  19  271 
Amazônia  15  16  70  24  97 
Caatinga  26  35 
Cerrado  10  11  43  14  59 
Mata Atlântica  10  33  14  10  57 
Pampa 
Pantanal 
Ilhas Oceânicas 
Fonte: IBGE. Diretoria de Geociências. Coordenação de Meio Ambiente. Banco de Dados e Informações Ambientais. 

Base de dados e relevância

O mapeamento foi produzido a partir de bases de dados geoespaciais contínuas do Brasil, armazenadas no Banco de Dados e Informações Ambientais (BDiA) do IBGE, complementadas por informações de clima e hidrografia. O estudo buscou representar o quadro natural original das paisagens, mesmo onde a cobertura vegetal se encontra alterada por ações humanas. Nessas áreas, foi feita uma reconstituição da condição natural com base na classificação de vegetação.

A regionalização proposta tem potencial para subsidiar políticas públicas e pesquisas em diversas áreas, como a produção de estatísticas ambientais, sociais e econômicas; a contabilidade do capital natural, com ênfase nos ecossistemas; o apoio à criação e redefinição de unidades de conservação e geoparques; além de servir como referência para a gestão ambiental e estudos de biodiversidade, incluindo a identificação de áreas endêmicas da flora e fauna.

Diversidade entre biomas

As particularidades físicas e fitofisionômicas de cada bioma orientaram a identificação e delimitação dos domínios e regiões naturais. Nos biomas Amazônia e Mata Atlântica, de caráter predominantemente florestal, ocorrem diversificações fitofisionômicas que abrigam diferentes feições geológicas, geomorfológicas e pedológicas. Os domínios naturais e regiões naturais destes biomas florestais diferenciam-se tanto por características físicas quanto bióticas (fitofisionômicas).

Já nos biomas Caatinga, Cerrado, Pantanal e Pampa, de natureza campestre ou savânica, a diferenciação ocorre sobretudo pela geodiversidade. O pesquisador do IBGE Pedro Edson Leal Bezerra explica que os biomas brasileiros não têm uma composição uniforme:

“Todo estudo no recorte dos biomas mostra que os biomas brasileiros não são homogêneos; eles têm uma característica predominante. Digamos, a Amazônia é tipicamente florestal, assim como a Mata Atlântica. Identificamos 97 regiões naturais na Amazônia brasileira, que se agrupam em 16 domínios naturais. Esses domínios são definidos por diferenciações na tipologia da vegetação. Essa mesma floresta se estende das bacias sedimentares para áreas de escudo, que também apresentam diferenciações no relevo e no solos. Dentro de cada domínio, há pequenas variações relacionadas ao relevo e à geologia. O conceito de domínio agrupa uma ou mais regiões naturais”, destaca Pedro.

Bioma Amazônia

O Bioma Amazônia conta com 16 domínios naturais, sendo 15 continentais e 1 costeiro, e 97 regiões naturais. Abriga Florestas Ombrófilas Densas e Abertas, além de Florestas Estacionais Sempre-Verde e Semideciduais, distribuídas sobre planaltos e depressões dos Escudos das Guianas, do Brasil Central e das bacias do Amazonas, Solimões e Parecis, bem como nos Tabuleiros e Planaltos Rebaixados das bacias Alter do Chão e Grajaú, sobre diferentes tipos de solos, como Latossolos e Argissolos. Destacam-se ainda as Campinaranas sobre sedimentos quaternários da Bacia do Içá e as Savanas e Savanas Estépicas da Amazônia Setentrional, nas bacias de Boa Vista e vertentes do Monte Roraima. O sistema costeiro amazônico estende-se do rio Oiapoque ao Golfão Maranhense, abrangendo a foz do Amazonas, a ilha de Marajó e os extensos manguezais do Pará e Maranhão.

Bioma Mata Atlântica

O Bioma Mata Atlântica reúne 10 domínios naturais, sendo 6 continentais e 4 costeiros, e 57 regiões naturais. As Florestas Estacionais Semideciduais cobrem o Escudo Atlântico e os planaltos de Minas Gerais e Bahia, enquanto as Florestas Ombrófilas Densas se distribuem próximo ao litoral sobre os tabuleiros costeiros do Nordeste, estendendo-se à Serra do Mar no Sudeste. As Matas de Araucária predominam nos planaltos basálticos do Sul, e as estepes surgem nos Campos Gerais. O sistema costeiro se estende do Rio Grande do Norte a Santa Catarina, refletindo a variação do relevo e do clima. Inclui dunas, falésias, recifes, deltas e lagunas, com destaque para os estuários de Paranaguá e Ribeira do Iguape, além das planícies lagunares do sul de Santa Catarina até o limite com o Bioma Pampa.

Biomas campestres e savânicos

A Caatinga, o Cerrado e o Pantanal, que formam a chamada Diagonal Seca Sazonal da América do Sul, além do Pampa, apresentam predomínio de vegetação aberta, com variações localizadas de florestas úmidas.

A Caatinga, com 8 domínios e 35 regiões naturais, é dominada por Savana-Estépica, que reveste solos rasos e pedregosos das depressões sertanejas, planaltos e tabuleiros pré-litorâneos. Possui áreas de transição com Mata Atlântica e Cerrado e paisagens úmidas de exceção nas Chapadas Diamantina e Araripe. O sistema costeiro semiárido destaca-se pelas dunas e deltas, como no litoral do Ceará e Rio Grande do Norte.

O Cerrado é caracterizado por Savana sobre relevos elaborados em rochas do Escudo Atlântico e sobre bacias sedimentares, cobrindo extensas áreas de Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Inclui o Planalto Central, as Chapadas dos Veadeiros, Parnaíba, Guimarães, dos Gerais e dos Parecis, a Serra da Canastra e os Planaltos Meridionais, além de planícies aluviais como a Ilha do Bananal. O sistema costeiro abriga os Lençóis Maranhenses e o Delta do Parnaíba.

O Pantanal forma-se nas planícies de leques aluviais do Pantanal Mato-grossense, com predominância de Savana e áreas de contato com Florestas Estacionais e Savana Estépica, apontando transição para o Bioma Chaco.

O Pampa é revestido por Estepes sobre rochas da Bacia do Paraná e compreende a Depressão Central, bordejada a oeste pelos planaltos da Campanha e das Missões. A oeste, as estepes estendem-se sobre os planaltos residuais do Escudo Sul-rio-grandense. O sistema costeiro apresenta a ampla Planície Lagunar das lagoas dos Patos e Mirim, com dunas e restingas.