Censo Agro ultrapassa 4 milhões de propriedades e entra no último mês
05/02/2018 09h00 | Atualizado em 24/01/2019 11h24
Com a chegada de fevereiro, o Censo Agro 2017 entra no seu último mês de coleta de informações em todo o Brasil. Antes mesmo de terminar, a coleta já deixa um grande aprendizado para cada um dos envolvidos, principalmente para os cerca de 19 mil recenseadores que, ao final dos cinco meses da operação, terão varrido o país, das áreas indígenas remotas do Norte aos pampas do extremo Sul, das fazendas de mariscos do litoral à caatinga do sertão, dos assentamentos rurais às grandes propriedades do agronegócio.
Por todo o país, já foram recenseadas mais de 4,4 milhões de propriedades, cerca de 84% do número de estabelecimentos existentes no país inicialmente estimado pelo IBGE. Em três estados, inclusive, a previsão já foi superada: Amapá (159,3%), Distrito Federal (124,6%) e Espírito Santo (104,6%), locais em que foram encontradas novas propriedades.
Na Bahia, estado com maior número de propriedades agropecuárias, o ritmo também é acelerado. Com mais de 600 mil estabelecimentos agropecuários visitados até o começo de fevereiro, aproximadamente 83% do total estimado, os cerca de três mil recenseadores baianos têm muitas histórias marcantes para contar e guardar na memória como experiências únicas.
Acompanhamento da coleta do Censo Agro 2017
Unidade Federativa | % | Recenseados | Total estimado |
BRASIL | 84.0 | 4.411.856 | 5.251.918 |
ACRE | 93.5 | 27.955 | 29.887 |
ALAGOAS | 68.3 | 87.593 | 128.325 |
AMAZONAS | 83.0 | 67.541 | 81.361 |
AMAPÁ | 159.3 | 5.663 | 3.555 |
BAHIA | 83.3 | 638.799 | 766.516 |
CEARÁ | 85.4 | 327.669 | 383.902 |
DISTRITO FEDERAL | 124.6 | 5.096 | 4.090 |
ESPIRITO SANTO | 104.6 | 89.175 | 85.214 |
GOIÁS | 94.0 | 131.084 | 139.427 |
MARANHÃO | 69.1 | 199.755 | 289.085 |
MINAS GERAIS | 97.9 | 544.939 | 556.713 |
MATO GROSSO DO SUL | 89.8 | 58.454 | 65.127 |
MATO GROSSO | 80.2 | 93.110 | 116.151 |
PARÁ | 90.2 | 212.946 | 236.141 |
PARAÍBA | 87.2 | 146.262 | 167.761 |
PERNAMBUCO | 81.9 | 253.316 | 309.181 |
PIAUÍ | 91.0 | 225.899 | 248.229 |
PARANÁ | 74.1 | 276.269 | 373.044 |
RIO DE JANEIRO | 95.9 | 56.499 | 58.900 |
RIO GRANDE DO NORTE | 70.3 | 58.716 | 83.526 |
RONDÔNIA | 96.9 | 85.392 | 88.092 |
RORAIMA | 92.1 | 9.812 | 10.653 |
RIO GRANDE DO SUL | 73.3 | 324.688 | 442.751 |
SANTA CATARINA | 90.3 | 176.194 | 195.199 |
SERGIPE | 75.1 | 75.833 | 100.927 |
SÃO PAULO | 79.1 | 183.127 | 231.493 |
TOCANTINS | 88.4 | 50.070 | 56.668 |
Período de referência: 01/10/2017 a 01/02/2018 |
É o caso de Ana Lúcia Costa, recenseadora de Ourolândia, no Norte do estado, para quem o Censo Agro foi uma “escola”. Ela relata como, em um dos setores censitários que concluiu, ela se deu conta de que algo considerado empecilho para o “homem da cidade” é visto como uma verdadeira bênção pelo homem do campo.
Depois de enfrentar “um verdadeiro rali do sertão” no seu primeiro setor, encarando, em cima de uma moto, sol forte e muita areia e poeira, Ana Lúcia entrou no segundo setor, Casa Nova. “Tudo ia bem até me deparar com uma forte chuva, verdadeiro temporal. Quase morri sem nenhum lugar para me abrigar, mesmo assim prossegui”, conta a recenseadora, relatando a dificuldade em conduzir a moto na lama e a preocupação com o Dispositivo Móvel de Coleta (DMC).
“Comecei a reclamar, murmurar pela chuva, sem contar que o DMC em hipótese nenhuma poderia ser molhado, senão perderia todo o trabalho. Embrulhei em sacolas, abriguei e cuidei”, lembra.
Não precisou muito tempo para Ana Lúcia perceber, porém, que o seu aborrecimento diante da chuva não era um sentimento compartilhado naquele lugar. “Percebi o contentamento do povo do sertão [com a chuva], após uma grande estiagem. Os animais fazem a festa, a natureza celebra a vida. Eu, preocupada com futilidades e coisas pequenas, diante da grandeza que a chuva traz. Não tenho propriedade, não planto, mas aprendi, na escola que foi o Censo Agropecuário 2017, que a chuva é uma dádiva do Criador”, reconhece a recenseadora, que também é pedagoga e técnica em enfermagem.
A chuva chegou mesmo em boa hora a Ourolândia, após um longo período de seca, como confirma o coordenador da subárea de Jacobina (região que contempla Ourolândia), Neemias Oliveira. “A experiência mais marcante, para mim, foi testemunhar o sofrimento do agricultor da região, em razão do longo período de estiagem, que traz como consequência a ausência de produção e a dizimação dos rebanhos”, conta.
Produção de sisal predomina em Ourolândia, que já tem 73% dos estabelecimentos recenseados
De 2014 a 2016, a produção de sisal predominava no município de Ourolândia, com uma área colhida estável naquele período (8.500 hectares). Por outro lado, a produção de mandioca teve uma área colhida de 400 ha em 2014 reduzida para 10 ha em 2016, de acordo com a Pesquisa Agrícola Municipal (PAM), do IBGE. Com o Censo Agropecuário, esse retrato da produção agrícola no município será atualizado.
Até o fim de janeiro, a subárea de Jacobina já havia iniciado a coleta em praticamente todos os seus setores censitários (98,7%) e haviam sido visitados 66,2% dos 14.545 estabelecimentos agropecuários que o IBGE esperava encontrar na região.
Neemias conta que se nota a predominância da produção de abóbora e mamona. Além disso, produtores têm apostado na plantação de abacaxi.
Em Ourolândia, os cinco recenseadores já haviam visitado 1.111 estabelecimentos (73,1% do total estimado) até o início de fevereiro, com previsão para finalizar a coleta na primeira quinzena do mês.
Na Bahia, até fevereiro, 22,1% dos 415 municípios recenseados (92, em números absolutos) já haviam ultrapassado ou igualado o total de estabelecimentos agropecuários previstos, e mais da metade dos municípios baianos (53% ou 220 em números absolutos) tinham mais de 80% da coleta realizada.