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Sistema de Indicadores Culturais

Setor cultural ganha empresas, mas perde participação na economia em dez anos

Editoria: Estatísticas Sociais | Irene Gomes | Arte: Licia Rubinstein

12/12/2025 10h00 | Atualizado em 12/12/2025 15h26

  • Destaques

  • Dados das pesquisas estruturais por empresa do IBGE (Pesquisa Industrial Anual – PIA – Empresa, Pesquisa Anual de Comércio – PAC e Pesquisa Anual de Serviços – PAS), mostram que, de 2013 a 2023, a participação das empresas formalmente constituídas (com CNPJ) do setor cultural no total de setores estudados subiu de 8,0% para 8,6%.
  • Já a participação na receita líquida recuou de 7,7% para 5,6% do faturamento total, e, no valor adicionado (VA), a parcela diminuiu de 10,5% para 8,3% do total coberto pela indústria de transformação e empresas do comércio e serviços não financeiros selecionados. Em 2023, o setor cultural tinha receita líquida estimada de R$ 910,6 bilhões e contribuiu para a economia nacional com um valor adicionado de R$ 387,9 bilhões.
  • No curto prazo, houve estabilidade no VA entre 2021 e 2022 (ambas em 8,0%) e tendência de crescimento em 2023 (8,3%).
  • Em 2022, o setor cultural representava 6,8% das empresas, 4,2% dos ocupados e 3,5% dos assalariados, de acordo com as informações do Cadastro Central de Empresas (CEMPRE) do IBGE, uma das fontes do estudo.
  • Pelo CEMPRE, o total de salários pagos no ano foi de R$ 102,8 bilhões, ou 4,5% da massa salarial, o equivalente a um salário médio mensal de R$ 4.658. É um número 31,5% superior à média dos salários (R$ 3.542).
  • Informação inédita no estudo, em 2022, 9,5% dos MEI (1,4 milhão) estavam no setor cultural, com forte concentração em atividades relacionadas à publicidade e também artes visuais e artesanato.
  • Em relação a pessoas em atividades ou ocupações culturais (formais ou informais), em 2024, o setor cultural contava com 5,9 milhões de pessoas, o maior valor da série da Pnad Contínua iniciada em 2014, equivalente a 5,8% do total.
  • Em 2024, o Índice de Preços da Cultura (IPCult) cresceu 2,8%, enquanto IPCA subiu 4,8%. Em média, entre 2020 e 2024, a variação no ano do IPCult foi de 3,1%, contra 5,9% do IPCA.
Em 2024, o setor cultural ocupou 5,9 milhões de pessoas, o equivalente a 5,8% do total, maiores valores da série da Pnad Contínua iniciada em 2014 - Foto: Pexels

De 2013 a 2023, a participação das empresas do setor cultural subiu de 8,0% para 8,6%, considerando o total de setores estudados pelas pesquisas por empresa do IBGE. No entanto, durante o mesmo período, houve redução em receita líquida, que recuou de 7,7% para 5,6% do faturamento total. Esse comportamento também se refletiu no valor adicionado (VA), cuja parcela diminuiu de 10,5% para 8,3% sobre o total coberto pela indústria de transformação e empresas do comércio e serviços não financeiros selecionados.

Por outro lado, no curto prazo, houve estabilidade na participação do VA da cultura na economia entre 2021 e 2022 (ambos em 8,0%) e tendência de crescimento em 2023 (8,3%), com a representatividade do setor cultural no VA crescendo 0,3 p.p. frente aos anos anteriores.

Os dados fazem parte do Sistema de Informações e Indicadores Sociais (SIIC) 2013-2024, divulgado hoje (12) pelo IBGE. O estudo reúne informações sobre o setor cultural de diversas pesquisa do IBGE sobre empresas, ocupação, preços e acesso à cultura, além de outros dados administrativos do governo. Leia também a notícia sobre gastos públicos com cultura. Assista aqui a coletiva online sobre a divulgação.

 

“As informações das pesquisas por empresa do IBGE mostram mudanças estruturais no setor em 10 anos, com ganho de importância em número de empresas em atividades como as ligadas à produção cinematográficas, produção de vídeos e de programas de televisão, ligadas a portais e provedores de na internet, também arquitetura e publicidade. Há perda em setores ligado ao livro, ao comércio de equipamentos de informática e comunicação. Em termos de valor adicionado, a comparação de 2023 com 2013 também mostra mudanças estruturais, com destaque positivo para atividades relacionadas à Internet, software e à publicidade. Há queda de importância para TV aberta, por assinatura, setor editorial e telecomunicações, algumas dessas com grande peso econômico, impactando o VA geral do setor cultural”, destaca Leonardo Athias, coordenador do estudo.

Principais variações na participação do VA das atividades culturais dos Domínios Centrais e Periféricos 

Principais variações na participação do VA das atividades culturais dos Domínios Centrais 2013 2023 Variação 2013-2023
Portais, provedores de conteúdo e outros serviços de informação na internet  0,6% 3,7% 3,1 p.p. ⭡
Outras atividades de telecomunicações 3,5% 4,9% 1,4 p.p. ⭡
Agências e atividades de publicidade 4,7% 5,9% 1,2 p.p. ⭡
Operadoras de televisão por assinatura 4,2% 0,4% 3,8 p.p. ⭣
Atividades de televisão aberta 5,1% 2,9% 2,2 p.p. ⭣
Edição e edição integrada à impressão 3,9% 2,1% 1,8 p.p. ⭣
Principais variações na participação do VA das atividades culturais dos Domínios Periféricos 2013 2023 Variação 2013-2023
Desenvolvimento e licenciamento de programas de computador 13,5% 21,7% 8,2 p.p. ⭡
Tratamento de dados, hospedagem na internet e outros serviços relacionados 4,6% 5,6% 1,0 p.p. ⭡
Telecomunicações por fio, sem fio e por satélite 26,9% 22,5% 4,4 p.p. ⭣

Fonte: IBGE, Pesquisa Industrial Anual - Empresa 2013-2023, Pesquisa Anual do Comércio 2013-2023 e Pesquisa Anual dos Serviços 2013-2023.

Em 2023, o setor cultural registrou uma receita líquida de R$ 910,6 bilhões e destinou R$ 115,9 bilhões a salários, retiradas e outras remunerações. As atividades culturais contribuíram para a economia nacional com um valor adicionado de R$ 387,9 bilhões.

Empresas do setor cultural pagam salários 31,5% maiores

Em 2022, 644,1 mil organizações atuavam nas atividades culturais no país. Essas empresas ocupavam 2,6 milhões de pessoas, sendo que mais de 2/3 delas (66,1% ou 1,7 milhão) eram assalariadas. Assim, o setor cultural representava 6,8% das empresas, 4,2% dos ocupados e 3,5% dos assalariados, de acordo com as informações do Cadastro Central de Empresas (CEMPRE) do IBGE, uma das fontes do estudo.

O CEMPRE possui uma abrangência mais ampla do que a das pesquisas estruturais por empresas, tanto no recorte setorial (atividades específicas) quanto no perfil das empresas contempladas (ativas e enquadradas como entidades empresariais). Devido a mudanças metodológicas nas estatísticas do CEMPRE, a série histórica foi reiniciada em 2022. 

O total de salários pagos no ano foi de R$ 102,8 bilhões, ou 4,5% da massa salarial, o equivalente a um salário médio mensal de R$ 4.658. É um número 31,5% superior à média dos salários (R$ 3.542).

A publicação utiliza uma classificação da Unesco, que divide as atividades culturais em centrais (em que há oito domínios) e periféricas (equipamentos e materiais de apoio). “Os domínios centrais estão mais ligados ao que entendemos de maneira mais espontânea como cultura, como audiovisual, música e livro, design e arquitetura, enquanto os periféricos são mais de apoio, como fabricação e comércio de equipamentos, telecomunicações, que também são necessários para a fruição cultural”, explica Athias. 

A maioria das organizações fazem parte das atividades culturais centrais, enquanto as atividades culturais periféricas ocupavam a maior parte dos assalariados em 2022.  Atividades centrais representavam 67,0% das empresas e 48,1% dos assalariados, e as atividades periféricas eram 33,0% e 51,9% do total, respectivamente.

Em termos de pessoal assalariado, as atividades com maior concentração estavam em Mídias audiovisuais e interativas, com 31,4% dos assalariados nas atividades centrais. Estas também foram responsáveis pelos maiores salários médios nas atividades centrais, R$ 4.987. Os menores salários foram pagos pelas empresas em Educação e capacitação (R$ 2.029). No domínio periférico, Equipamentos e materiais de apoio eram maiores empregadores (51,9%), com os mais altos salários (R$ 5.795).

Setor cultural concentra 9,5% dos Microempreendedores Individuais

Pela primeira vez, o Sistema de Informações e Indicadores Culturais traz uma análise dos Microempreendedores Individuais (MEI) que atuam no setor cultural. Em 2022, 9,5% dos MEI (1,4 milhão) estavam no setor cultural. Sua distribuição por domínios era bem diversa da observada para as empresas do setor cultural do Cempre, com altas participações para Design e serviços criativos (44,9%), que inclui atividades ligadas à publicidade, e Artes visuais e artesanato (13,0%).

 Apesar da maior escolaridade, setor da cultura é mais informal

Em 2024, o setor cultural tinha 5,9 milhões de ocupados, o maior valor da série iniciada em 2014, acompanhando o dinamismo do mercado de trabalho como um todo. Em termos relativos, mantém a proporção de 5,8% observada em 2023, também representando os maiores valores da série da Pnad Contínua.

O perfil das pessoas ocupadas no setor cultural em 2024, na comparação com o total da população ocupada, era de nível de instrução mais elevado (30,1% na cultura x 23,4% no total das atividades com superior completo), mais feminino (47,4% x 43,4%), com mais pessoas de cor ou raça branca (50,2% x 43,2%), ocupadas como conta própria (43,0% x 25,2%) e em ocupações informais (44,6% x 40,6%).

O rendimento médio real habitual do trabalho principal da população ocupada em atividades culturais foi de R$ 3.266 por mês, em 2024, e R$ 3.331, em 2023, mostrando uma retração de 2,0%, levando em conta a inflação. Ao mesmo tempo, entre 2023 e 2024, o rendimento do trabalho principal como um todo cresceu 3,5%, chegando a R$ 3.108 em 2024. Com isso, a diferença entre cultura e o total da economia passou de 11,0% em favor da cultura para 5,1% nos dois últimos anos.

“Esse comportamento pode ser explicado pela dinâmica de alocação das pessoas entre ocupações e atividades de um ano para o outro, com crescimento a partir de setores com menor remuneração como educação e alojamento e alimentação”, observa Athias. 

Pela primeira vez, o estudo fez uma análise das principais atividades e ocupações dentro do setor cultural. Publicidade (8,3% do setor cultural em 2024) ganha importância na proporção de ocupados no setor cultural desde o início da série, passando da sétima posição em 2014 para a primeira em 2024. Telecomunicações (7,6%) cai da primeira para a segunda e Confecção (6,2%) sobe da décima para a terceira posição.

Além disso, os maiores níveis de informalidade em 2024 foram encontrados em Fabricação de artefatos têxteis, exceto vestuário (80,8%), Fabricação de produtos de madeira, cortiça e material trançado, exceto móveis (78,2%), Confecção, sob medida, de artigos do vestuário (74,2%).

Em 2024, IPCult cresce 2,8%, enquanto IPCA sobe 4,8%

O Índice de Preços da Cultura (IPCult) acompanha os valores de uma cesta de bens e serviços do setor. A série desse indicador começa em 2020, com 30 subitens culturais reunidos em seis grupos.

Desde 2020, o IPCult teve variações consistentemente menores do que o IPCA, sendo de 2,8% em 2024, contra 4,8% para o IPCA. Em média, entre 2020 e 2024, a variação no ano do IPCult foi de 3,1%, contra 5,9% do IPCA. A diferença entre os dois índices mostrou-se mais aguda em 2021 (6,6 p.p.) e 2022 (4,3 p.p.), com menores diferenças em 2023 (1,6 p.p.) e 2024 (2,0 p.p.).

Na cesta nacional, o IPCult respondia por 9,1% do IPCA em 2020, diminuindo ano a ano até chegar a 7,9% em 2024, o que traduz a diferença na evolução das variações dos subitens que compõem cada um desses índices.

Regionalmente, as maiores variações de preços do IPCult entre 2020 e 2024 foram nas regiões metropolitanas de Belo Horizonte (MG), com 3,8%, São Paulo (SP), com 3,5%, e Porto Alegre (RS), com 3,2%. Os menores crescimentos estiveram no município de São Luís (MA), com 2,1%, e seguiram empatados, com 2,3%, os municípios de Rio Branco (AC), Campo Grande (MS), além da Região Metropolitana de Belém (PA).

Mais sobre a pesquisa

O Sistema de Informações e Indicadores Culturais - SIIC visa desenvolver uma base consistente e contínua de informações sobre o setor cultural e construir indicadores relacionados ao tema. Em sua sétima edição, além de atualizar e aprofundar temas (como turismo e uma nova abordagem para despesas públicas), o estudo inova ao explorar o comércio exterior de bens e serviços culturais, dados sobre os Microempreendedores Individuais - MEI no setor cultural e, com dados do Censo Demográfico 2022, traz informação relativa à ocupação no setor cultural e à formação superior relacionada à cultura no nível dos municípios.