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PNAD Contínua

Norte e Nordeste puxam desocupação recorde no primeiro trimestre no país

Editoria: Estatísticas Sociais | Umberlândia Cabral

27/05/2021 09h00 | Atualizado em 27/05/2021 12h08

  • Destaques

  • No Norte, a taxa de desocupação passou de 12,4%, no último trimestre de 2020, para 14,8%. No Nordeste, de 17,2% para 18,6%. Nas duas regiões, as taxas são as maiores desde 2012.
  • O desemprego nas demais regiões ficou estável.
  • O aumento na taxa de desocupação foi registrado por oito unidades da federação, em 12, o índice foi recorde.
  • A taxa de informalidade ficou em 53,3% no Nordeste e em 55,6% no Norte. Foram as únicas regiões que registraram taxa acima da média nacional (39,6%).
  • O nível de ocupação foi maior no Sul (54,3%) e no Centro-Oeste (54,2%). E menor, no Nordeste (40,9%).
  • A taxa de desocupação entre os brancos (11,9%) é menor do que as dos pretos (18,6%) e pardos (16,9%).
  • No primeiro trimestre de 2021, a taxa de desocupação foi de 12,2% para os homens e 17,9% para as mulheres.
  • Entre os jovens de 18 a 24 anos, a taxa de desocupação (31,0%) foi bem mais alta do que a média nacional (14,7%).
Taxa de desocupação da população preta (18,6%) é maior do que a dos brancos (11,9%) - Foto: Jader Paes/Agência Pará

A taxa recorde de desocupação de 14,7% no país foi puxada por duas das grandes regiões: Norte, que passou de 12,4%, no último trimestre de 2020, para 14,8%, no primeiro trimestre de 2021, e Nordeste, em que o indicador foi de 17,2% para 18,6%. Em ambas as regiões, é a maior taxa já registrada desde 2012. Nas demais, o cenário é de estabilidade em relação ao quarto trimestre do ano passado. Os dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua, divulgada hoje (27) pelo IBGE.

“Norte e Nordeste tiveram aumento significativo da procura por trabalho no primeiro trimestre de 2021, elevando a taxa de desocupação nessas duas regiões. Nas outras regiões, o cenário foi de estabilidade na desocupação e na ocupação na comparação trimestral”, explica a analista da pesquisa, Adriana Beringuy. Apesar de permanecer estável, a taxa de desocupação no Sudeste é maior do que a do Norte: 15,2%.

De acordo com Beringuy, o aumento na procura por trabalho já era esperado em razão da sazonalidade: no fim do ano, há contratações temporárias e, no início do ano, há a dispensa dos empregados. “Analisando a nossa série histórica, no nível nacional, é possível verificar esse comportamento sazonal no início de cada ano, que é a expansão da população desocupada. Isso faz com que a taxa de desocupação cresça, principalmente, no primeiro trimestre”, explica.

Com esse aumento, o número de desempregados no Norte chega a 1,2 milhão, aumento de 187 mil pessoas frente ao último trimestre de 2020. No Nordeste, houve acréscimo de 370 mil pessoas, totalizando, agora, 4,4 milhões de pessoas à procura de emprego. Entre as unidades da federação, oito tiveram aumento na taxa de desocupação na comparação trimestral e, em 12 delas, o percentual é recorde. Pernambuco e Bahia se destacaram com a taxa de 21,3%.

 

Além do aumento no desemprego, Norte e Nordeste têm outra característica frente a outras regiões: a informalidade. Entre as pessoas ocupadas do país, 75,3% dos empregados do setor privado tinham carteira de trabalho assinada no primeiro trimestre de 2021. Mas tanto o Norte (60,3%) quanto o Nordeste (59,0%) apresentavam percentuais menores do que a média nacional.

“Historicamente, o Nordeste e o Norte têm grandes quantitativos de trabalhadores informais. São regiões onde há menos presença de atividades econômicas com contratação de emprego por meio da carteira de trabalho, por exemplo, e boa parte dos trabalhadores são ocupados no comércio, em serviços mais informais. É uma característica econômica dessas regiões, onde há uma inserção mais precária dos trabalhadores, fazendo com que essa mão de obra informal seja mais preponderante na composição dos ocupados”, diz Beringuy.

A taxa de informalidade foi estimada em 53,3% no Nordeste e 55,6% no Norte, as únicas regiões que ficaram acima da média nacional (39,6%). Dos 34 milhões de trabalhadores informais do país, 10,2 milhões estão no Nordeste e 3,4 milhões, no Norte. Entre as unidades da federação, a maior taxa de informalidade foi estimada no Maranhão: 61,6%. “As dez maiores taxas de informalidade do país são encontradas em estados no Norte e Nordeste do país. Já as cinco menores taxas estão no Sul, Sudeste e Centro-Oeste”, ressalta a pesquisadora.

O nível da ocupação no país foi estimado em 48,4%, ou seja, menos da metade das pessoas em idade de trabalhar estão ocupadas. Houve diferenças nesse indicador em cada região: Sul (54,3%) e Centro-Oeste (54,2%) são as que têm os maiores percentuais. Já o Nordeste tem o menor (40,9%).

Desemprego é maior entre pretos e pardos

A taxa de desocupação entre os brancos (11,9%), no primeiro trimestre de 2021, ficou abaixo da média nacional (14,7%), enquanto as dos pretos (18,6%) e pardos (16,9%) ficaram acima. No primeiro trimestre de 2012, início da série histórica da PNAD Contínua, a taxa de desocupação entre os pretos era de 9,7%, a dos pardos correspondia a 9,1% e a dos brancos, 6,6%. À época, a taxa média de desocupação no país foi estimada em 7,9%.

 

Para Beringuy, os números são reflexo de um problema estrutural. “No primeiro trimestre de 2012, a taxa de desocupação da pessoa parda era 37,9% maior do que a de uma pessoa branca. Essa diferença, no primeiro trimestre de 2021, é de 42%. A pesquisa já registrou diferença superior a essa. Em relação à população de cor preta, a diferença é maior. A taxa de desocupação de uma pessoa preta é 56,3% maior do que o de uma pessoa branca. Assim como a da população parda, essa não é a maior diferença registrada. A maior foi no ano passado, no auge da pandemia. É um problema estrutural, que muitas vezes se agrava em momentos de crise do mercado de trabalho”, diz a analista.

Mulheres são minoria entre os ocupados

Apesar de serem maioria na população em idade de trabalhar, as mulheres são minoria entre as pessoas ocupadas (43,3%). No primeiro trimestre deste ano, a taxa de desocupação foi de 12,2% para os homens e 17,9% para as mulheres. Elas também representavam 54,5% da população que está em busca de emprego.

“A taxa de desocupação aumentou durante o período da pandemia para toda a população. O que percebemos a partir do segundo trimestre de 2020 foi um crescimento muito acentuado da diferença na taxa de desocupação entre homens e mulheres. A taxa de desocupação da mulher é 46,7% maior do que a do homem e, nesse último trimestre, a taxa cresceu mais entre as mulheres do que entre os homens, mostrando que ainda entre as mulheres o avanço da desocupação está sendo mais intenso”, explica Adriana Beringuy.

A pesquisadora destaca algumas características que podem ser observadas no mercado de trabalho em relação à diferença entre homens e mulheres. Uma delas é a forma de inserção. “Elas são maioria na desocupação, embora tenham escolaridade, em média, maior do que a dos homens. Isso tem a ver a com a forma que as mulheres estão conseguindo se inserir. Muitas têm ocupações temporárias, então elas têm maior rotatividade no mercado de trabalho. Muitas conseguem emprego, mas têm que sair para cuidar dos filhos ou de outros membros da família, gerando uma rotatividade ou pequena permanência no trabalho, o que faz com que, muitas vezes, elas estejam tentando se reinserir e constantemente pressionando o mercado de trabalho. Além desse aspecto, a atual crise no mercado de trabalho pode estar acentuando a desocupação entre as mulheres”, diz a analista.

Desemprego atinge grupos mais jovens

A taxa de desocupação entre os jovens de 18 a 24 anos (31,0%) também foi mais alta do que a média nacional (14,7%). Entre as pessoas desocupadas, esse grupo etário representa 29,0%. A maior parcela, no primeiro trimestre de 2021, era composta de adultos entre 25 a 39 anos (34,6%).

“Os jovens, de modo geral, são pessoas que já têm uma dificuldade em acessar o mercado de trabalho. E nesse momento, além dessas dificuldades inerentes a esse grupo etário, que são a falta de experiência e a não qualificação completa, há a crise atual de demanda por trabalho que está ocorrendo no mercado brasileiro. Ou seja, não há geração de ocupação que permita a absorção desses trabalhadores”, pontua a pesquisadora.

Na comparação com o primeiro trimestre de 2020, a participação dos grupos de idade entre 40 e 59 anos e de 60 anos ou mais aumentou entre os ocupados. Nesse período, o grupo entre 40 a 59 anos passou de 41,1% para 44,1%. Já as pessoas com 60 anos ou mais passaram a representar 8,9% da população ocupada do país. No primeiro trimestre de 2020, essa participação era de 8,3%.

Mais sobre a pesquisa

A PNAD Contínua é o principal instrumento para monitoramento da força de trabalho no país. A amostra da pesquisa por trimestre no Brasil corresponde a 211 mil domicílios pesquisados. Cerca de dois mil entrevistadores trabalham na pesquisa, em 26 estados e Distrito Federal, integrados à rede de coleta de mais de 500 agências do IBGE.

Em função da pandemia de Covid-19, o IBGE implementou a coleta de informações da pesquisa por telefone desde 17 de março de 2020. É possível confirmar a identidade do entrevistador no site Respondendo ao IBGE ou via Central de atendimento (0800 721 8181), conferindo a matrícula, RG ou CPF do entrevistador, dados que podem ser solicitados pelo informante.