Síntese de Indicadores Sociais
Homens pretos e pardos morreram mais de Covid do que brancos em 2020
03/12/2021 10h00 | Atualizado em 28/01/2022 14h55
No ano passado, a Covid-19 foi a causa da morte notificada de 209,7 mil pessoas no país, sendo 200,6 mortes registradas com cor ou raça. Desse total, foram identificadas 101,9 mil pessoas brancas e 98,7 mil, pretas ou pardas. No entanto, homens pretos e pardos morreram mais da doença, no primeiro ano da pandemia, do que homens brancos. Já entre as mulheres, houve um maior número de vítimas brancas.
Os dados preliminares são do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), do Ministério da Saúde, disponíveis na Síntese dos Indicadores Sociais (SIS), divulgada hoje (3) pelo IBGE.
Em todas as idades, homens pretos e pardos foram as principais vítimas da Covid-19 (28,7% das pessoas com identificação de cor ou raça), morreram mais que os brancos (28,4%). Por outro lado, ocorreram mais mortes de mulheres brancas (22,4%) do que pretas e pardas (20,4%). Essa diferença entre homens e mulheres por cor ou raça se deve a sub-representação de pretos e pardos na faixa etária dos 70 anos ou mais, em razão da menor esperança de vida desse grupo social e pela maior mortalidade por covid entre os idosos.
Em todas as faixas de idade de zero a 69 anos pessoas pretas e pardas morreram mais do que as brancas por Covid-19. Na faixa dos 70 ou mais, isso se inverte, a população branca teve o percentual de mortes mais elevado que pretos ou pardos.
“O perfil da pirâmide de pessoas vivas com 70 anos ou mais tem uma concentração maior de mulheres. A diferença entre homens e mulheres está relacionada ao estilo de vida. Embora isso venha mudando, mulheres ainda cuidam mais da saúde do que homens. Buscam mais, ao longo da vida, serviços médicos, então isso faz uma diferença para chegar à idade idosa”, explica o analista da pesquisa, Leonardo Athias.
Em 2020, a população idosa, de 60 anos ou mais, foi a maior vítima fatal da doença. Das 200,6 mil mortes por Covid-19 com idade identificada, 76,9% (154,4mil) foram de pessoas nessa faixa de idade. Entre os idosos, também morreram mais homens pela doença do que mulheres. Mas quando se observa a cor ou raça dos óbitos, o percentual foi maior em idosos brancos (41,0%) do que pretos e pardos (35,9%), também destacando a sub-representação de pretos ou pardos nesse grupo.
“A variação do número de óbitos está relacionada ao estilo de vida individual e às condições de vida de grupos sociais. Pretos e pardos têm menor acesso à serviços de saúde e, portanto, menores condições de prevenção, diagnóstico e tratamento de doenças. As mortes por violência e acidentes são maiores nesse grupo, sobretudo entre homens. Tudo isso causa uma maior mortalidade entre pretos e pardos. A Covid-19 atingiu mais a população idosa, mais branca, mas mesmo isso não impediu que morressem mais homens pretos ou pardos, o que evidencia o menor acesso a tratamento”, acrescenta o analista do IBGE.
Número de óbitos cresceu 15,0% no primeiro ano da pandemia
Os dados de mortalidade disponíveis na SIS mostram ainda que, em 2020, o número total de mortes cresceu 15,0% no país, em relação a 2019, totalizando 1,6 milhão de óbitos. Antes disso, entre 2010 e 2019, o crescimento médio anual das mortes era de 1,9%.
As principais causas de óbitos em 2019 foram por doenças do aparelho circulatório (27,0%) e neoplasias (tumores), com 17,4% dos casos. Em 2020, as doenças do aparelho circulatório continuaram como a principal causa de morte no país (22,8%), mas o segundo lugar passou a ser ocupado pelas doenças infecciosas e parasitárias, com 17% do total de óbitos, capítulo da Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID-10) em que está a infecção por coronavírus. No ano anterior, somente 4,2% das mortes estavam relacionadas às doenças infecciosas e parasitárias.
A análise das causas de óbitos por grupos de idade mostra que causas externas (agressões e violências) foram o principal motivo de morte entre pessoas com até 49 anos, equivalendo, em 2020, a 94,6 mil mortes.
Entre 50 e 69 anos, as causas principais foram neoplasias (tumores), 95,0 mil, e doenças do aparelho circulatório (como infarto e AVC), 109 mil.
A partir dos 70 anos, foram mais frequentes mortes por doenças no aparelho respiratório (101,6 mil). A evolução das doenças infecciosas e parasitárias foi significativa comparando 2019 e 2020, pois também inclui a infecção por coronavírus.
“As causas de óbitos permitem apontar riscos e problemas de saúde mais frequentes na população e a efetividade das ações preventivas das complicações de doenças. Com essas informações, pode-se reduzir as diferenças na distribuição da ocorrência de óbitos no território e entre grupo sociais, de tal forma que políticas públicas possam levar a que grupos mais vulneráveis obtenham padrões de saúde já alcançados por outros grupos”, conclui Leonardo Athias.