Nossos serviços estão apresentando instabilidade no momento. Algumas informações podem não estar disponíveis.

Expedição

MIssão cumprida: participação do IBGE na VI Expedição do Baixo São Francisco aproxima Instituto da população ribeirinha

Editoria: IBGE | Heitor Montes (SES/BA) e Nathalia Leal (SES/AL)

08/12/2023 15h00 | Atualizado em 26/01/2024 10h26

Embarcação no Rio São Francisco - Foto: Acervo IBGE

Eram 6h30 da manhã, mas o sol já brilhava com força no céu. As buzinas das embarcações Magnífica e Maravilhosa indicavam que a partida se aproximava: era o primeiro deslocamento da VI Expedição Científica do Baixo São Francisco. Naquele momento, estávamos deixando Piranhas, e indo até o município de Pão de Açúcar.

E foi assim em todas as manhãs. Bem cedo, os barcos partiam rumo ao próximo porto levando professores/as, pesquisadores/as e, claro, o IBGE

A sexta edição da Expedição Científica do Baixo São Francisco, organizada pela Universidade Federal de Alagoas (UFAL), que ocorreu entre os dias 21 e 30 de novembro, foi a primeira com a participação do Instituto, que acompanhou as atividades nos municípios ribeirinhos dos estados de Alagoas e Sergipe.

Após a abertura em Piranhas, a Expedição passou pelas cidades de Pão de Açúcar, Traipu, São Brás, Propriá (único município sergipano), Igreja Nova, Penedo e Piaçabuçu, onde está localizada a foz do Rio São Francisco.

A chegada da Expedição nas cidades era um acontecimento: com bandas locais, apresentações de estudantes, discursos de autoridades, e até queima de fogos.

E logo dava-se início aos trabalhos.

Os representantes do IBGE e as doações de livros para os municípios

A expedição contou com cerca de 100 pessoas, entre pessoal embarcado e apoio em terra, representando 35 instituições. Os servidores Silvânia Vila Nova e Vinícius Andrade, das Superintendências do IBGE em Alagoas e Sergipe, respectivamente, foram os representantes do Instituto nessa aventura, passando todo o período da Expedição embarcados. Mas o desafio não os desanimou, muito pelo contrário: “Dormir na rede foi até melhor para a minha coluna”, brincou Silvânia.

E durante todos os dias, a palavra “cansaço” não fez parte do vocabulário dos dois, nem de Otávio Valentim, Magali Andrade e Hellie Mansur, que os acompanharam por terra, dando suporte para as apresentações do Instituto.

Para cada município participante da Expedição, o IBGE realizou a doação de duas caixas com kits destinados às bibliotecas escolares das Secretarias Municipais de Educação. Ao todo, foram doados cerca de 720 livros institucionais, entre Atlas Escolares, Brasil em Números e Nas Lentes do Recenseador

Além destes, foram distribuídos para gestores, estudantes, pesquisadores e população geral aproximadamente 1.000 exemplares do livro “Perfil Socioeconômico Municipal e Aspectos Geoambientais do Baixo São Francisco”, organizado por Neison Cabral, pesquisador e supervisor da Seção de Disseminação de Informações (SDI) do IBGE de Alagoas, e Rose Mary Gomes, assessora de comunicação da UFAL.

O livro é acompanhado pelo mapa base da bacia hidrográfica da região, onde são retratados todos os seus 93 municípios e foi lançado no evento de abertura da Expedição, em Piranhas.

“Esse material é um recurso muito importante, já que pode ser utilizado pelo professor em sala para dinamizar as aulas e trazer mais interação dos alunos, fazendo com que eles conheçam melhor a sua realidade e a geografia do lugar onde eles vivem”, declarou Pedro Henrique Lira, Técnico de Ciências da Secretaria de Educação do município de Traipu

A participação do IBGE na VI Expedição do Baixo São Francisco também foi celebrada pelos pesquisadores que fizeram parte dela. 

Para as crianças também foram distribuídos 3.000 folders-mapa do IBGE Educa, produzidos especialmente para a ocasião, que apresentavam informações e fotos da região. “As apresentações do IBGE Educa têm sido um grande chamariz da Expedição, pois as crianças têm bastante curiosidade de conhecer mais sobre o local onde vivem”, disse o professor José Vieira, da UFAL, ressaltando a aceitação e a boa reputação do Instituto.

Além da participação na Expedição, a importância dos dados das pesquisas do IBGE também foi destacada pelos pesquisadores participantes. Professora do Instituto de Química e Biotecnologia da UFAL, Tatiane Balliano disse que os dados do Censo são fundamentais para a sua pesquisa sobre caracterização da edificação de microplásticos: “A correlação dos dados do Censo com esses que nós coletamos é muito importante, porque nós precisamos entender a coerência da quantidade de poluentes, em relação ao tamanho da população das cidades”.

Chegada dos barcos (Propriá). Foto: Acervo IBGE
Barcos recepcionam equipe da Expedição no Povoado Chinaré. Foto: Acervo IBGE
Crianças leem material do IBGE (Pão de Açúcar). Foto: Acervo IBGE
Entrega de Kits para a Secretaria de Educação (Pão de Açúcar). Foto: Acervo IBGE
Palestra na CODEVASF. Foto: Acervo IBGE
Parte da equipe da SES-AL e SES-SE no último dia da expedição. Foto: Acervo IBGE
Silvânia e Otávio em aldeia Aconã (São Brás). Foto: Acervo IBGE
Silvânia mostra o mapa do Baixo São Francisco aos Kariri-Xocó. Foto: Acervo IBGE

As apresentações do IBGE Educa Offline

Após um dia intenso de trabalhos em Pão de Açúcar, o servidor ibgeano Otávio Valentim já estava na viatura oficial, pronto para partir para a cidade de Traipu, onde ocorreriam as atividades da Expedição no dia seguinte. Nesse momento, três crianças se aproximaram dele, pedindo para que gravasse um vídeo.

Os três estudantes haviam acabado de participar das atividades do IBGE Educa Offline na cidade e queriam falar, orgulhosos, do que eles haviam aprendido: “Vendo esse evento, eu pude aprender o que é o IBGE e o que ele faz. Todo ano, ele vai na sua casa contando quanta gente mora lá”, afirmou um deles.

A Superintendência do IBGE em Alagoas (SES/AL) adaptou a plataforma IBGE Educa, disponível online, para que ela pudesse ser utilizada sem a necessidade de internet nas escolas. As atividades são feitas com o auxílio de um projetor, tela de lona, e notebook. Diariamente, os servidores do IBGE enfrentaram temperaturas próximas dos 40ºC para realizar, em ginásios e escolas municipais, apresentações aos estudantes do Ensino Fundamental sobre a plataforma IBGE Educa Offline.

Nessas atividades, Silvânia e Vinícius mostravam aos alunos as funcionalidades da plataforma, através de informações sobre o Censo e outras pesquisas do IBGE com dados municipais, como a Produção Agrícola Municipal (PAM) e a Pesquisa da Pecuária Municipal (PPM).

A inserção de informações locais nessas apresentações do IBGE Educa, tais como produção da psicultura e pecuária, além dos dados sobre população, específicos para cada cidade, auxilia as crianças na territorialização do próprio conhecimento. Não raro, uma delas comentava, empolgada, durante as apresentações: “meu pai é pescador”, “minha tia planta milho”, “meu tio tem um sítio com vinte vacas”, “eu já vi ovelhas!”.

Porém, o que mais empolgava as crianças eram os jogos lúdicos, como o Quebra-Cabeça de Mapas, no qual eles tentavam montar o Brasil, através da identificação das unidades da federação, o que proporcionou momentos de muita interação e diversão. Era também o momento em que as crianças podiam levantar e participar de modo mais ativo, abandonando o modelo tradicional de apresentação sentada.

Um dos encontros da Expedição se tornou uma parceria valiosa. O IBGE contou com o apoio de Willian Soares, o Will, professor e contador de histórias, que também era integrante do evento organizado pela UFAL. Munido de seu inconfundível chapéu que imita uma embarcação, e do talento de encantar as crianças com as narrativas, Will entreteve os estudantes contando histórias sobre o Rio São Francisco antes de cada apresentação do IBGE Educa.

“Compor a equipe do IBGE foi uma experiência fantástica e que é inovadora para a própria instituição. Com o projeto IBGE Educa Offline, eu acredito que a gente está democratizando o acesso aos dados das diferentes pesquisas do Instituto”, declarou Silvânia, celebrando a participação na Expedição.

Rodada de palestras sobre os dados do IBGE

Foram múltiplas as frentes de trabalho do Instituto durante a VI Expedição. Em Penedo, para o público gestor e acadêmico, foi apresentada palestra sobre as principais ferramentas de acesso aos dados do IBGE, com oficina de construção de mapas, ministrada pelos servidores Neison Freire e Silvânia Vila Nova, no auditório da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (CODEVASF).

Já os estudantes dos cursos de Turismo, Engenharia de Pesca, Engenharia de Produção e Tecnologia da Informação da UFAL, puderam participar da palestra ministrada pelos servidores Alcides Tenório Jr. (Superintendente do IBGE em Alagoas), Alcides Bruno de Oliveira (chefe da Agência Penedo) e Neison Freire (Chefe da Supervisão de Disseminação de Informações). Nela, os servidores apresentaram os dados de idade e população do Censo 2022, os processos de controle e coleta da operação censitária, e também fizeram um breve panorama dos produtos lançados pelo Instituto durante a Expedição. Além disso, abordam as possíveis articulações entre os dados do IBGE e a universidade.

“A palestra foi de suma importância para os nossos alunos, para que eles entendam os desafios que o IBGE tem para coletar esses dados e fazer essa operação censitária, e também para que vejam essa realidade, esse raio-x do estado, da população”, afirmou o professor Alfredo Mojica, do curso de Engenharia de Pesca da UFAL.

Mojica, que também é integrante da Expedição, destacou ainda o papel dos dados do IBGE na elaboração de políticas públicas e pesquisas acadêmicas. “Estamos com um trabalho de desenvolver a piscicultura no estado. São dados importantes que nos orientam e nos guiam para que a gente possa desenvolver a cadeia produtiva na região e contribuir com o Baixo São Francisco”, ressaltou.

IBGE faz apresentação para escolas estrangeiras durante a Expedição

Um dos momentos mais curiosos durante a Expedição foi a apresentação dos dados do IBGE para crianças estrangeiras, em transmissão online e em conjunto com outros pesquisadores, diretamente da embarcação-laboratório Magnífica. A iniciativa foi feita em parceria com a Exploring By the Seat of Your Pants, organização que transmite expedições e eventos científicos ao redor do mundo, para crianças de escolas do Canadá, Estados Unidos, Reino Unido e Austrália. Representando o IBGE, o servidor Neison Freire trouxe informações sobre as características do Baixo São Francisco e dados das pesquisas do Instituto. A interação contou com perguntas de crianças e professores de sete escolas americanas e canadenses e, depois de gravada, a aula foi redistribuída para 100 mil salas de aula, entre os países abarcados pela organização

IBGE em campo: uma expedição, muitos percursos, povos, paisagens e lembranças

Rio São Francisco / Milionário vestido farrapos / Farrapos de velas imensas que arrastam barcaças / Sonolentas, bem lentas / Rio acima, rio abaixo”, canta o poeta pernambucano Jesuíno Antônio Dávila.

Foram 240km percorridospela Expedição durante dez dias. Do sertão, onde o Rio encontra a caatinga e a hidrelétrica de Xingó, em Piranhas; até a foz, onde as águas do São Francisco buscam, por fim, o mar.

A participação do IBGE na VI Expedição Científica do Baixo São Francisco, nos estados de AL e SE, foi marcada pela multiplicidade: diversas as atividades realizadas, povos visitados, paisagens vistas, expressões culturais e saberes trocados, num retrato tão múltiplo quanto é o próprio Brasil.

O início, em Piranhas, trouxe o primeiro contato com a caatinga, único bioma exclusivamente brasileiro, símbolo do sertão nordestino, e que é alimentado também pela força das águas do Velho Chico. Em Pão de Açúcar, o tradicional folguedo da Chegança, que representa façanhas marítimas, recepcionou os expedicionários. Na cidade de São Brás, os povos indígenas da Aldeia Aconã foram apresentados aos dados do IBGE, dentro de seu próprio território. O mesmo ocorreu em Porto Real do Colégio, com encontro dos indígenas da etnia Kariri-Xocó.

Foi no povoado Chinaré, em Igreja Nova (AL), contudo, que aconteceu um dos eventos mais marcantes. A população acompanhou, em seus barcos, o deslocamento das embarcações Magnífica e Maravilhosa até a sua chegada em terra. Já na cidade, a apresentação do Guerreiro, folguedo que é patrimônio imaterial de Alagoas. E, mais uma vez, é claro, o Instituto esteve nas escolas, com o IBGE Educa Offline.

O encontro com as comunidades tradicionais trouxe ainda os quilombolas. A servidora Silvânia Vila Nova (SDI/AL) visitou o povoado Pixaim, na cidade de Piaçabuçu, próximo à Foz do Rio São Francisco. Lá, povos remanescentes de quilombos vivem de modo isolado e seminômade, se deslocando de tempos em tempos entre as dunas de areia, que continuamente afetam a paisagem. São os chamados “morros vivos” do Pixaim. E, lá, os quilombolas também receberam o IBGE – antes, nas operações do Censo; agora, na Expedição, com os resultados. As comunidades Tabuleiro dos Negros (Penedo) e Sapé (Igreja Nova), ambas em alagoas, também foram visitadas ao longo da Expedição.

“A participação do IBGE nesse tipo de evento, pra mim, é muito significativa. (...) Às vezes, a universidade faz esse tipo de evento, uma expedição como essa, que coleta dados, mas fica muito presa ao campo universitário. E quando você traz o IBGE pra dentro disso, você está trazendo o Brasil. Você está trazendo os tentáculos que levam todas as informações do Brasil para o povo”, afirmou o professor Raul Rodrigues, da Rádio Penedo FM, onde representantes do instituto participaram de uma conversa ao vivo por mais de 2 horas.

Trazer o Brasil e, principalmente, trazer o Baixo São Francisco para perto do IBGE foi um dos grandes motes da participação do Instituto na VI Expedição Científica, em parceria com UFAL. A colaboração, além de promover diversas atividades de disseminação de conhecimento e contribuir com distribuição de material educacional, também visou fortalecer a imagem institucional, mostrando que o IBGE está sempre presente em campo, muito além do Censo, e que é essencial para a formulação de políticas públicas e formação cidadã.

Durante esses 240km percorridos, e oito cidades, os servidores das SES/AL, SES/SE e SES/BA uniram esforços para concretizar a missão institucional que norteia os ibegeanos: “retratar o Brasil com informações necessárias ao conhecimento de sua realidade e ao exercício da cidadania" - só que, agora, in loco (no próprio lugar), se aproximando da população ribeirinha.

A semente plantada pelos expedicionários ibgeanos segue repercutindo, mesmo após o término da Expedição: no território quilombola Tabuleiro dos Negros, em Penedo (AL), crianças da comunidade já tem acesso ao folder-mapa do IBGE Educa e o trabalham em sala de aula

“Se aproximem, senhores gestores, de seus territórios. Somos espelho para a geração que está chegando. Somos inspiração para crianças que, muitas vezes, não têm referências. O Velho Chico diz o que fazer. Aqueles que se conectam com as águas do Rio São Francisco têm as respostas”, defendeu o professor Vieira, um dos coordenadores da Expedição, durante a cerimônia de encerramento.