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Censo 2022

IBGE captará pela primeira vez as coordenadas de todos os domicílios

Editoria: IBGE | Carmen Nery e Carlos Alberto Guimarães | Arte: Helga Szpiz e Marcio Costa

09/05/2022 10h00 | Atualizado em 08/01/2024 13h42

#PraCegoVer A foto mostra um dispositivo móvel de coleta sendo utilizado por um recenseador do IBGE.
Recenseador capta a coordenada na confirmação do endereço, na chegada ao domicílio e durante a entrevista - Foto: Helena Pontes/Agência IBGE Notícias

A captação das coordenadas, iniciada pelo IBGE no Censo Agropecuário 2007 para os endereços rurais, será estendida a todos os domicílios urbanos brasileiros no Censo Demográfico 2022. A expectativa é capturar coordenadas para mais de 75 milhões de endereços. Num primeiro momento, a captação das coordenadas servirá para o monitoramento em tempo real do trabalho dos recenseadores e a gestão da coleta. Mas beneficiará uma série de pesquisas do IBGE e trará retornos para toda a sociedade. As coordenadas serão associadas apenas ao endereço, preservando o sigilo estatístico.

Para garantir a qualidade dos dados coletados, o IBGE organizou, no dia 27 de abril, o seminário online A importância das Coordenadas Geográficas Coletadas no Censo, em que os técnicos orientaram as equipes de coleta sobre as formas corretas de captação das coordenadas, e tiraram dúvidas. Mediado pela assessora da Diretoria de Geociências, Miriam da Silva Barbuda, o seminário foi apresentado por Alex Santos, da coordenação de Geodésia e Cartografia, e Eduardo Baptista, da Coordenação Operacional dos Censos (COC), e reuniu mais de 700 pessoas.

“O IBGE foi pioneiro na captação de coordenadas de endereços já no Censo Agro 2007 – o primeiro a usar equipamentos de coleta – e no Censo Demográfico 2010. Nestas duas operações, foram capturadas coordenadas apenas para as áreas rurais, assim como no Censo Agro 2017. No Censo Demográfico 2022, será a primeira vez que o IBGE vai captar também as coordenadas dos domicílios urbanos. Para a produção de estatísticas, o benefício de ter a informação georrefenciada no nível mais detalhado é poder fazer agregações de dados nos mais diversos recortes geográficos”, explicou o diretor de Geociências do IBGE, Cláudio Stenner.

Stenner acrescentou que será viável, por exemplo, separar melhor as informações de uma bacia hidrográfica ou de áreas de risco de deslizamento e inundações, como no projeto que está sendo conduzido com o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden). 

Ele destacou, ainda, que a iniciativa atende a uma recomendação da Divisão de Estatística das Nações Unidas, que tem documentos preconizando a forma como deve ser feita a integração das informações geográficas e estatísticas. Uma das recomendações é o georreferenciamento no nível mais detalhado possível, incluindo a coordenada dos endereços, justamente para permitir os diversos usos estatísticos.

As coordenadas também são importantes para melhorar a qualidade da coleta, com uma visão mais ampla da cobertura da operação censitária no território. Assim é possível, se necessário, tomar ações para garantir a cobertura total. A captura das coordenadas será em tempo real. Vale destacar também os cuidados com o sigilo.

“Em hipótese nenhuma, o IBGE divulga os dados individualizados de cada domicílio associado ao ponto de coordenada. A coordenada serve para gerar outras estatísticas agregadas, mas nunca para divulgar qualquer informação associada a cada uma delas – nome dos moradores, renda, quantas pessoas moram no domicílio, etc. O ganho para a sociedade é ter um melhor conhecimento do território. Vamos definir, de acordo com critérios que respeitam o sigilo estatístico, outros recortes territoriais urbanos e rurais para divulgar dados que permitem identificar, por exemplo, a população em idade escolar que está distante das escolas, mas sem individualizar o informante”, reforçou o diretor de Geociências. 


Captação das coordenadas dos trajetos dos recenseadores

Além dos domicílios, serão captadas as coordenadas dos trajetos percorridos pelos recenseadores, o que também servirá para monitorar a operação censitária. Se eventualmente ele não percorreu uma parte de sua área de trabalho (o setor censitário), as equipes de supervisão têm condições de saber, em tempo real, avaliar e tomar medidas para que a área seja recenseada.

“Depois da coleta, poderemos produzir uma espécie de mapeamento dos caminhos do território, especialmente nas áreas rurais, o que ajuda no mapeamento do país. O grande ganho da captação das coordenadas é ter, pela primeira vez, a localização mais exata de todos os domicílios do país, o que vai permitir criar dados estatísticos com recortes geográficos com mais liberdade, para aplicações de políticas públicas de governos e decisão de investimentos. No Brasil, só o IBGE terá esse dado”, sinalizou Stenner.

A geolocalização é importante para a segurança do recenseador em áreas rurais

O coordenador do Cadastro Nacional de Endereços para Fins Estatísticos (CNEFE), Wolney Cogoy de Menezes, observa que a captação das coordenadas tem utilidade tanto para o recenseador que está na rua quanto para as equipes que fazem o acompanhamento do trabalho de campo. Para o recenseador, a vantagem é poder ver, a qualquer momento, sua localização precisa. É claro que isso é menos crítico nas áreas urbanas; mas, na área rural, saber onde está é algo muito importante para o trabalho e para sua própria segurança, já que percorre áreas muito remotas. Menezes explicou que a maneira de percorrer um setor censitário não pode ser feita de forma aleatória, pois, seguramente, o recenseador pode deixar de entrevistar alguém. Por isso, é importante a captação dos trajetos também.

“O tracking é fundamentalmente uma informação de acompanhamento para os gestores saberem que o recenseador está fazendo o trabalho de forma ordenada. Eles são orientados a visitar um setor seguindo uma série de regras, como as formas de se percorrer uma quadra. Além disso, outros profissionais, os supervisores, também vão a campo para fazer seu trabalho. Na área rural, o tracking acaba sendo um excelente indicador de rotas de onde é possível andar", diz Menezes.

Sobre a captura das coordenadas, ela é feita no momento em que o recenseador visita os domicílios para a realização da entrevista. No instante em que o recenseador confirma um endereço, obtém uma coordenada. Se no endereço houver um domicílio, será feita a entrevista, que deve ser realizada na entrada do domicílio ou, se convidado pelo morador, dentro do domicílio. “As coordenadas são os dados mais solicitados por nossos usuários”, esclareceu o coordenador do CNEFE.

A expectativa é capturar coordenadas para mais de 75 milhões de endereços - Imagem: Acervo IBGE

Aplicativo adverte recenseador que capta coordenada de domicílio fora do setor

A captação da coordenada é feita em três momentos: na confirmação do endereço; na chegada ao domicílio na primeira visita e no retorno, sempre que ele não encontra o morador na primeira vez; e no momento da entrevista. O recenseador pode voltar ao endereço até três vezes; e, a cada uma delas, é captada a coordenada e comparada com a coordenada inicial de confirmação do endereço, para certificar de que ele teve todo um esforço na tentativa de obter a entrevista.

“Na área rural, normalmente é mais difícil identificar os limites entre os setores censitários, há o risco de o recenseador realizar entrevistas em domicílios que estão fora de sua área de trabalho, o que chamamos de invasão. A captação da coordenada também serve para isso. Toda vez que o recenseador faz uma entrevista de um domicílio fora do limite de seu setor, recebe uma advertência do aplicativo, e o supervisor é avisado, resolvendo o problema a tempo”, explica Menezes.

Dentro do DMC, há um chip capaz de captar o sinal do GPS (Global Positioning Satellite – sistema que utiliza satélites para localizar onde o receptor do sinal está naquele momento), calcular e devolver a informação da coordenada, que é incorporada dentro do aplicativo e passa por vários processos, como a comparação com as coordenadas dos limites do setor. Após registrada no DMC, a coordenada é enviada para o sistema central no Rio de Janeiro junto com o questionário no momento da transmissão.

“Então há um longo caminho até chegar ao Cadastro Nacional de Endereços para Fins Estatísticos (CNEFE), repositório de endereços de abrangência nacional mantido pelo IBGE. A coordenada vai para um banco de dados que recebe as informações em produção; em seguida, vai para o banco de dados do Censo, onde será criado o novo CNEFE. Como vamos atualizar todos os endereços do Brasil, o atual CNEFE será substituído com base no que o recenseador vai coletar. Vale destacar que a coordenada é associada ao endereço, e todo o tratamento e uso dela serão sempre anonimizados em relação ao morador. O CNEFE não tem outro dado do morador e o banco do questionário tem apenas o setor”, esclareceu o coordenador do CNEFE.

As coordenadas vão ser úteis também para outras pesquisas, como a PNAD Contínua, e para a atualização dos setores censitários. As prefeituras menores poderão aproveitar os cadastros do IBGE para melhorar suas informações.

“O IBGE vai divulgar os cadastros de endereços e algumas características como a sua espécie (se é prédio, residência, comércio), que são informações públicas disponíveis em outras bases de dados, como o Google Street View. O que torna a nossa informação valiosa é que ela será abrangente, padronizada e pública. Até hoje, todos os dados do Censo tiveram como base o setor censitário. A partir da captação das coordenadas, respeitado o sigilo estatístico, estaremos livres para estabelecer áreas para entender e divulgar. Por exemplo, uma área como a Avenida Atlântica (RJ) contempla vários setores; com as coordenadas, poderemos ter um retrato da região”, resumiu Menezes.

Escolas e postos de saúde próximos aos locais onde existe população, poderão ter suas coordenadas captadas

“Esse tipo de granularidade do georreferenciamento é o sonho dos registros administrativos. Nenhuma outra instituição tem os dados georreferenciados que serão coletados. Independentemente da tecnologia, o instituto já faz uma revolução percorrendo todo o território. Em 2017, quando o IBGE realizou o Censo Agro, 21 mil recenseadores percorreram, pela primeira vez, com a captura de coordenadas por sistema GNSS (popularmente conhecido como GPS) o tempo todo habilitada no dispositivo móvel de coleta. Isso permitiu que fizéssemos um mapa do trajeto de todos os recenseadores. Esse não era o objetivo inicial, e sim, um processamento posterior que gerou um mapa nacional de estradas vicinais que não existia”, ressaltou o coordenador de Geodésia e Cartografia do IBGE, Marcelo Maranhão.

Maranhão acrescentou que além de todos os domicílios, outras instalações de interesse poderão ter suas coordenadas coletadas. O grande ganho é que esses dados poderão ser visualizados e espacializados em mapas. O IBGE é responsável pela cartografia do país e esses dados vão aprimorar as bases cartográficas de referência e também os mapas ambientais.

“Essa é a oportunidade de, em uma pesquisa desse tamanho, ter acesso a toda informação; e a coordenada é um dado muito rico e vai aprimorar muito a informação que o IBGE presta para a sociedade: os mapas municipais para fins estatísticos, as bases cartográficas de referência e o mapeamento ambiental”, concluiu o coordenador de Geodésia e Cartografia.