Censo Agro avança pela fronteira agrícola e mostra o Maranhão rural
08/01/2018 09h00 | Atualizado em 02/08/2019 17h50
Em campo desde outubro, o Censo Agropecuário revela a diversidade regional à medida que os recenseadores avançam em seus trabalhos. A Agência IBGE Notícias viajou pelo Maranhão e visitou os municípios de Presidente Dutra, São João dos Patos, Balsas e Riachão, onde pode observar um pouco da coleta e das características do estado.
No município de Presidente Dutra, localizado na região central do Maranhão, distante aproximadamente 350 km de São Luís, o Censo segue em ritmo acelerado. Lá, a reportagem acompanhou o recenseamento da Fazenda Caiçara, do seu Edimar dos Santos, de 69 anos, que abriu as porteiras da propriedade e contou um pouco de sua vida. Para chegar até o local, é necessário seguir pela estrada Lagoa da Onça, situada às margens da BR-135, passando por aclives e declives e atravessando um dos braços do rio Preguiças.
Mas, chegando ao destino, a recompensa é uma paisagem única. Logo na entrada, existe um açude para refrescar os animais que, apesar de estar com nível de água abaixo do normal, ainda assim causa admiração. A propriedade tem cerca de 65 hectares, nos quais são criados bovinos, bodes, ovelhas e galinhas, cujos produtos ele vende ou utiliza para consumo próprio. Pelas altas temperaturas na região, uma das preocupações de seu Edimar é com relação às queimadas, que podem ser observadas por todo o trajeto entre São Luís e Presidente Dutra, inclusive com vegetações e propriedades completamente destruídas pelo fogo.
O produtor contou que, em 2006, uma queimada que começou nas proximidades de uma subestação de energia se espalhou rapidamente até chegar à sua propriedade. Como consequência, seu Edimar teve grande parte de suas terras destruída, perdendo inclusive animais que criava na época. De lá para cá, ele se recuperou e hoje toma os cuidados necessários para evitar o alastramento do fogo na fazenda. Questionado sobre o que faria se tivesse a opção de trocar de vida, o fazendeiro disse estar satisfeito com sua rotina. “Aqui eu me sinto muito bem. Posso ir ao riacho comer minha piaba [peixe de rio]. À noite, vejo uma televisão e assim vou”, disse, em meio a sorrisos.
GPS ajuda a localizar propriedades
A coleta dos dados na propriedade do seu Edimar foi feita pela recenseadora Jaymara Araújo, de 21 anos, que cursa o terceiro período de Letras na Universidade Estadual do Maranhão (UEMA) e está feliz em participar do Censo Agro. Ela trabalhava acompanhada da agente censitária supervisora Vivian Cristina de Souza.
“A experiência tem sido muito agregadora. Além de adquirir novos conhecimentos, estou conhecendo pessoas”, frisou a estudante. Uma das dificuldades relatadas por Jaymara é localizar os estabelecimentos agropecuários, mas isto está sendo superado com o auxílio do GPS, instalado nos Dispositivos Móveis de Coleta (DMC).
A reportagem também visitou o município de São João dos Patos, no leste maranhense, que fica a cerca de 540 km de São Luís. Localizada quase na divisa com o Piauí, a cidade tem sua população estimada em pouco mais de 25 mil habitantes e uma economia baseada predominantemente na agropecuária.
Com um pequeno centro urbano e ruas cobertas por paralelepípedos, São João dos Patos também guarda um passado que impressiona os visitantes. Isso porque a cidade foi administrada por Joana da Rocha Santos, a dona Noca, considerada por muitos estudiosos como a primeira mulher a se tornar prefeita de uma cidade no Brasil.
Na agência do IBGE de São João dos Patos, a reportagem conversou com Mirelle Sousa, de 19 anos, agente censitária supervisora no Censo Agropecuário. A jovem contou que está animada com a atividade, na qual enxerga a possibilidade de crescer profissionalmente e se preparar para o mercado de trabalho.
“Como experiência profissional, trabalhar em uma fundação como o IBGE é muito bom, porque já conseguimos adquirir uma experiência muito boa, não apenas sobre a realização do censo e dados estatísticos do nosso país, mas também conhecemos mais sobre a nossa realidade”, disse Mirelle.
Durante a passagem por São João dos Patos, a equipe acompanhou o recenseamento na propriedade do senhor Evangélio Lima, de 45 anos, dono de uma propriedade no povoado Marruás, às margens da BR-230. Ele mora com a esposa e os filhos no local onde ele cria, principalmente, gado e carneiro e tem, ainda, uma lavoura, que serve como fonte de renda e alimentos para a família. Morador do local desde a infância, o produtor disse que não pensa em mudar de vida. “Nós temos que nos conformar com o que temos”, refletiu.
Fronteira agrícola avança com a soja
Localizado a cerca 800 km de São Luís, o município de Balsas, no sul do estado, é um dos principais pólos do agronegócio maranhense. Isso porque a cidade é a maior produtora de soja do Maranhão, o que atrai até mesmo investimentos internacionais. A expectativa é que o grão continue mostrando força na economia regional, uma vez que a previsão é de uma boa colheita em 2018.
Balsas pertence ao Matopiba, denominação que engloba cidades localizadas nos estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, que juntas são responsáveis por uma importante fronteira agrícola brasileira onde é grande a produção de grãos. Segundo a Pesquisa Agrícola Municipal (PAM) do IBGE, no ano de 2016, houve uma produção de 234.491 toneladas de soja em Balsas, o que colocou o município como o principal produtor maranhense desse grão.
Um dos objetivos do Censo Agro é justamente obter mais detalhes a respeito dessa produção e também das outras culturas existentes na região. De acordo com a estimativa inicial do IBGE, Balsas teria cerca de 1.700 estabelecimentos, dos quais mais de 1.450 (84%) já foram recenseados, o que indica que o número preliminar pode ser, inclusive, superado.
“Nós estamos tendo todo o suporte necessário para a realização do nosso trabalho e com uma equipe bem instruída de recenseadores. Todos estão em campo sem dificuldades consideráveis e estamos realizando um trabalho de acordo com as nossas expectativas”, destacou a agente censitária supervisora da agência do IBGE em Balsas, Joana Araújo. Formada em agronomia, ela conta, ainda, que já havia trabalhado em pesquisas do IBGE em anos anteriores e viu, no Censo Agro, a possibilidade de adquirir experiência em sua área.
Localizado a apenas 70 km de Balsas, Riachão também vive da soja, ocupando a quinta posição na lista de maiores produtores do Maranhão. O recenseador Marcos Vinicius é um dos responsáveis pela coleta de dados na região e afirmou que não está tendo dificuldades na coleta das informações. “Está sendo tranquilo, até mesmo porque já houve outros censos anos atrás, o que facilita a comunicação”, disse o jovem de 25 anos de idade, que viu no Censo Agro a possibilidade de inserção no mercado de trabalho.