Redes e Fluxos: distribuição desigual das atividades econômicas e dimensões do país são os principais desafios da logística de energia
23/06/2016 09h55 | Atualizado em 27/05/2019 11h32
A distribuição desigual das atividades econômicas, com suas respectivas demandas energéticas, e a necessidade de disponibilizar esses recursos em um país de dimensões continentais constituem-se nos principais desafios da logística da energia. A localização da infraestrutura de produção e geração de energia foi, em grande parte, determinada por condições naturais e técnicas de implantação e funcionamento, apresentando diferentes padrões espaciais no território, com a geração hidráulica de energia elétrica concentrando-se no centro-sul, com algumas aglomerações pontuais na região Norte e Nordeste, enquanto a extração de petróleo preponderou no litoral fluminense.
Essas são algumas das conclusões do estudo Logística de Energia 2015 – Redes e fluxos do território, que mostra, também, o crescimento da participação do pré-sal na produção de petróleo (que chegou a 21,9%, em 2014), a liderança absoluta do estado do Rio de Janeiro como produtor de petróleo (68,4% da produção) e gás natural (34,8%), a dependência externa no consumo de derivados de petróleo (importação de 47,6 mil m³/dia, em 2014) e de gás natural (17,4 bilhões de m³, em 2014). O estudo mostra, ainda, que a distribuição das refinarias é desigual, com São Paulo (39,0%) e Bahia (16,1%) concentrando mais da metade da capacidade de refino do país, bem como o crescimento de 460% da geração eólica, embora essa fonte represente, ainda, 2,1% da geração.
Além de informações do IBGE, o estudo utilizou dados do Ministério de Minas e Energia, da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), Agência Nacional de Águas (ANA), Operador Nacional do Sistema (ONS), Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), da Associação Brasileira de Empresas Distribuidoras de Gás Natural (ABEGÁS) e das Agências Reguladoras de Energia dos estados de São Paulo e Rio de Janeiro. A publicação tem um mapa mural sintético, que representa as infraestruturas de petróleo, gás e biocombustíveis e de energia elétrica. As informações completas podem se acessadas aqui.
Tabela 1 - Produção de nacional de petróleo, segundo as Unidades da Federação - 2014
Unidades da Federação | Produção nacional de petróleo | |
---|---|---|
Total (1.000 barris) | Percentual (%) | |
Brasil |
822.929,60
|
100,00
|
Rio de Janeiro |
563.232,64
|
68,44
|
Espírito Santo |
133.974,18
|
16,28
|
São Paulo |
59.235,50
|
7,20
|
Rio Grande do Norte |
20.961,95
|
2,55
|
Bahia |
15.987,38
|
1,94
|
Sergipe |
14.971,99
|
1,82
|
Amazonas |
10.222,18
|
1,24
|
Ceará |
2.667,25
|
0,32
|
Alagoas |
1.633,57
|
0,20
|
Maranhão |
42,96
|
0,01
|
Disponível em: http://www.anp.gov.br/?pg=78136&m=anu%E1rio&t1=&t2=anu%E1rio&t3=&t4=&ar=0&ps=1&1462992282104.
Acesso em: maio 2016.
Logística de Energia 2015 – Redes e fluxos do território mostra que 92,5% do volume de produção do petróleo ocorre em ambiente marinho e apenas 7,5% no continente. Em termos absolutos, no entanto, 841 poços produtores de petróleo e gás natural situam-se no mar, enquanto 8.263 estão no continente, com destaque para a região Nordeste, com os estados de Rio Grande do Norte (47,2%), Sergipe (21,9%) e Bahia (20,1%) reunindo a maior concentração de poços terrestres.
Outro destaque é a evolução do polígono do pré-sal, que abrange desde o litoral de Santa Catarina até o Espírito Santo, onde a produção aumentou progressivamente nos últimos anos, chegando a 179 milhões de barris, em 2014, representando 21,9% do volume da produção de petróleo (822,9 milhões de barris) naquele ano. O Rio de Janeiro é o maior produtor de petróleo do país, contabilizando 68,4% da produção, mais de quatro vezes a produção do segundo colocado, o Espírito Santo (16,3%), seguidos por São Paulo (7,2%). Todos os outros estados produtores somados chegam a 8,1% do total da produção no país.
Gráfico 3 - Evolução da produção nacional de petróleo por localização
Brasil - 2005-2014 (1.000 barris)
Distribuição geográfica das refinarias é desigual, estando ausentes no Centro-Oeste
O estudo concluiu que a distribuição geográfica das refinarias no Brasil é desigual. O país conta com 17 refinarias, cinco delas em São Paulo. Bahia, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul possuem duas refinarias cada um. São Paulo tem 39,0% da capacidade de refino do país, enquanto a Bahia tem 16,1%, o Rio de Janeiro tem 10,9% e o Rio Grande do Sul, 9,3%. O Centro-Oeste não possui nenhuma refinaria e o Norte conta com apenas uma, em Manaus (AM). No total, apenas 10 das 27 Unidades Federativas abrigam refinarias. A refinaria com maior capacidade de refino é a de Paulínia (SP), com capacidade de 433.997,7 barris/dia. São Paulo é o maior produtor de derivados energéticos, exceto nas categorias óleo combustível e outros energéticos, cujos maiores produtores são, respectivamente, Bahia e Rio Grande do Norte.
São Paulo produz 46,9% do óleo diesel e é o único estado que produz gasolina de aviação – usada em pequenas aeronaves - na Refinaria Presidente Bernardes, localizada no município de Cubatão. Entretanto, o querosene de aviação, combustível usado nas aeronaves maiores, é produzido na maioria dos estados que possuem refinarias, com exceção de Pernambuco e Ceará. O Brasil não é autossuficiente na produção de derivados de petróleo, e a importação líquida em 2014 foi, em média, de 47,6 mil m³/dia.
Gás natural do pré-sal representa 19,6% do total da produção nacional
A produção de gás natural é um pouco menos concentrada no mar do que a do petróleo – são 73,3% de origem marítima, contra 26,7% da produção terrestre, sendo que no pré-sal representa 19,6% do total extraído no país (31,9 bilhões de m3). A produção do Rio de Janeiro (34,8%) representa mais que o dobro da produção do segundo colocado, o Espírito Santo, que extrai 14,9%. Os estados do Amazonas (14,7%) e de São Paulo (13,1%) também detêm produções significativas.
O Brasil não é autossuficiente em gás natural. Em 2014, o volume de gás natural importado foi de pouco mais de 17,0 bilhões de m³. Dois tipos de infraestruturas cumprem papel importante na importação de gás: o gasoduto Brasil-Bolívia, que transporta gás do país vizinho para ser comercializado no Brasil, e percorre os estados de Mato Grosso do Sul e São Paulo; e as unidades de regaseificação de gás natural. Há três terminais de regaseificação de GNL nos municípios de São Gonçalo do Amarante (CE), Salvador (BA) e Rio de Janeiro (RJ). O processamento do gás natural para gerar o GNL (gás natural liquefeito) no Brasil, é realizado, apenas, em uma unidade localizada no município de Paulínia (SP).
No MT, SP e PR é mais econômico abastecer com etanol do que com gasolina
A partir dos dados da ANP, referentes ao mês de dezembro de 2014, com pesquisa realizada em 38.595 postos localizados em 538 municípios, no caso do etanol, e em 41.715 postos situados em 555 municípios, no caso da gasolina, o estudo conclui que em áreas de São Paulo (interior), Paraná (especialmente oeste) e Mato Grosso a utilização do etanol é mais econômica do que a da gasolina, enquanto no Amapá, Sergipe e Roraima é mais vantagem utilizar a gasolina. Foi considerado o patamar de 70,0% do preço do etanol em relação a gasolina em virtude de seu menor rendimento. O preço da gasolina (com variação de R$ 2,80/litro a R$ 3,87/litro) aumenta, progressivamente, de leste para oeste do país, atingindo os maiores valores no interior do Pará, no oeste do Amazonas e do Acre, sendo menor em São Paulo, assim como alguns em núcleos próximos a Porto Alegre, e ao eixo Curitiba-Vale do Itajaí, no litoral nordestino e no Piauí. No caso do etanol (com variação de R$ 1,71/litro a R$ 3,45/litro), há maiores médias de preços na região Norte, e no estado de Sergipe.
SP é maior produtor de etanol, enquanto RS e MT lideram produção de biodiesel
O estudo lembra que tem havido estímulo do Estado ao consumo de fontes renováveis: os principais biocombustíveis são o etanol (cana-de-açúcar) e o biodiesel (óleo de soja, gordura animal e óleo de algodão). São Paulo (48,2%) é o estado com maior capacidade produtiva de etanol, concentrada no interior do estado, que é a principal área de plantação de cana-de-açúcar do país. Goiás e Minas Gerais concentram, ainda, parte significativa da produção, ambos com mais de 10,0% de participação. Mato Grosso do Sul (8,3%), Paraná (6,1%), Mato Grosso (4,1%), Alagoas (2,8%), Paraíba (1,3%) e Espírito Santo (1,2%).
A capacidade de produção de biodiesel tem sua maior expressão nos estados do Rio Grande do Sul (27,3%), e Mato Grosso, com 23,4%. O biodiesel no Brasil hoje é produzido predominantemente por meio do óleo de soja, que contribui para 76,9% do total das matérias-primas utilizadas na produção de biodiesel. A segunda matéria-prima que mais contribui para a produção desse combustível é a gordura animal (19,8%). Todos os outros derivados somados não passam de 3,3% do total de matérias-primas. A produção de soja, principal componente do biodiesel, concentra-se nas regiões Centro-Oeste e Sul do país, bem como no oeste da Bahia. Grande parte das usinas de biodiesel se localizam nessas áreas, com a exceção de São Paulo, que apesar de ter uma produção de soja menos expressiva, tem um número grande de usinas.
Geração hidráulica responde por 63,2 % do total de energia do país
Na matriz de geração de energia elétrica brasileira, a geração do tipo hidráulica correspondeu a 63,2% do total da geração em 2014, totalizando 373.439 Gigawatts (GWh). Em todo território nacional, existem 367 Centrais Geradoras Hidrelétricas (até 3 Megawatts - MW), responsáveis por 0,2% da geração total, concentradas no norte e porção central do Rio Grande do Sul e oeste do estado de Santa Catarina, no leste e sudeste do estado de Minas Gerais. Havia 459 Pequenas Centrais Hidrelétricas (entre 3 a 30 MW) em operação, perfazendo 4,9 % de potência, e 194 Usinas Hidrelétricas (mais de 30 MW), correspondendo a 94,9% da potência, concentradas nas regiões de integração eletroenergética Centro-Oeste/Sudeste e Sul.
Observa-se a predominância da bacia hidrográfica do Paraná, sendo que as unidades de geração ali instaladas correspondem a 46,9 % da potência. Chama atenção a Usina de Itaipu (14.000 MW), na fronteira do Brasil com Paraguai, que é líder mundial em produção de energia limpa e renovável, tendo produzido mais de 2,3 bilhões de MWh desde o início de sua operação, em 1984, e que tem 20 unidades geradoras, fornecendo cerca de 15% da energia consumida no Brasil e 75% no Paraguai.
Destaca-se, também, Tucuruí (8.535 MW), localizada no Pará. O Serviço Público (SP) de geração de energia elétrica corresponde a 61,7% do total da potência, seguidos por Produtores Independentes de Energia (PIE), com 33,7%. Autoprodutores e os que possuem mais de um destino somam os 4,6% restantes. A geração térmica de energia elétrica foi de 204.829 GWh, em 2014, representando 34,7% do total da geração do país.
Geração eólica cresceu 460% de 2010 a 2014, mas representa 2,1% da geração
A geração eólica cresceu aproximadamente 460%, de 2010 para 2014, saltando de 2.177 para 12.210 GWh anuais. Porém, a participação dessa fonte ainda é baixa, representando 2,1% no total de geração. Concentram-se majoritariamente no Nordeste, principalmente Rio Grande do Norte (31,3%), Ceará (23,4%) e no interior da Bahia (16,9%). A geração fotovoltaica (produção de energia elétrica a partir da luz do sol) é apenas residual, participando com menos de 1,0% do total.
Comunicação Social
23 de junho de 2016