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Atlas das Representações Literárias chega aos Sertões

Os Sertões, tantas vezes mencionados na literatura, surgem em mapas, fotos e imagens de satélites no segundo volume do Atlas das Representações Literárias de Regiões Brasileiras, lançado hoje pelo IBGE...

27/07/2009 07h01 | Atualizado em 27/07/2009 07h01

Os Sertões, tantas vezes mencionados na literatura, surgem em mapas, fotos e imagens de satélites no segundo volume do Atlas das Representações Literárias de Regiões Brasileiras, lançado hoje pelo IBGE. O livro dá continuidade à coleção iniciada com o Brasil Meridional, em novembro de 2006. O Atlas será vendido a R$ 45 na loja virtual do IBGE https://www.ibge.gov.br/lojavirtual/, mas poderá ser acessado gratuitamente em www.ibge.gov.br, na seção Geografia.

O segundo volume do Atlas das Representações Literárias de Regiões Brasileiras percorre as diferentes áreas que, desde o século XVI, foram batizadas, por diferentes razões, de Sertões e que pertencem aos atuais estados de Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Bahia, Pernambuco, Paraíba e Ceará: os Sertões do Leste, os Sertões do Ouro, os Sertões dos Currais, o Sertão de Cima e, finalmente, os Sertões Nordestinos.

O recorte não se orienta por divisões político-administrativas nem por aspectos físicos, mas por características em comum (econômicas, populacionais, culturais, ambientais) consagradas por autores como José de Alencar, Coelho Netto, Agripa Vasconcelos, João Guimarães Rosa, Afrânio Peixoto, Ariano Suassuna, entre outros. Assim, além de mostrar as regiões em suas dimensões geográficas convencionais – definidas pelo próprio IBGE e outras instituições -, elas são mapeadas também segundo os aspectos culturais que emergem dos romances. Em todos os textos, também são destacados em negrito alguns termos regionais referentes ao território e seu processo de apropriação, os quais integram um glossário, ao final da obra.

A palavra “sertão” tem uma significação ampla e movediça na língua portuguesa, o que fez com que diferentes segmentos do território, em diferentes momentos históricos, tenham recebido essa alcunha, inclusive partes da região amazônica.

O primeiro significado surgiu logo à chegada dos portugueses. Ocupando o solo brasileiro a partir do litoral, eles nomearam as terras que se estendiam para além de seus acampamentos como sertão. A esse sentido, foi adicionado o de terra desconhecida, perigosa. A diferenciação evoluiu em oposição ao que estava colonizado (o litoral), ou seja, o que ainda não fora incorporado pelo colonizador: o sertão.

Essa idéia está presente na caracterização dos Sertões do Leste, o primeiro capítulo do livro, que corresponde a toda a extensa área da mata Atlântica e das serras do Mar e da Mantiqueira que dominam grande parte do sudeste brasileiro e foi assim identificada entre os séculos XVI e XVIII.

A descoberta de ouro no ribeirão do Carmo (1696), no Sabará-buçu e na serra do Ouro Preto (MG) iniciou forte deslocamento de população para essa área e empurrou o sertão para outras paragens. Esboçou-se, com o desenvolvimento da atividade de mineração, uma nova concepção do termo, que passou a diferenciar as áreas densamente povoadas e controladas pela Coroa portuguesa – as minas -, daquelas em que dominavam a rarefação de população e o conflito entre diferentes agentes pelo controle do território – os currais. Sãos os tempos dos Sertões do Ouro e dos Sertões dos Currais, retratados no segundo capítulo do livro.

Essa percepção de sertão como uma porção do território em que a atividade econômica não se faz acompanhar da presença do Estado terá longa vida. Certamente até a década de 30 do século 20, pelo menos, eram definidas como sertão áreas em que a “ordem” instituída era a dos coronéis, em geral latifundiários que exerciam direito de vida e morte sobre aqueles que habitavam em suas terras ou eram seus empregados.

É essa a definição que predomina no terceiro capítulo do livro, dedicado à região da Chapada Diamantina (BA), também conhecida como Sertão de Cima. Foi justamente a figura dos coronéis que marcou época no romance regional dessa região.

Finalizando a obra estão os Sertões Nordestinos, que abrangem as regiões do Cariri Paraibano, do Sertão do Pajeú e do Cariri Cearense. O capítulo busca mostrar que o sertão nordestino nem sempre teve seu sentido associado à semi-aridez, como o entendimento atual nos faz crer.

Primeiro volume retratou Brasil meridional

A idéia de contextualizar geograficamente a literatura surgiu em 2002, e foi implementada, preliminarmente, no Atlas Geográfico Escolar do IBGE. A meta era facilitar a incorporação da Literatura ao ensino da Geografia e de outras disciplinas da área de Ciências Humanas. Em seguida, começou a ser elaborado um trabalho mais aprofundado, resultando no projeto da coleção de quatro volumes do Atlas das Representações Literárias de Regiões Brasileiras.

Lançado em novembro de 2006, com 86 páginas e quatro capítulos, o primeiro volume do Atlas das Representações Literárias de Regiões Brasileiras retratou o Brasil meridional: a Campanha Gaúcha, as Colônias, o Vale do Itajaí e o Norte do Paraná, através de fotos, imagens de satélite e mapas em diferentes escalas. Trouxe um capítulo especial sobre as Missões Jesuíticas que, apesar de não constituírem uma região geográfica brasileira, têm importância estratégica para a compreensão do processo de constituição do Rio Grande do Sul.

Atlas foi premiado no Rio Grande do Sul

O Atlas das Representações Literárias de Regiões Brasileiras – Brasil Meridional foi o vencedor na categoria Publicação do Ano (2007), do Prêmio O Sul, Nacional e os Livros, promovido pela Rede Pampa de Comunicação, Jornal O Sul e Nacional Supermercados, com o apoio da Câmara Rio Grandense de Livros, da Secretaria de Cultura do Estado do Rio Grande do Sul e da Prefeitura Municipal de Porto Alegre.