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IBGE lança livro sobre imigração japonesa

A publicação “Resistência & integração: 100 anos de imigração japonesa no Brasil” comemora o centenário da chegada dos japoneses ao país, ...

16/06/2008 07h01 | Atualizado em 16/06/2008 07h01

A publicação “Resistência & integração: 100 anos de imigração japonesa no Brasil” comemora o centenário da chegada dos japoneses ao país, apresentando diversos aspectos do encontro de realidades e costumes diferentes ao longo desse período. Organizado pelas pesquisadoras Célia Sakurai, especialista em história da imigração japonesa, e Magda Prates Coelho, assistente no Centro de Documentação e Disseminação de Informações do IBGE, o livro tem dez artigos escritos por especialistas do próprio instituto, da Universidade de São Paulo (USP), Universidade de Campinas (Unicamp), Escola Nacional de Ciências Estatísticas (Ence), Fundação Oswaldo Cruz, École des Hautes Études en Sciences Sociales (Paris) e do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), entre outros. Com cerca de 200 páginas ilustradas por mapas, fotos históricas e desenhos, o livro será vendido a R$ 100 em todas as livrarias do IBGE e pela loja virtual, acessível no site www.ibge.gov.br .

O lançamento oficial da publicação será amanhã, 17 de junho, às 19h30, no auditório 9 do Palácio de Convenções do Anhembi - av. Olavo Fontoura, 1.209, Santana, São Paulo/ SP. Na ocasião, o livro será vendido pelo preço promocional de R$ 50.

“Resistência & integração” mostra as experiências que os imigrantes japoneses e seus descendentes viveram ao longo de cem anos no Brasil, numa trajetória que os estudiosos consideram de rápida ascensão social – passando de empregados na agricultura a doutores em menos de três gerações.

Tudo começou quando o navio Kasato Maru atracou no porto de Santos (SP), em 1908, trazendo 781 pessoas e 165 famílias, constituídas de acordo com as condições recomendadas pelo governo brasileiro. Aqui os imigrantes japoneses viveram um contexto de mudanças políticas e econômicas muito rápidas e profundas, e sua integração à nova pátria não ocorreu sem resistências de ambos os lados, brasileiro e japonês, fosse por conta da aparência dos imigrantes (um “racismo de marca” por parte dos brasileiros), fosse pelas diferenças culturais e de tradição.

Ao longo das décadas, os descendentes desses imigrantes foram deixando para trás algumas reservas, perdendo o contato mais direto até mesmo com o idioma e, após muitas transformações de modo de vida e pensamento, começaram, nos anos 1980, a voltar ao Japão para buscar outras perspectivas de futuro. No contato com a sociedade japonesa, eles percebem o quanto os anos vividos no Brasil mudaram sua visão de mundo.

Com uma abordagem multidisciplinar, os textos do livro contemplam quatro grandes seções temáticas: a história da imigração; a distribuição territorial dos japoneses no Brasil e as características dos imigrantes e seus descendentes - com informações desde o Censo Demográfico de 1920 e destaque para o estado de São Paulo; aspectos da colonização nipônica nos estados do Rio de Janeiro e Paraná; e uma última parte sobre influências culturais sofridas pelos imigrantes na nova pátria.

História da imigração japonesa no Brasil

Na parte I, o artigo de Kaori Kodama e Célia Sakurai, Episódios da imigração : um balanço de 100 anos , traça a história dos imigrantes japoneses, detalhando os caminhos e contextos em que ela se desenrolou. O texto funciona como uma base para o leitor compreender melhor o resto do livro. Começa relatando as condições sociais e econômicas do Japão da Era Meiji, para o entendimento dos motivos da emigração para o Brasil. Em seguida, detalha as etapas da fixação dos japoneses no país até o final do fluxo de entrada, no fim dos anos 1970, e a ida de descendentes para o Japão, a partir de meados dos anos 1980.

Distribuição territorial dos japoneses no Brasil

A parte II, elaborada por especialistas em demografia, vale pelo ineditismo dos dados apresentados, preenchendo uma lacuna na bibliografia brasileira sobre imigração japonesa.

O trabalho de Nilza de Oliveira Martins Pereira e Luiz Antônio Pinto de Oliveira, Trajetória dos imigrantes japoneses no Brasil: Censo Demográfico 1920/2000 , é uma análise detalhada dos dados referentes aos japoneses nos Censos Demográficos de 1920, 1940, 1950, 1960, 1970, 1980, 1991 e 2000, apontando a sua presença em todos os estados brasileiros ao longo da série.

Os autores traçam um perfil dos imigrantes por sexo e idade; mostram também dados sobre religião, educação, trabalho, assim como a autodeclaração de cor e raça.

Kaizô Iwakami Beltrão, Sonoe Sugahara e Ryohei Konta escreveram Vivendo no Brasil: características da população de origem japonesa com ênfase na diferenciação interna do grupo genericamente denominado de “japoneses”.

Tendo o total da população brasileira como parâmetro, o artigo analisa os anos de escolaridade de cada um dos segmentos dos nikkeys (japoneses e descendentes), por situação de domicílio (rural e urbano) e status migratório (imigrantes, migrantes e não-migrantes). Os autores também detalham a distribuição espacial dessa população e o seu movimento, da concentração inicial em São Paulo à mobilidade contínua por praticamente todo o território nacional. Fazem ainda uma comparação das trajetórias das populações brasileira e nikkey em relação à ocupação nos diversos setores produtivos (agricultura, indústria, comércio e serviços).

A análise dos japoneses no estado de São Paulo ganha uma abordagem demográfica também inédita no artigo de Maria Silvia C. Beozzo Bassanezi e Oswaldo Mário Serra Truzzi, Plantadores do futuro: os japoneses em São Paulo na primeira metade do século XX. Além dos Censos do IBGE, os autores fazem uso das estatísticas do Serviço de Imigração e Colonização (SIC), da Secretaria da Agricultura de São Paulo, apresentando dados sobre como o trabalho agrícola moldou o tamanho e o valor das propriedades rurais, as culturas, a mobilidade geográfica e as mudanças no perfil demográfico das famílias.

Colonização japonesa no Paraná e Rio de Janeiro

A parte III mostra a colonização no Paraná e Rio de Janeiro, analisando especificamente a história dos japoneses nesses estados, em dois artigos: Da terra do sol nascente às terras férteis do Paraná: territorialização e organização social de nikkeys, de Alice Yatiyo Asari e Ruth Youko Tsukamoto, e Resgate de uma história: os japoneses no Estado do Rio de Janeiro , de Tomoko Iyda Paganelli.

No Paraná, os chamarizes eram a fertilidade, a abundância de terras e as possibilidades de desenvolver a agricultura em áreas oferecidas por companhias de colonização. A situação do Rio de Janeiro era diferente: por ter sido a capital do país, atraiu japoneses antes mesmo de 1908, e a colonização agrícola se espalhou em vários núcleos pelo estado. Em ambos os casos, as autoras salientam o papel das associações como centrais para a compreensão das experiências.

Tradição e modernidade

Na última parte do livro, os três primeiros artigos tomam como eixo a questão de como ocorreram os processos de fixação e integração dos japoneses no Brasil.

Dos passageiros do Kasato Maru aos aviões da Varig: quem eram os imigrantes ?, de Célia Sakurai, aponta, pelo método qualitativo, os diferentes passos dos imigrantes, pessoas com perfis diferentes na origem. Em Imigração japonesa no Brasil: riquezas de uma presença secular , Mônica Raisa Schpun ressalta as contribuições dos imigrantes e seus descendentes no decorrer do processo de integração, mostrando as dificuldades e as formas como ele ocorreu. O texto O tradicional e o moderno na educação dos filhos de imigrantes japoneses , de Masato Ninomiya, trata de uma questão crucial na vida dos japoneses; os dilemas da educação mista – brasileira e japonesa – no Brasil, mas também ressalta os mesmos problemas na educação das crianças brasileiras que estão vivendo com seus pais no Japão.

Não poderia ficar de fora a saída dos nipodescendentes brasileiros para o Japão, o chamado movimento dos dekasseguis . O último texto, de Lili Kawamura, Família, mulher e cultura: impactos da migração para o Japão, faz a ligação no sentido inverso entre os dois países, mostrando as mudanças na forma como as famílias, as mulheres e a experiência vivida no Brasil impactaram a vida dos brasileiros que se mudaram para o Japão.