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Indústria da construção sofre queda em 2005

De uma forma geral, o setor empresarial de construção brasileiro reduziu suas atividades em 2005, na comparação com 2004. As construções executadas tiveram um decréscimo real de 5,4%.

23/05/2007 07h01 | Atualizado em 23/05/2007 07h01

De uma forma geral, o setor empresarial de construção brasileiro reduziu suas atividades em 2005, na comparação com 2004. As construções executadas tiveram um decréscimo real de 5,4%1. Ainda em termos reais, uma queda mais acentuada foi verificada no valor das construções para entidades públicas, que teve redução de 8,0% entre os dois anos. Os dados são revelados pela Paic (Pesquisa Anual da Indústria da Construção), que mostra ainda um gradativo processo de desconcentração da indústria da construção, com perda de peso da região Sudeste, puxada principalmente por São Paulo e Rio de Janeiro, e ganho, sobretudo do Norte do país, onde a industrialização alavancou obras e pessoal ocupado, especialmente no Amazonas e Pará.

Segundo a Paic, em 2005, as mais de 105 mil empresas do setor da construção geraram quase 1,6 milhões de empregos, com gastos salariais superiores a R$ 15,5 bilhões, o que corresponde a um salário médio mensal de 2,7 salários mínimos. A indústria da construção realizou obras e serviços no valor de R$ 100,0 bilhões, sendo que, desse montante, R$ 41,7 bilhões vieram de obras contratadas por entidades públicas.

Os resultados negativos apresentados na Paic podem ser relacionados à desaceleração no ritmo de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), que passou de 5,7% em 2004 para 2,9% em 20052. O desempenho da economia brasileira em 2005 refletiu o contexto de uma política monetária contracionista, direcionada para manter a estabilidade dos preços. A desaceleração do PIB foi ainda mais acentuada no caso do investimento, cuja variação passou de 9,1% em 2004, para 3,6% em 2005. O ambiente de altos patamares da taxa de juros afeta as decisões de investimento por parte das empresas e famílias, o que, por sua vez, impacta significativamente o setor da construção.

Valor das obras residenciais cai 3,8% de 2004 para 2005

Em 2005, o valor nominal das obras e serviços executados pelas empresas com cinco ou mais pessoas ocupadas3 foi 2,8% superior ao de 2004, mas, em termos reais4, houve recuo de 6,3%.

O grupo edificações industriais, comerciais e outras edificações não-residenciais avançou 2,9% em termos nominais5, devido ao bom desempenho de edificações comerciais , cujo acréscimo chegou a 24,0%. Esse resultado pode estar relacionado ao aumento do número de shoppings centers nas médias e grandes cidades brasileiras. Outros produtos que contribuíram para esse crescimento foram galpões e edifícios industriais (2,3%), plantas industriais (3,0%) e instalações desportivas (22,3%).

O valor das obras de infra-estrutura caiu 1,0% em relação a 2004, por conta principalmente de usinas, estações e subestações hidroelétricas, termelétricas e nucleares (-26,2%); barragens e represas para geração de energia elétrica (-23,2%); dutos (-17,2%); e redes de instalações de torres de telecomunicações (-12,3%). Por outro lado, as principais contribuições positivas vieram de vias férreas e metropolitanas (50,7%); pontes, elevados e túneis (25,0%); rodovias (3,9%); e ruas, calçadas, praças ou estacionamentos (6,8%).

As obras residenciais também recuaram 3,8%. Apesar de algumas medidas tomadas pelo governo federal a partir de 2004, tais como o regime especial tributário do patrimônio de afetação e o maior volume de recursos da caderneta de poupança direcionados ao Sistema Financeiro da Habitação (SFH), as edificações residenciais , produto de maior peso na construção, recuaram 7,1%, não sustentando seu resultado positivo de 2004, quando haviam crescido 31,9% frente a 2003.

Conforme estatísticas do SFH, foram concedidos, com recursos da caderneta de poupança, R$ 4,9 bilhões para financiamento de 64.977 moradias em 2005, sendo 58,0% deste total destinados a financiamentos para construção de imóveis e 42,0% para aquisição de unidades já construídas. O valor nominal médio por unidade financiada foi de R$ 76 mil. O montante emprestado em 2005 foi, em termos nominais, 41,6% superior ao concedido em 2004, e o número de unidades financiadas, 5,3% maior. Considerando-se que o montante dos financiamentos não foi destinado integralmente a novas unidades e o fato de o valor médio de financiamento por unidade ter sido relativamente elevado, é possível supor que o acesso ao crédito imobiliário tenha atingido basicamente as famílias de renda média e alta.

Por fim, o grupo outras obras teve o crescimento mais expressivo (16,4%). Os principais acréscimos vieram de instalações elétricas e de telecomunicações (20,7%), trabalhos prévios da construção (12,6%) e do aluguel de equipamentos de construção e demolição com operador (71,6%). As principais retrações nesse grupo foram observadas em montagens de estruturas metálicas (-16,2%); instalações de sistemas de ar condicionado, de ventilação, refrigeração e aquecimento (-10,1%) e instalações hidráulicas, sanitárias e de gás (-6,9%).

O detalhamento do valor total das obras e serviços das empresas de construção em 2004 e 2005 e da variação entre esses dois anos por grupo e produto está na tabela 5, página 4.

Região Norte aumenta participação na indústria da construção nacional

De 1996 a 2005, a região Norte foi a que mais ampliou sua participação na indústria de construção. Em contrapartida, a região Sudeste registrou a maior perda de espaço. A dinâmica regional das empresas de construção guarda, assim, relação com a continuidade do processo de descentralização da economia brasileira como um todo. O direcionamento das atividades para regiões de estruturas econômicas menos complexas está relacionado a um conjunto de fatores tais como expansão da fronteira agrícola; políticas de incentivos fiscais e construções de obras residenciais em áreas agrícolas.

A análise dos dados regionalizados teve como âmbito as empresas de construção com 40 ou mais pessoas ocupadas, já que, de 1996 a 2001, o âmbito da Paic incluía apenas esse universo de empresas. Em 2005, essas empresas respondiam por cerca de 60,0% do valor das obras executadas.

No período analisado, o Sudeste perdeu participação em relação às construções realizadas, de 65,7% em 1996 para 55,2% em 2005, e, no que diz respeito ao pessoal ocupado, de 62,3% para 53,6%. São Paulo e Rio de Janeiro reduziram suas participações no total construído de 39,7% e 14,5% para 30,4% e 10,6%, respectivamente. Em termos de pessoal ocupado, recuaram 6,3 e 4,0 pontos percentuais, respectivamente. Ainda assim, o Sudeste concentrava em 2005 mais da metade das construções realizadas (55,2%) e do emprego gerado pelas empresas de construção (53,6%).

O recuo do Sudeste foi acompanhado pela ampliação das demais regiões, sendo que o aumento mais expressivo ocorreu no Norte, onde as construções executadas e o pessoal ocupado apresentaram altas de 4,2 e 3,3 pontos percentuais, respectivamente. Na região, sobressaiu-se o Pará, seguido pelo Amazonas e por Tocantins. Nos dois primeiros casos, a economia vem sendo impulsionada pela crescente industrialização. No Tocantins, a expansão da atividade de construção pode estar associada às necessidades de urbanização.

A região Nordeste teve, entre 1996 e 2005, o segundo maior incremento de participação na construção (3,0 pontos percentuais tanto em relação às construções como ao pessoal ocupado), com destaque para a Bahia, onde vêm sendo adotadas políticas de incentivos à instalação de empresas de grande porte. Outro importante aumento foi registrado no Centro-Oeste (2,4 e 1,5 pontos percentuais, respectivamente), onde se destacou, no que concerne às obras realizadas, o Distrito Federal (crescimento de 1,8 ponto percentual). Em termos de pessoal ocupado, o maior acréscimo da região veio de Mato Grosso (1,0 ponto percentual). Por fim, a região Sul teve crescimento de 0,9 ponto percentual tanto nas construções realizadas como no pessoal ocupado. A contribuição mais relevante foi do Rio Grande do Sul (1,5 e 1,0 ponto percentual, respectivamente).

Entre os estados, Bahia e Pará tiveram os maiores ganhos de participação na indústria da construção tanto em relação ao pessoal ocupado quanto nas construções executadas. A Bahia apresentou crescimento de 3,5 pontos percentuais no emprego e de 2,6 pontos percentuais no valor das construções; e o Pará ampliou em 2,1 pontos percentuais seu peso nas duas variáveis. No outro extremo, São Paulo e Rio de Janeiro registraram as maiores variações negativas (-6,3 e -4,0 para pessoal ocupado e -9,3 e -3,9 para as construções, respectivamente).

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1 Deflacionado pelo Sistema Nacional de Pesquisa de Custos e Índices da Construção Civil (Sinapi), calculado pelo IBGE, cuja elevação no período ficou em 9,8%.

2 Cálculo com base no Sistema de Contas Nacionais 2000-2005, nova série, que tem como referência inicial o ano 2000.

3 Nessa análise, foram consideradas somente as informações de empresas com cinco ou mais pessoas ocupadas, pois o estrato com empresas de até quatro pessoas ocupadas não foi desenhado para gerar resultados em nível de produto.

4 Utilizou-se o Sinapi.

5 Optou-se por analisar a evolução do valor dos produtos da construção em termos nominais, pois o Sinapi não é detalhado por tipos de obras e/ou serviços.