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Dados do IBGE são destaques em Seminário Nacional de Saúde nas Periferias em Brasília
15/12/2025 15h44 | Atualizado em 15/12/2025 15h51
A cidade de Brasília (DF) foi sede do Seminário Nacional – Saúde nas Periferias: dados de favelas e comunidades urbanas. O evento que contou com a participação do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) iniciou nesta quarta-feira (10) e seguiu até sexta-feira (12).
O encontro foi um espaço de cooperação e aprendizado coletivo, reunindo órgãos públicos, organizações da sociedade civil e coletivos que produzem e analisam dados sobre favelas e comunidades urbanas. A programação inclui debates sobre produção oficial e não oficial de dados, integração de cadastros e registros administrativos, além de reflexões sobre a temática.
André Luis Bonifácio, diretor do Departamento de Gestão Interfederativa e Participativa do Ministério da Saúde, valorizou os dados do IBGE para a construção de políticas públicas. “O Instituto tem as informações corretas, detalhadas e confiáveis. Graças a elas, conseguimos refletir e debater as propostas para melhorar a área da Saúde”.
Wagner Matins, coordenador de Integração Estratégica da Fundação Oswaldo Cruz, em Brasília, destacou a possibilidade única de identificar o dna desses territórios. “Estamos discutindo dados das periferias para trazer inovações para estratégias integradas junto as comunidades locais, transformando em ações concretas”.
O coordenador de Geografia do IBGE, Felipe Cronemberger, destacou o trabalho realizado pela Gerência de Favelas e Comunidades Urbanas do IBGE.
“Tivemos uma avanço nesse Censo 2022, junto com os pesquisadores e organizações sociais, trocamos a nomeclatura, demonstrando a vontade do IBGE em está junto e representar a população brasileira de forma real”.
Ele também falou da parceria para a realização dessas ações: “Estamos juntos com CUFA e o Data Favelas, além de lideranças comunitárias que ajudaram o Instituto chegar a população e apresentar o seu trabalho. Nossos dados existem não somente para a academia, mas para a população ter acesso e construir políticas públicas”.
Andreia Amorim, representando a Secretaria Geral da Presidência da República, destacou a escuta das comunidades. “As periferias estão em todos os lugares. O Estado acerta quando traz a autoridade para essas pessoas, de quem vive nesses territórios e conhece a realidade”.
Intregação de dados para construção de políticas públicas
O Instituto coordenou a mesa de abertura do evento que abordou o tema: “Desafios centrais para a produção, integração e disseminação de dados sobre Favelas e Comunidades Urbanas”, que reuniu especialistas de diferentes áreas para apontar caminhos e estratégias coletivas e teve como moderadora Isabella Nunes, do IBGE, que atua na Gerência de Pesquisas Especiais e na temática de favelas e comunidades urbanas.
A demanda por dados sobre favelas e comunidades urbanas brasileiras tem crescido significativamente nos últimos anos, impulsionada pela necessidade de subsidiar políticas públicas territorializadas, orientar intervenções e construir indicadores capazes de monitorar metas globais e locais, como os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Esse movimento reflete a importância estratégica dessas informações para compreender e enfrentar desigualdades socioespaciais que se intensificaram com a expansão urbana nas últimas décadas.
Clara Sacco, cofundadora do Data_labe, organização dedicada à cultura de dados nas periferias destacou a importância da coleta de dados. “Tais informações nos ajudam a conhecer o rosto coletivo e individual destas comunidades. Cada favela posssui uma realidade distinta que precisa ser analisada da mesma forma”.
Claudio Stenner, do IBGE, com ampla experiência em estatísticas sociais e integração geoespacial, destacou a importância de integrar os dados. “Conseguimos cruzar as informações com outros órgãos, mapear e fornecer dados mais qualificados para as favelas e comunidades urbanas”.
Alessandra Dahmer, do Ministério da Saúde, especialista em informática aplicada à saúde, mostrou como o usuário é o protagonista no monitoramento de dados. “Vivemos desigualdades na produção de dados, e buscamos acabar com essa barreira através da integração e qualificação. Nosso papel é disseminar para a sociedade”.
Produção oficial de dados
“Desafios e potencialidades da produção oficial de dados sobre Favelas e Comunidades Urbanas” foi o tema de segunda mesa que contou com a participação do IBGE com a moderação de Larissa Catalá.
A ideia foi discutir pontos, buscando caminhos para fortalecer a capacidade estatal de registrar, mapear e representar esses territórios de forma contínua e qualificada.
Ernano Arraes Junior, do Ministério da Saúde, mostrou o SUS Digital, ferramenta que aglomera dados da população. “Ele mapeia todos o municípios e traz o panorama das reais necessidades da população. Nele também fazemos o recorte de favelas e comunidades urbanas que podem ser utilizados para aprimorar políticas públicas”.
Letícia Giannella, do IBGE, fez um breve histórico de como o Instituto sempre se preocupou em fazer o recorte desses territórios e apresentar os dados verdadeiros, com a sua disseminação de informações. “No decorrer dos últimos anos, o IBGE se alinhou com outras instituições, órgãos e organizações sociais, mudando a classificação e trazendo as comunidades para mais perto”.
Renata Grace, da Fiocruz, explicou como os dados do IBGE e de outras fontes são trabalhados nos indicadores para favelas e comunidades urbanas. “Usamos as informações como referência para os nossos diagnósticos, e posteriormente, as nossas públicações”.
Do Ministério das Cidades, Talita Stael, faz parte da Secretaria de Periferias trouxe os desafios na coleta de dados. “Há uma necessidade de quem vive nesses territórios, contar suas histórias. E por isso, pensamos no Mapa das Periferias, um projeto interativo que réune dados sistematizados desses locais, com a inclusão de dados do IBGE”.
O seminário foi organizado pela Coordenação-Geral de Participação e Articulação com os Movimentos Sociais do Ministério da Saúde, vinculada ao Departamento de Gestão Interfederativa e Participativa da Secretaria Executiva, em parceria com o IBGE, a Assessoria de Participação Social e Diversidade, a Fundação Oswaldo Cruz de Brasília (Fiocruz Brasília) e o Ministério das Comunicações.
Oficina mostra como utilizar dados do IBGE
Na programação da sexta-feira (12), o IBGE participou de uma série de atividades. A oficina, realizada na parte da manhã, combinou exposições técnicas e atividades práticas de extração e interpretação de dados, destacando como informações qualificadas podem orientar políticas públicas mais eficazes para favelas, comunidades urbanas, meninas e mulheres em situação de violência.
A jornalista de dados Vitória Régia da Silva abriu a manhã com o tema “Violência de gênero e números: como usar e interpretar dados sobre a violência no Brasil?”. Ela falou sobre a plataforma Mapa (Mapa Nacional da Violência de Gênero) — que integra dados atualizados e abertos sobre a violência de gênero. — Vitória explicou que a plataforma reúne bases públicas sobre violência contra meninas e mulheres em um ambiente interativo voltado à formulação de políticas.
“O Mapa é uma ferramenta que nos permite pensar em políticas públicas mais eficazes”, afirmou. Ela destacou que entender como a violência ocorre exige mais do que contar registros: é preciso interpretar tendências, identificar perfis de maior risco e sempre considerar uma perspectiva interseccional. “O dado serve para a gente agir. Sem dado não conseguimos construir políticas públicas”, disse. Segundo ela, os dados sobre gênero “revelam desigualdades invisíveis, fortalecem diagnósticos, fundamentam orçamentos e protegem políticas de mudanças de gestão”.
Vitória também reforçou a importância da integração das bases de dados disponíveis no MAPA, como Sinesp, DataJud, CNJ, DataSUS (SIM e Sinan), a Pesquisa Nacional de Violência contra a Mulher e registros do Ministério das Relações Exteriores. “O que não é medido não é priorizado, e o que não é visto, não é reparado”, resumiu.
Na segunda apresentação, as pesquisadoras Flávia Cândido, pesquisadora da Fiocruz e Thaís Cruz apresentaram o Dicionário de Favelas Marielle Franco, produzido na plataforma WikiFavelas. O projeto reúne verbetes, histórias, memórias e vivências das favelas brasileiras, propondo contranarrativas e ampliando a compreensão sobre esses territórios.
“Trazer um outro olhar é fundamental para repensarmos como as políticas públicas enxergam as favelas”, explicou Flávia. Thaís acrescentou que a plataforma se tornou referência acadêmica: foram mais de 70 citações em
jornais e artigos de opinião recentes. Segundo ela, “os dados não são só números — verbetes, histórias e vivências também são dados importantes, produzidos pelos próprios sujeitos de conhecimento”.
As pesquisadoras reforçaram que a plataforma é colaborativa e de livre acesso, convidando novos participantes. Flávia finalizou sua fala agradecendo a parceria com o IBGE: “Nossos dados são produzidos nessa parceria, em conjunto”.
A tecnologista Larissa Catalá, da Diretoria de Geociências (DGC) do IBGE, apresentou os resultados e avanços do Censo Demográfico 2022 relacionados às favelas e comunidades urbanas. Ela explicou o processo de atualização conceitual que substituiu o termo “aglomerados subnormais” — uma demanda de mais de 20 anos — pela nomenclatura adotada nos resultados recentes.
Larissa detalhou que o Censo 2022 é a maior pesquisa do país, tanto em sua parte censitária quanto amostral, e destacou a ampliação da identificação das favelas, incluindo municípios fora das grandes concentrações urbanas. “Mais de 70% das favelas têm porte menor”, explicou, reforçando a importância de análises territorializadas.
Na sequência, o analista Cláudio Stenner, da Gerência de Favelas e Comunidades Urbanas, aprofundou o debate sobre produção e uso dos dados. Segundo ele, “o valor do dado não é predeterminado; é atribuído pela capacidade de análise”. Stenner enfatizou a necessidade de letramento de dados para que a sociedade se aproprie das informações e da importância de garantir acessibilidade (dados encontráveis) e usabilidade (formatos adequados às necessidades de diversos públicos).
Ele apresentou ainda as ferramentas do IBGE voltadas à consulta de informações: o Panorama do Censo 2022, o SIDRA, a Plataforma Geográfica Interativa e o Portal de Dados — onde estão disponíveis metodologias, notas técnicas e análises detalhadas.
Atividade prática
Na parte final da oficina, ainda conduzida por Stenner, os participantes foram convidados a apresentar problemas enfrentados em favelas e as variáveis que gostariam de cruzar para encontrar respostas. Entre os temas destacados estavam:Temperatura elevada, com recortes de raça, cor e arborização; Mobilidade urbana e acessibilidade ao transporte público; Falta de saneamento e seus impactos sobre as crianças e mortalidade; Vulnerabilidade às mudanças climáticas, relacionando arborização, saneamento básico, cor ou raça e localização. A equipe do IBGE demonstrou como acessar essas informações nas plataformas institucionais e como interpretar os metadados necessários para análises responsáveis.
Qualidade e o uso social dos dados
A oficina reforçou o papel do IBGE na promoção de dados de qualidade, acessíveis e capazes de orientar políticas públicas para reduzir desigualdades. Ao longo da manhã, pesquisadores, jornalistas, técnicos e
representantes de movimentos sociais compartilharam experiências e refletem sobre como transformar informação em ação.
O seminário prosseguiu ao longo do dia com atividades voltadas à construção de políticas baseadas em evidências para a realidade das periferias brasileiras.