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Contas Econômicas Ambientais

IBGE retrata cobertura natural dos biomas do país de 2000 a 2018

Editoria: Geociências | Caio Belandi | Arte: Helena Pontes

24/09/2020 10h00 | Atualizado em 24/09/2020 11h26

  • Destaques

  • Biomas terrestres brasileiros perderam cerca de 500 mil km² de sua cobertura natural entre 2000 e 2018.
  • Em números absolutos, a maior perda neste período aconteceu no bioma Amazônia (269,8 mil km²), seguido pelo Cerrado (152,7 mil km²), mas, em termos percentuais, o Pampa foi o que mais perdeu área natural, -16,8%.
  • A cobertura florestal representava 81,9% da área total da Amazônia em 2000, proporção que se reduziu para 75,7% em 2018. Essa área foi substituída, principalmente, por áreas de pastagem com manejo, que passaram de 248,8 mil km² para 426,4 mil km² nesse período.
  • Entre 2000 e 2018, o Pantanal teve as menores perdas, em área (-2,1 mil km²) e em percentual (-1,6%), mas desde 2010, cerca de 60% das mudanças foram de áreas naturais campestres para pastagem com manejo.
  • A Mata Atlântica, que sofre a ocupação mais antiga e intensa, conservava apenas 16,6% de suas áreas naturais, em 2018, o menor percentual entre os biomas.
  • Todos os biomas brasileiros tiveram saldo negativo, mas a tendência nacional foi de diminuição da magnitude ao longo dos anos, com exceção do Pampa e do Pantanal.
#PraCegoVer Paisagem do bioma Amazônia em primeiro plano área desmatada e ao fundo a floresta
Área desflorestada no bioma Amazônia, no estado de Rondônia - Foto: Fernando Peres Dias/Acervo IBGE

Os biomas brasileiros perderam cerca de 500 mil km² de sua cobertura natural, passando de 5,9 milhões de km², em 2000, para 5,4km² em 2018. A maior redução de área nativa aconteceu na Amazônia, que encolheu 269,8 mil km², e no Cerrado, com menos 152,7 mil km² de cobertura natural. Somadas, as perdas dos dois biomas representam 86,2% do total. Já a redução mais intensa de cobertura natural em termos percentuais foi no Pampa, de -16,8%.

Os dados são das Contas de Ecossistemas: o Uso da Terra nos Biomas Brasileiros (2000-2018), que o IBGE divulga hoje (24), em mais uma etapa do projeto de incluir os indicadores ambientais do país nas Contas Nacionais. O estudo, realizado com base em imagens de satélite e pesquisas de campo, apresenta o grau de preservação dos ecossistemas e analisa as áreas naturais remanescentes a partir das conversões do uso da terra em atividades como agricultura, pastagem e silvicultura.

Bioma com mais perdas, a Amazônia tinha, em 2000, a cobertura florestal em 81,9% de sua área total, passando a 75,7% em 2018. A vegetação florestal foi substituída, principalmente, por áreas de pastagem com manejo – isto é, áreas de gramíneas com aplicação de técnicas específicas - que passaram de 248,8 mil km², em 2000, para 426,4 mil km² em 2018.

O estudo mostra que há um gradual crescimento da área agrícola na região, passando de 17 mil km² em 2000 para 66,3 mil km² em 2018, como explica a gerente de Contas e Estatísticas Ambientais do IBGE, Maria Luisa Pimenta.

“As mudanças na Amazônia indicam um padrão do chamado ‘arco de povoamento’, inicialmente marcante nas bordas do bioma, em áreas de contato com o Cerrado, mas que, no retrato atual, também apresenta uma interiorização considerável, ao seguir construções de estradas, margens de rios e adjacências de obras de infraestrutura”.

No Cerrado, o cenário foi de expansão acelerada da agricultura, que ganhou 102,6 mil km2 no período de 2000 a 2018, substituindo a vegetação campestre e a florestal. Em 2018, 44,61% das áreas agrícolas e 42,73% das áreas de silvicultura do Brasil encontravam-se no Cerrado.

De acordo com Maria Luisa, a expansão da agricultura está relacionada às commodities agrícolas, com duas grandes concentrações: uma na região Centro-Sul (Paraná, São Paulo, Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso do Sul), com alta capacidade de investimento e aptidão agrícola do solo; e a outra no Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), área que vem sendo ocupada por plantações de soja, algodão e outras monoculturas de grãos e cereais.

 

No Pantanal, 60% das mudanças desde 2010 foram em áreas nativas que deram lugar a pastagens 

A pesquisa mostra também que, em 2018, o Pantanal tinha 87,5% de seu território com cobertura natural (vegetações florestal e campestre e área úmida) e teve as menores perdas em área (-2,1 mil km²) e percentual (-1,6%) de 2000 a 2018. Já entre 2016 e 2018, 75,3% das alterações tiveram o nível mais acentuado, de acordo com indicador de intensidade de mudanças utilizada na pesquisa, que avalia o grau de modificação no uso da terra.

Dentre as áreas com alterações por ação humana a partir de 2010 no Pantanal, a maioria (59,9%) correspondia a conversões de áreas naturais para pastagem com manejo. “É uma conversão típica do bioma: o pasto nativo vai sendo substituído por uma pastagem com inserção de técnicas e tecnologias agropecuárias”, afirma Maria Luisa, que explica que a pesquisa não mapeia qual a característica desta ação humana, como por exemplo, a aplicação de queimadas.

Mata Atlântica é único bioma cuja predominância não é de cobertura natural

De acordo com o estudo, ao longo dos 18 anos, houve uma desaceleração nas perdas de áreas naturais no país. A maior desaceleração ocorreu na Mata Atlântica, de uma perda de 8,7 mil km², entre 2000 e 2010, para menos 577 km², entre 2016 e 2018. A Mata Atlântica é o único bioma terrestre cuja predominância não é de cobertura natural. A vegetação florestal representava, em 2018, apenas 12,6% de seu território.

“As áreas naturais sofreram pouca alteração no período porque já são muito diminutas. No entanto, continuam a apresentar diminuição”, ressalta Maria Luisa. A Mata Atlântica é o bioma com a maior densidade demográfica do país, abrigando 49,3% das áreas urbanas nacionais em 2018, graças ao histórico de ocupação e urbanização, a partir do litoral, na formação do território do Brasil.

Na Caatinga, interferência humana é menor; perdas no Pampa são significativas

O estudo mostra que, em 2018, 35,9% da Caatinga é de área com interferência humana. O bioma apresenta uma diminuição contínua de suas coberturas naturais, e a vegetação campestre, que predominava na área total (49,9%) em 2000, teve sua área reduzida em 26,7 mil km² ao longo dos 18 anos.

De 2000 a 2018, 47,3% das mudanças de cobertura e uso da terra foram relativas à conversão de vegetação campestre em mosaico de ocupações em área campestre. De acordo com a especialista, esse tipo de mosaico é bastante representativo na região. “Há um número elevado de pequenos estabelecimentos rurais, caracterizados por cultivos de subsistência, pequenas pastagens ou sistemas agroflorestais”, diz Maria Luisa.

Já no Pampa, onde também predomina a vegetação campestre (45,4%) em 2000, o território sofreu alterações bastante intensas nas últimas décadas, tendo sido o bioma que mais perdeu área nativa proporcionalmente. A vegetação natural campestre diminuiu 15,6 mil km² entre 2000 e 2018. Neste período, 58% das áreas naturais foram convertidas em área agrícola, e 18,8%, em silvicultura. O estudo mostra que as substituições na região seguem a tendência nacional de investimento em commodities, sobretudo soja e outros grãos, mas também no cultivo de gêneros alimentícios, como arroz e trigo.

"Todos os biomas são muito diferentes entre si, mas o Pampa tem uma característica que o torna menos atrativo à opinião pública, já que não tem uma vegetação exuberante. Mas é uma área importante de bacias sedimentares, onde fica parte do Aquífero Guarani, um dos maiores e mais importantes mananciais hídricos subterrâneos do país”, descreve a especialista.