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Idosos mostram disposição e contribuem com o Censo Agropecuário

Editoria: Séries Especiais | Helena Tallmann, de Minas Gerais | Arte: Valberto Alves

29/01/2018 09h00 | Atualizado em 02/08/2019 14h18

Engana-se quem pensa que o destino dos idosos é deixar o mercado de trabalho e permanecer em casa. No Censo Agropecuário 2017, que está em campo até fevereiro, a participação dos idosos aparece como produtores rurais e recenseadores. Dos 20.803 recenseadores, há 222 pessoas com 60 anos ou mais trabalhando no Censo. 

Aos 75 anos, Marlene da Silva Oliveira trabalha no quarto recenseamento para o IBGE, em Santo Antônio do Monte (MG). A história dela com o instituto começou no Censo Demográfico 2000, após a aposentadoria, como forma de manter a rotina agitada que tinha no trabalho e combater a depressão. Agora, ela já pensa em participar do Censo Demográfico 2020. “Meu objetivo é conhecer os locais, ver a realidade das pessoas”, conta.

A recenseadora diz que a maior dificuldade de trabalhar em censos foi a adaptação do questionário de papel para o uso do Dispositivo Móvel de Coleta (DMC) no Censo Agro 2006. “Falei que ia desistir, mas tive o incentivo das minhas supervisoras maravilhosas. Você acredita que aprendi?”. Ainda que devagar, a persistência fez com que Marlene completasse o primeiro setor censitário, trabalhando agora no segundo, com mais de 100 estabelecimentos agropecuários visitados. Atualmente, Santo Antônio do Monte já tem 86,3% dos estabelecimentos previstos coletados. Em todo o estado de Minas Gerais, esse percentual é de 92,1%.

 

Recenseadores por faixa de idade e estado 

Estados 18-24 ANOS 25-39 ANOS 40-59 ANOS 60 ANOS ou +
AC 83 78 7 0
AL 176 160 9 1
AM 260 280 47 5
AP 13 21 3 0
BA 1112 1328 235 8
CE 458 517 99 4
DF 14 9 3 0
ES 143 179 63 2
GO 215 374 153 7
MA 424 471 70 3
MG 777 1090 375 37
MS 82 183 97 7
MT 150 337 149 7
PA 466 544 115 7
PB 261 268 28 0
PE 402 434 54 1
PI 464 477 42 1
PR 448 743 298 25
RJ 85 127 35 2
RN 130 157 16 1
RO 157 158 38 0
RR 35 29 9 0
RS 558 855 398 53
SC 212 415 190 20
SE 148 134 13 0
SP 335 449 272 29
TO 135 169 34 2
BRASIL 7743 9986 2852 222

Envelhecimento dos produtores e o êxodo rural

A idade dos agricultores brasileiros é uma das informações fornecidas pelos resultados do Censo Agro 2017. Com dados atualizados, será possível fazer recortes relevantes de cunho social e identificar tendências, entre elas o envelhecimento dos produtores e o êxodo rural.

“Em muitas propriedades há a participação do jovem no processo produtivo, mas ainda não é suficiente para sustentar a produção”, argumenta a coordenadora estadual de Metodologia de Extensão Rural da Emater (Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado Minas Gerais), Helena Silva. Ela aponta duas situações comuns na agricultura familiar: a sucessão para os filhos ou propriedades sem atividades significativas.

Josefa Cassiana dos Santos recebeu o IBGE no quintal de casa, com a enxada na mão. Os documentos dela apontam a idade de 83 anos, mas a senhora garante que completou 101 em 2017. Mãe de 16 filhos, ela lembra as dificuldades de uma vida de fazenda em fazenda para garantir o sustento, no Norte de Minas. A agricultora conquistou com esforço um pedaço de terra na “Estrada do Amargoso”, próximo do município de Verdelândia, onde cultiva hortaliças, feijão, milho e mandioca, além de criar gado.

“Dona” Josefa se alegra em ter alguns dos filhos por perto – outros também residem na região, dedicados a funções rurais, ou preferiram se mudar para a cidade. “A maioria não tem nenhuma profissão, o que aprendeu é a agricultura mesmo”, explica, Maria José, de 40 anos, neta da idosa que tem além dela 57 netos. Diferente dos parentes, ela atua como assistente social na mesma localidade.

Aos 101 anos, Dona Josefa cultiva hortaliças, feijão, milho e mandioca na sua terra em Verdelândia (MG)

Antônio Mariano dos Santos tem 81 anos e trabalha desde os 12. Nasceu, foi criado e vive até hoje na Fazenda Santa Luzia, pequena propriedade a 32 quilômetros de Passos, no Sul de Minas. Ele compartilha as obrigações com o filho Celso, de 55 anos. Os dois tocam sozinhos a produção de leite e plantação de milho, dividindo os lucros; as outras três filhas do produtor residem no centro urbano. Apesar de gostar da companhia de Celso, o agricultor se questiona se o filho teria uma melhor qualidade de vida na cidade e observa que os jovens têm escolhido mudar de ramo.

Aposentadoria rural

Nos dois casos, os produtores idosos se mantêm ativos – mesmo que com limitações – e não têm intenção de deixar a roça. Tanto Josefa quanto Antônio são segurados especiais do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), porque se enquadram na categoria de agricultor familiar, que dá direito à aposentadoria por idade após os 60 anos para homens e 55 para mulheres, desde que comprovem o tempo mínimo de trabalho rural.

A coordenadora da Emater Helena Silva ressalta a relevância de se debater a sucessão rural, porque “mesmo que a taxa de êxodo esteja reduzindo, a migração campo-cidade ainda é componente importante na dinâmica demográfica brasileira”, o que traz impactos para a produção agropecuária, principalmente a familiar.

Experiência de sobra

O passar dos anos traz consigo o privilégio de acumular histórias, experiências e conhecimentos – atributos que têm grande valia na execução de um censo. “Todas as questões básicas do Censo a gente já sabe de cor, essa visão sistêmica facilita bastante na tomada de decisão e a identificar problemas já resolvidos em oportunidades anteriores”, explica Jonas Pio da Veiga, de 68 anos, 44 deles dedicados ao IBGE.

Atualmente, o servidor atua como coordenador de área do Censo Agro em Governador Valadares, mas seu currículo é extenso, sendo a sua primeira operação censitária o Censo Agropecuário de 1975, no sul mineiro. De lá para cá Jonas já trabalhou em Belo Horizonte e até na África, onde auxiliou na implantação do censo em São Tomé e Príncipe.

Ele aponta o ano 2000 como grande marco em razão da introdução dos computadores nas agências do IBGE. “As nossas carretas de papel desapareceram com isso. Eu, por exemplo, já recebi 20 toneladas de questionário para o meu setor”, exemplifica.

Quando perguntado sobre o que mudou no Censo Agro, ele afirma que antes a maior dificuldade era o deslocamento, já superada, mas outra ainda permanece: o receio dos informantes em prestar as informações: “as pessoas ligam muito à questão de fiscalização, achando que vai ter relação direta com impostos”, conclui, lembrando que as informações prestadas ao IBGE têm caráter sigiloso e fim exclusivamente estatístico.