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Para marcar os 40 anos de pesquisa e divulgação do IPCA - índice oficial de inflação do Brasil - o IBGE apresenta reportagem especial com histórias, vídeos e curiosidades sobre o sobe e desce dos números nas últimas quatro décadas.

A HIPERINFLAÇÃO NO BRASIL

"Aumento persistente dos preços em geral,
de que resulta uma contínua perda
do poder aquisitivo da moeda."

(Novíssimo Dicionário de Economia, de Paulo Sandroni)

MINUTO IBGE - IPCA 40 ANOS

A definição formal talvez não seja de fácil entendimento, mas quando se fala de inflação, todo brasileiro sabe do que se trata.

Embora pareça hoje uma questão superada, a inflação já foi um grande problema no Brasil, quando maltratava bolsos, desgastava a economia e corroía orçamentos. Na década de 80, chegou a superar os 82% ao mês, de acordo com o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo). Foi necessária uma série de planos econômicos, formulados por sucessivos governos, para enfim dominar o problema.

"A inflação é uma coisa terrível", resume o administrador aposentado Nelson Pimenta, relembrando os tempos de instabilidade monetária e hiperinflação. Foi nesse cenário econômico que, em 28 de fevereiro de 1986, o então presidente da República, José Sarney, anunciou o Plano Cruzado.

"O plano congelou preços e salários e substituiu a moeda corrente, o velho cruzeiro, pelo cruzado, sendo que o cruzeiro correspondia a um milésimo do cruzado", recorda o professor de economia Luiz Roberto Azevedo Cunha, decano da PUC-RJ e que atuou como secretário de Abastecimento e Preços nos primeiros meses do plano. "De um dia para o outro, a população teve de aprender a cortar três zeros e se adaptar à nova realidade", afirma. Com os preços proibidos de subir, não demorou muito para surgir o desabastecimento e o ágio em produtos básicos.

Foi quando Nelson Pimenta, ao lado da mulher, Thêmis, teve de correr atrás de remédios para a filha, num momento em que as farmácias escondiam medicamentos para forçar a alta de preços. “Prateleiras vazias viraram cena comum”, confirma a dona de casa. “O pior é que a inflação disparou de novo e depois ainda veio o Plano Collor, que confiscou a poupança de todo mundo”, relembra Pimenta.

Anunciado em 16 de março de 1990, o Plano Collor foi mais uma tentativa de dominar a inflação. "O governo outra vez congela preços e salários, muda a moeda e restringe o consumo. A novidade era o bloqueio de parte das contas correntes e cadernetas de poupança que excediam o valor de 50 mil cruzados novos. O erro foi manter a indexação da economia", critica Cunha.

O que é indexação

O professor acrescenta, ainda, que esse problema foi solucionado somente quatro anos depois, com a criação da Unidade Real de Valor (URV), que precedeu a nova moeda, o real. "A URV foi uma espécie de moeda paralela que convertia preços e valores em um novo padrão monetário, para tentar controlar a inflação. Ela serviu de transição entre o cruzeiro real e o real, e sofria variação diária", lembra. Sem congelamentos ou medidas mais drásticas, no dia 1° de julho de 1994 a URV foi, enfim, substituída pela moeda que usamos atualmente.

"Com a chegada do Real, veio a estabilidade que temos hoje", confirma Pimenta. Dos tempos de hiperinflação, restou o hábito da esposa, Thêmis, que até hoje registra as despesas e receitas mensais da família em coloridos caderninhos. "Fica tudo anotado: as contas, os aumentos e até os presentinhos para filhos e netos", brinca.

 

OS ÍNDICES DE INFLAÇÃO NO BRASIL

O gerente de planejamento e metodologia do IBGE, Vladimir Miranda, conta que a ideia de medir o custo de vida de trabalhadores remonta há quase 100 anos, quando na Europa se pesquisava uma cesta de consumo de operários da indústria, a fim de promover reajustes salariais. "De lá para cá, essa medida sofreu várias modificações e, há 40 anos, vem sendo pesquisada no Brasil pelo IBGE", acrescenta.

O IBGE herdou a produção de índices de preços do Ministério do Trabalho, que, durante muito tempo foi o órgão responsável por calcular o sobe e desce da inflação no país. O primeiro índice de preços do IBGE foi o INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor). Criado em março de 1979, ele mede a inflação das famílias assalariadas cujo rendimento mensal fica entre um e cinco salários mínimos.

O IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), que mensura a elevação dos custos das famílias que ganham de um a 40 salários, chegou pouco tempo depois. Foi divulgado pela primeira vez em janeiro de 1980, com dados referentes a dezembro do ano anterior. O IPCA é usado como o índice de preços balizador do regime de metas para a inflação do Brasil, que está em vigor desde 1999. Por isso, é considerado o índice oficial de inflação do país.

 

O CAMINHO DO IPCA

Mas afinal, como o IBGE calcula o IPCA? “Resumidamente, pode-se dizer que tudo passa pelo Sistema Nacional de Índice de Preços ao Consumidor (SNIPC), que engloba todas as etapas de produção, desde a coleta nas 16 áreas de abrangência do índice até a divulgação, passando-se pela análise crítica dos técnicos do IBGE”, explica o gerente do SNIPC, Pedro Kislanov.

A base para a escolha dos produtos e serviços que vão compor a cesta de consumo do IPCA - e que terão seus preços monitorados para o cálculo do índice - é a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF). É ela que apura os itens mais consumidos pela população e quanto do rendimento familiar é gasto em cada um deles.

“Então aqueles itens que têm mais peso no orçamento das famílias vão entrar com mais força no cálculo da inflação”, enfatiza o coordenador de índice de preços do IBGE, Gustavo Vitti. O economista ressalta, ainda, que o IPCA representa uma variação média de preços ao longo do tempo.

A última POF foi realizada pelo IBGE em 2017 e 2018 e seus resultados foram divulgados no ano passado. Para acompanhar as mudanças nos hábitos de consumo da população captadas pela pesquisa, os produtos e serviços usados para medir a inflação oficial do país serão atualizados a partir do índice de janeiro - que será divulgado em fevereiro de 2020.

Foram incluídas novas tendências, como transportes por aplicativo e serviços de streaming, passando por tratamento e higiene de animais domésticos. Outros itens que começarão a fazer parte do cálculo da inflação oficial são gastos relacionados à vida saudável e estética, como sobrancelha, cabeleireiro, barbeiro, depilação e atividade física.

Com a experiência de quem coordenou as pesquisas de índice de preços por mais de uma década, a pesquisadora do IBGE Márcia Quintslr, enfatiza que as estatísticas de inflação, além de exercerem um papel fundamental na economia, também têm uma importância social.

“A estatística de preços tem essa interface, tanto porque ela pode definir negociação salarial mesmo na ausência de indexação, como também indica onde é mais caro viver, onde é mais barato, que produto encareceu mais que outro e o que as famílias precisam mudar na sua forma de viver em função desses preços", destaca. E completa: "é a nossa estatística com o uso que ela precisa ter, que é servir a sociedade e favorecer as relações democráticas de forma mais intensa e precisa possível”.

  • Edição de conteúdo Mônica Marli
  • Reportagem Carlos Alberto Guimarães
  • Design Jessica Cândido
  • Arte Simone Mello
  • Ilustração Brisa Gil