Brasil sedia mais importante congresso de estatística do mundo
13/07/2015 11h27 | Atualizado em 25/05/2017 12h48
Entre 26 e 31 de julho, no Rio de Janeiro, acontecerá o 60º Congresso Mundial de Estatística do International Statistical Institute (ISI). Reunindo os especialistas mais respeitados dessa área científica, o evento irá discutir como os diversos aspectos da nossa realidade econômica, social e ambiental serão medidos ao longo do século XXI.
Com 130 anos de existência, o ISI é a mais antiga e mais importante associação de estatísticos do mundo. Em 2015, pela primeira vez, um brasileiro ocupará a sua presidência. O IBGE é o anfitrião do evento que, depois de 60 anos, volta a se realizar em nosso país.
1.600 inscritos. 1300 artigos. 250 seções convidadas ou especiais. Por trás desses números, o estado da arte em estudos estatísticos produzidos por 130 países.
Modelagem, amostras, séries temporais, big data e computação estão entre os vários temas a serem discutidos. Aplicações estatísticas no mercado financeiro, nos esportes e em estudos sobre desemprego, demografia e desigualdade de gênero continuam em foco, bem como as interdisciplinaridades com a astronomia, a biologia, a física e a medicina. No entanto, há cada vez mais estudos estatísticos voltados para o meio ambiente e a “economia verde”.
O congresso do ISI discutirá também abordagens quantitativas inéditas, para temas como a corrupção, direitos humanos e turismo. Além disso, o ISI tradicionalmente avalia os diversos aspectos da cooperação internacional entre os órgãos oficiais de estatística. As seções do ISI acontecerão no Riocentro, zona oeste do Rio de Janeiro.
130 anos de estatísticas e cidadania
Fundado em 1885, o International Statistical Institute é a mais antiga e mais importante associação de estatísticos do mundo. Sua missão é promover a compreensão, o desenvolvimento e as boas práticas nas diversas áreas da estatística. Tem cerca de quatro mil membros originários de 130 países, dos quais mais de dois mil são eleitos em função de suas contribuições científicas.
Vários de seus integrantes participaram da elaboração dos Princípios Fundamentais das Estatísticas Oficiais, adotados por diversos institutos nacionais de estatísticas (inclusive o IBGE) e recentemente endossados pela Assembleia Geral da ONU. Os congressos bienais do ISI vêm se realizando desde 1887 (Roma), com duas breves interrupções durante as duas guerras mundiais. O Brasil estava entre os 11 países representados no primeiro congresso do ISI.
Pela primeira vez o ISI será presidido por um brasileiro
Em 2015, o professor Pedro Luis do Nascimento Silva, pesquisador-titular da Escola Nacional de Ciências Estatísticas (ENCE/IBGE), foi eleito presidente do ISI. É a primeira vez que um brasileiro recebe essa responsabilidade, o que traduz o reconhecimento internacional da estatística produzida em nosso país e, também, do IBGE, anfitrião dessa edição do congresso mundial.
Doutor em Estatística pela University of Southampton (1996), o professor Pedro é considerado o mais importante especialista do Brasil na área das pesquisas amostrais. No IBGE, há mais de 30 anos desempenha importante papel no desenvolvimento de métodos estatísticos. No exterior, foi professor da Universidade de Southampton e consultor do Office for National Statistics, no Reino Unido. Também presidiu a International Association of Survey Statisticians e o Instituto Interamericano de Estatística. Em 2014, foi eleito fellow da American Statistical Association, titulação concedida anualmente e limitada a menos de 1% dos membros dessa associação.
Há 60 anos, os grandes nomes da Estatística visitavam Petrópolis
Essa não é a primeira vez que o congresso do ISI acontece no Brasil. Em 1955, o país foi sede do 29º Congresso Mundial de Estatística, que reuniu os ‘grandes’ desse campo científico, cujos nomes estão, hoje, associados a métodos, equações ou teoremas fundamentais. Há exatos 60 anos, a cidade de Petrópolis recebeu mais de cem cientistas, oriundos de 40 países, entre os quais estavam o inglês Ronald Fisher (fundador da estatística moderna, que também deu enorme contribuição à genética), o indiano Calyampudi Radhakrishna Rao (teórico da inferência estatística, ainda ativo), os estadunidenses Walter Willcox (estatística não-paramétrica e o teste que leva seu nome) e Gertrude Cox (planejamento de experimentos estatísticos), o francês Émile Borel (introdutor do teorema do macaco infinito e do lema de Borel–Cantelli) e o italiano Corrado Gini (criador do famoso índice que mede a desigualdade de renda).
O então ministro das Relações Exteriores, Raul Fernandes, abriu o evento. A delegação brasileira foi chefiada por Teixeira de Freitas (idealizador do IBGE, que organizou a estatística brasileira através da integração das três esferas de governo) e também contou com o italiano Giorgio Mortara (pai da demografia brasileira, que coordenou os dois primeiros censos populacionais do IBGE). Durante o congresso, o Hotel Quitandinha (um dos mais luxuosos do país, na época) abrigou uma exposição aberta ao público, com diversos painéis sobre a realidade social e econômica do Brasil, além de uma coleção de publicações produzidas pelos institutos oficiais de estatística de diversos países.