PNAD COVID19: 9,7 milhões de trabalhadores ficaram sem remuneração em maio
24/06/2020 14h00 | Atualizado em 16/07/2020 17h22
Entre os 84,4 milhões de trabalhadores do país, cerca de 19,0 milhões estavam afastados do trabalho e, entre estes, 9,7 milhões estavam sem sua remuneração, o equivalente a 11,5% da população ocupada em maio de 2020. Nesse mês, cerca de 16,8% dos trabalhadores do Nordeste e 15,0% do Norte estavam sem remuneração.
No Nordeste, 26,6% dos trabalhadores (ou 5 milhões de pessoas) estavam afastados do trabalho pela pandemia, a maior proporção entre as cinco regiões.
Em maio, a PNAD COVID19 constatou que 27,9% da população ocupada (ou 18,3 milhões de pessoas) trabalharam menos do que a sua jornada habitual, enquanto cerca de 2,4 milhões de pessoas trabalharam acima da média habitual. A média semanal de horas efetivamente trabalhadas (27,4h) no país ficou abaixo da média habitual (39,6h).
Efeito similar foi observado no rendimento efetivo dos trabalhadores (R$ 1.899), que ficou 18,1% abaixo do rendimento habitual (R$ 2.320).
Em maio, 38,7% dos domicílios do país receberam algum auxílio monetário do governo relacionado à pandemia, no valor médio de R$ 847. Mais da metade dos domicílios das regiões Norte e Nordeste receberam esse tipo de auxílio.
Em maio, 24 milhões de pessoas apresentaram sintomas associados à COVID-19 e a região Norte mostrou o maior percentual (18,3%) de pessoas nessa condição.
Norte e Nordeste têm as maiores taxas de desocupação
Em maio, a PNAD COVID19 estimou que o país tinha 160,9 milhões com 14 anos ou mais de idade, a chamada população em idade de trabalhar. A população na força de trabalho eram 94,5 milhões, dos quais 84,4 milhões eram ocupados e 10,1 milhões desocupados. A população fora da força de trabalho somava 75,4 milhões de pessoas.
As mulheres eram maioria na população residente (51,1%) e na população em idade de trabalhar (51,6%), mas não na força de trabalho (43,5%). Entre os ocupados, as mulheres representavam 42,8% e, entre os desocupados, 49,5%.
O total de desocupados ficou em 10,1 milhões de pessoas e a taxa de desocupação chegou a 10,7%. As taxas das regiões foram: Centro-Oeste (11,4%) Nordeste (11,2%), Norte (11,0%), Sudeste (10,9%) e Sul (8,9%). A taxa de desocupação entre as mulheres (12,2%) foi maior que a dos homens (9,6%).
26,6% dos trabalhadores do Nordeste foram afastados do trabalho pela pandemia
Entre os 84,4 milhões de trabalhadores do país, 19,0 milhões (ou 22,5%) estavam afastados do trabalho que tinham na semana de referência e 15,7 milhões (ou 18,6%) estavam afastados devido ao distanciamento social. O Nordeste apresentou o maior percentual (26,6%) de pessoas afastadas do trabalho devido ao distanciamento social, enquanto a região Sul foi a menos afetada (10,4%).
Pessoas ocupadas e pessoas que estavam temporariamente afastadas do trabalho – maio de 2020
Ocupados (mil pessoas) | Total de afastados (mil pessoas) | Total de afastados devido ao distanciamento social (mil pessoas) | Percentual ocupados de afastados (%) | Percentual de ocupados afastados devido ao distanciamento social (%) | ||
---|---|---|---|---|---|---|
Brasil | 84 404 | 18 964 | 15 725 | 22,5 | 18,6 | |
Norte | 6 372 | 1 792 | 1 487 | 28,1 | 23,3 | |
Nordeste | 18 830 | 5 726 | 5 001 | 30,4 | 26,6 | |
Sudeste | 38 077 | 8 233 | 6 801 | 21,6 | 17,9 | |
Sul | 13 949 | 1 976 | 1 447 | 14,2 | 10,4 | |
Centro-Oeste | 7 176 | 1 237 | 990 | 17,2 | 13,8 |
O grupo etário com a maior proporção de pessoas afastadas do trabalho foi o de 60 anos ou mais de idade: 27,3%. Esse comportamento que foi verificado em todas as grandes regiões e, no Nordeste, o afastamento chegou a 33,3% das pessoas de 60 anos ou mais de idade.
Quase 10 milhões de trabalhadores ficaram sem remuneração devido à pandemia
Entre os 19,0 milhões de trabalhadores do país que estavam afastados do trabalho na semana de referência, aproximadamente 9,7 milhões de pessoas estavam sem a remuneração do trabalho. Este total representava 51,3% das pessoas afastadas do trabalho que tinham e correspondia a 11,5% do total de ocupados. Nordeste e Norte mostraram os maiores percentuais de pessoas afastadas do trabalho e sem remuneração: 55,3% e 53,2% das pessoas afastadas e 16,8% e 15,0% da população ocupada na região, respectivamente.
Pessoas ocupadas e pessoas e temporariamente afastadas do trabalho – maio de 2020
Ocupados (mil pessoas) | Afastados sem remuneração (mil pessoas) | Percentual de afastados sem remuneração entre os afastados (%) | Percentual de afastados sem remuneração entre os ocupados (%) | |
---|---|---|---|---|
Brasil | 84 404 | 9 728 | 51,3 | 11,5 |
Norte | 6 372 | 953 | 53,2 | 15,0 |
Nordeste | 18 830 | 3 164 | 55,3 | 16,8 |
Sudeste | 38 077 | 4 192 | 50,9 | 11,0 |
Sul | 13 949 | 828 | 41,9 | 5,9 |
Centro-Oeste | 7 176 | 591 | 47,8 | 8,2 |
Domésticos sem carteira têm a maior taxa de afastamento devido à pandemia
Entre as categorias de ocupação investigadas pela PNAD COVID19, os maiores percentuais de pessoas afastadas devido à pandemia estavam entre os trabalhadores domésticos sem carteira (33,6%), os empregados do setor público sem carteira (29,8%) e os empregados do setor privado sem carteira (22,9%).
Em relação aos grupamentos de atividade, o da Agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura registrou o menor percentual de pessoas afastadas (6,8%), enquanto Outros serviços (37,8%), Serviço doméstico (28,9%) e Alojamento e alimentação (28,5%) tiveram maior proporção de pessoas afastadas do trabalho.
Nível superior predomina entre os trabalhadores remotos
Cerca de 77,5% do total de ocupados (ou 65,4 milhões) não estavam afastados do trabalho. Entre os não afastados, 8,7 milhões trabalhavam de forma remota (home office), o equivalente a 13,3% da população ocupada que não estava afastada.
O percentual de mulheres trabalhando remotamente (17,9%) superou o dos homens (10,3%). Entre as pessoas com nível superior completo ou pós-graduação, 38,3% estavam trabalhando remotamente. Os percentuais foram muito baixos entre os sem instrução ou com fundamental incompleto (0,6%), bem como para o nível fundamental completo e médio incompleto (1,7%). Para aqueles com médio completo e superior incompleto o percentual ficou em 7,9%.
Média semanal de horas efetivamente trabalhadas fica abaixo da média habitual
No Brasil e em todas as regiões, caiu o número de efetivamente horas trabalhadas pelas pessoas ocupadas e não afastadas. O número médio de horas habituais foi de 39,6 horas por semana, contra 27,4 horas semanais efetivamente trabalhadas. A maior disparidade entre as horas habituais e efetivas foi verificada no Nordeste.
No Brasil, em maio, 18,3 milhões pessoas ocupadas e não afastadas (ou 27,9% desse contingente) trabalharam efetivamente menos horas que as habituais.
Na direção oposta, cerca de 2,4 milhões de pessoas ocupadas trabalharam efetivamente acima da média de horas de habituais, o que correspondia a 3,6% das pessoas ocupadas e não afastadas. Nas grandes regiões, este percentual variou de 2,7% no Sul a 4,1% no Sudeste.
Rendimento efetivo dos trabalhadores é 18,2% menor que o rendimento habitual
O rendimento habitual de todos os trabalhos ficou, em média, em R$ 2.320, para Brasil, e o efetivo em R$ 1.899, ou seja, o efetivo representava 81,8% do habitualmente recebido. Nordeste e Sudeste registraram as maiores diferenças, respectivamente: 80,3% e 80,7% entre o efetivamente e o habitualmente recebido.
Indicadores de rendimento médio real dos ocupados com rendimento do trabalho (R$) – maio de 2020
Brasil | Norte | Nordeste | Sudeste | Sul | Centro- oeste | |
---|---|---|---|---|---|---|
Rendimento habitual | 2.320 | 1.789 | 1.643 | 2.634 | 2.501 | 2.532 |
Rendimento efetivo | 1.899 | 1.495 | 1.319 | 2.126 | 2.099 | 2.168 |
Massa de rendimento médio real normalmente recebido | 192.957 | 11.064 | 30.355 | 99.363 | 34.189 | 17.986 |
Massa de rendimento médio real efetivamente recebido | 157.914 | 9.248 | 24.380 | 80.196 | 28.691 | 15.400 |
Razão do rendimento efetivo e habitual | 81,8 | 83,6 | 80,3 | 80,7 | 83,9 | 85,6 |
Pessoas fora da força de trabalho devido à pandemia predominam no Nordeste
Em maio, havia 75,4 milhões de pessoas fora da força de trabalho no Brasil, dos quais 34,9% não procuraram trabalho, mas gostariam de trabalhar, e 24,5% não procuraram principalmente devido à pandemia ou porque faltava trabalho na localidade em que residia, mas também gostaria de trabalhar. Nas regiões Nordeste e Norte, ficaram acima dos 30% os percentuais de pessoas fora da força de trabalho e que gostariam de trabalhar, mas não procuraram trabalho.
Ao somarmos a população fora da força que gostaria de trabalhar, mas que não procurou trabalho, com a população desocupada, temos 36,4 milhões de pessoas pressionando o mercado de trabalho em busca de alguma ocupação ou que estariam se tivessem procurado trabalho. Quando o motivo de não ter procurado estava relacionado à pandemia ou à falta de trabalho na localidade, o total de pessoas foi de 28,6 milhões de pessoas.
Desocupados e pessoas fora da força que gostariam de trabalhar, mas não procuraram trabalho – maio
38,7% dos domicílios receberam algum auxílio monetário relacionado à pandemia
A proporção de domicílios que receberam algum auxílio relacionado à pandemia foi para Brasil de 38,7% do total, as Regiões Norte e Nordeste foram as que apresentaram os maiores percentuais, 55,0% e 54,8%, respectivamente. Entre os auxílios estão o Auxílio Emergencial e a complementação do Governo pelo Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda. O valor médio recebido pelos domicílios, para Brasil, foi de R$ 847.
Percentual de domicílios que receberam auxílio relacionado à pandemia e valor médio recebido
4,2 milhões de pessoas apresentaram sintomas conjugados associados à COVID-19
Nos domicílios visitados pela PNAD COVID19 em maio, foi perguntado a todos os moradores se, na semana anterior a entrevista, algum deles apresentou: febre; tosse; dor de garganta; dificuldade de respirar; dor de cabeça; dor no peito; náusea; nariz entupido ou escorrendo; fadiga; dor nos olhos; perda de cheiro ou de sabor; e dor muscular. Os sintomas foram informados pelo morador e não se pressupõe a existência de um diagnóstico médico.
Muitos estudos na área da saúde identificaram sintomas que podem estar associados ao virus COVID19. Neste sentido, e seguindo esta literatura, foi possível conjugar os sintomas para apresentar um indicador sintese. Os conjuntos de sintomas utilizados foram: perda de cheiro ou de sabor, ou tosse e febre e dificuldade para respirar, ou tosse e febre e dor no peito.
Em maio, cerca de 24 milhões de pessoas (ou 11,4% da população) mostraram algum dos sintomas de sindromes gripais. A perda de cheiro ou de sabor foi informada por 1,8% da população (3,8 milhões de pessoas). A seguir, vieram tosse, febre e dificuldade para respirar (0,5% ou 1,0 milhão de pessoas) e tosse, febre e dor no peito ( 0,5% ou 991 mil pessoas).
Região Norte tem o maior percentual de pessoas com sintoma de síndrome gripal
A região Norte apresentou o maior percentual de pessoas com algum sintoma gripal (18,3% ou 3,3 milhões de pessoas), assim como o maior percentual de pessoas com algum dos sintomas conjugados (7,8% ou 1,4 milhão de pessoas). Por outro lado, o Centro-Oeste teve os menores percentuais: 7,3% ou 1,2 milhão de pessoas com algum sintoma e 0,4% ou 73 mil pessoas com algum sintoma conjugado.
Em termos do indicador sintese, 4,2 milhões de pessoas (ou 2,0% da população) apresentaram sintomas conjugados de síndrome gripal que podiam estar associados à COVID-19 (perda de cheiro ou sabor ou febre, ou tosse e dificuldade de respirar ou febre, ou tosse e dor no peito).
Os percentuais de pessoas que informaram ter algum dos sintomas de síndromes gripais pesquisadas foram mais alto no Amapá (26,6%), Pará (21,3%), Amazonas (18,9%), Ceará (16,5%) e Maranhão (15,1%). Os mesmos estados apresentaram os maiores percentuais de pessoas com sintomas conjugados.
Percentual de pessoas com algum dos sintomas de sindromes gripais na população (%)
58,2% das pessoas com algum sintoma de sindrome gripal eram pretos ou pardos
Entre as pessoas que apresentaram algum dos sintomas pesquisados de sindromes gripais, 56,7% eram mulheres, 50,6% tinham entre 30 e 59 anos, 58,2% se declararam de cor preta ou parda, 32,8% não haviam completado o ensino fundamental e 34,8% tinham o ensino médio completo ao superior incompleto.
Já entre as pessoas que apresentaram algum dos sintomas conjugados, as mulheres representaram 57,4 e as pessoas pretas ou pardas 70,0%. Pela distribuição etária, o maior percentual foi entre as pessoas de 30 e 59 anos (55,2%), seguido pelo grupo entre 20 e 29 anos (21,1%) e pelos idosos com 60 anos ou mais (11,1%).
3,8 milhões de pessoas com sintoma buscaram atendimento e 74,8% delas, na rede pública
Cerca de 15,7% (ou 3,8 milhões) das pessoas com algum dos sintomas pesquisados procurou atendimento em estabelecimento de saúde, percentual que foi de 31,3% entre aqueles que apresentaram algum dos sintomas conjugados (ou 1,3 milhão de pessoas).
A maioria das pessoas procuraram atendimento em estabelecimentos públicos de saúde (postos de saúde, equipe de saúde da família, UPA, Pronto Socorro ou Hospital do SUS): 74,8% daqueles com algum sintoma e 78,2% daqueles com algum dos sintomas conjugados.
Na rede pública, a atenção primária à saúde destacou-se como o local principal dessa procura por atendimento em maio, com 1,7 milhão (44,6%) de pessoas com alguns dos sintomas e 605 mil (45,6%) de pessoas com alguns dos sintomas conjugados. A procura por pronto socorro do SUS ou por hospitais (públicos, privados ou ligados às forças armadas) também foi grande, respectivamente de 29,0% e 34,2% entre aqueles com sintomas conjugados e 23,6% e 29,7% entre aqueles com algum dos sintomas pesquisados.
Em maio, 31 mil pessoas com algum dos sintomas pesquisados foram intubadas
Entre a pessoas que procuraram atendimento em hospitais, 10,1% (113 mil) das que apresentaram algum dos sintomas pesquisados e 13,5% (61 mil) das que apresentaram algum dos sintomas conjugados precisaram ficar internadas. A maior parte destas pessoas internadas eram homens (59,4% e 62,3%, respectivamente) e de cor preta ou parda (56,3% e 61,3%, respectivamente). Além disso, mais de 40% eram idosos acima de 60 anos. Entre as pessoas internadas em hospitais, 27,2% (31 mil) das que apresentaram algum dos sintomas pesquisados e 36,1% (22 mil) daquelas com algum dos sintomas conjugados precisaram ser sedadas, intubadas e colocadas em respiração artificial.