PAIC 2018: Indústria da construção sofre com a queda nas obras de infraestrutura e nas contratações do setor público
27/05/2020 10h00 | Atualizado em 16/07/2020 17h22
A atividade da construção gerou R$ 278,0 bilhões em valor de incorporações, obras e/ou serviços da construção em 2018, sendo R$ 264,4 bilhões em obras e/ou serviços para construção (95,1%) e R$ 13,6 bilhões em incorporações. Os dados da Pesquisa Anual da Indústria da Construção (PAIC 2018) mostram que houve perda na participação das Obras de infraestrutura no valor da atividade entre 2009 e 2018, de 46,5% para 31,3%. Já o segmento de Construção de edifícios avançou de 39,5% para 45,5% nessa comparação, ocupando o primeiro lugar neste ranking; por fim, Serviços especializados para construção aumentou a participação em 9,2 pontos percentuais (p.p.) passando de 14% para 23,2%.
O setor público perdeu representatividade como cliente da indústria da construção, com queda de 12,5 p.p. nos últimos dez anos (de 43,2% para 30,7%) nos três segmentos: Obras de infraestrutura, passando de 61,5% para 50,4%; Construção de edifícios, caindo 6,7 p.p., de 28,6% para 21,9%; e os Serviços especializados para construção, de 20,4% para 19,3%.
O setor de construção englobava 124,5 mil empresas ativas ao final de 2018, indicando crescimento em relação a 2009, quando havia 63.829 empresas. Tomando como referência o período mais recente, entre 2015 e 2018, o setor perdeu cerca de 6,8 mil empresas, uma redução de 5,2%. Entre 2017 e 2018, a Indústria da construção perdeu 1.736 empresas, ou -1,37%.
Em 2018, as empresas da construção ocupavam 1,9 milhão de pessoas, contingente 9,0% menor do que em 2009 (2,1 milhões). Nesse período, esse setor perdeu cerca de 183,8 mil postos de trabalho. No período, o auge da ocupação no setor ocorreu em 2013, com cerca de 2,968 milhões de trabalhadores. Desse momento até 2018, a perda de postos de trabalho chegou a 1,1 milhão. Entre 2017 e 2018, a Indústria da construção perdeu 31.502 postos de trabalho, o equivalente a -1,66%.
Entre 2009 e 2018, a média de pessoal ocupado nessas empresas caiu de 33 para 15 pessoas, e o salário médio mensal passou de 2,6 para 2,3 salários mínimos.
Todos os segmentos tiveram queda na média de pessoal ocupado. O segmento que mais perdeu participação no emprego entre 2009 e 2018 foi de obras de infraestrutura, que tinha o maior porte médio (de 92 para 43) e a maior média salarial (de 3,4 para 2,8 salários mínimos).
Construção de edifícios tira as obras de infraestrutura da liderança em valor gerado
Os três setores da indústria da construção contribuíram, em 2018, com os seguintes montantes em valor de incorporações, obras e/ou serviços da construção: Construção de edifícios (R$ 126,6 bilhões), Obras de infraestrutura (R$ 87,0 bilhões) e Serviços especializados para construção (R$ 64,4 bilhões).
A principal mudança estrutural verificada no período foi a perda de espaço das Obras de infraestrutura, cuja participação passou de 46,5% em 2009 para 31,3% em 2018. Esta perda de relevância foi compensada pelo avanço do segmento de Construção de edifícios, que passou a compor 45,5% do valor de incorporações, obras e/ou serviços da construção em 2018, ocupando o primeiro lugar neste ranking. O segmento de Serviços especializados para construção ficou na terceira colocação, mas foi o que mais ganhou participação ao longo da década, com incremento de 9,2 p.p., passando de 14% para 23,2%.
Além disso, a participação do setor público na indústria da construção caiu 12,5 p.p. no período, saindo de 43,2% em 2009 para 30,7% em 2018. O segmento de Obras de infraestrutura, que sempre contou com uma participação significativa do setor público, teve a queda mais acentuada, passando de 61,5% para 50,4%, no período. Já a participação do segmento de Construção de edifícios recuou de 28,6% para 21,9%, o que colocou esta atividade num patamar próximo ao de Serviços especializados para construção (19,3%), que caiu apenas 1,1 p.p. no período.
De 2009 a 2018, indústria da construção perde quase 10% dos postos de trabalho
Os resultados da PAIC 2018 sugerem que o contexto de instabilidade econômica e institucional iniciado em 2015 não foi plenamente superado pela indústria da construção, que ainda sofreu as consequências dessa conjuntura negativa, o que levou ao adiamento de decisões de investimento e ao cancelamento de grandes projetos.
As empresas da construção empregavam um total de 1.869.592 pessoas ao fim de 2018, contingente cerca de 9,0% menor do que em 2009 (2.053.443). Nesse período, o setor perdeu cerca de 183,8 mil postos de trabalho.
Pesquisa Anual da Indústria da Construção 2009/2018 | ||||||||||
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Pessoal ocupado | ||||||||||
2009 | 2010 | 2011 | 2012 | 2013 | 2014 | 2015 | 2016 | 2017 | 2018 | |
Total | 2.053.443 | 2.430.119 | 2.658.643 | 2.858.180 | 2.968.136 | 2.891.141 | 2.439.997 | 2.000.884 | 1.901.094 | 1.869.592 |
41-Construção de edifícios | 889.494 | 984.060 | 1.011.366 | 1.182.717 | 1.230.690 | 1.200.651 | 977.458 | 795.291 | 703.807 | 702.053 |
42-Obras de infraestrutura | 755.240 | 830.729 | 892.621 | 960.200 | 961.338 | 911.616 | 710.955 | 549.196 | 534.268 | 547.642 |
43-Serviços especializados para construção | 408.710 | 615.331 | 754.656 | 715.263 | 776.108 | 778.874 | 751.584 | 656.397 | 663.019 | 619.897 |
O auge da ocupação no setor ocorreu em 2013, com cerca de 2,968 milhões de trabalhadores. Desse momento até 2018, a perda de postos de trabalho chegou a 1,1 milhão, uma redução de 37,0%. A queda foi mais intensa nos segmentos de construção de edifícios (43,0%, ou menos 529 mil postos) e no de obras de infraestrutura (também 43,0% ou 414 mil postos de trabalho a menos). Já nos Serviços Especializados para Construção, a perda foi de 20,1% (ou menos 156 mil postos de trabalho).
Entre 2017 e 2018, a Indústria da construção perdeu 31.502 postos de trabalho, o equivalente a -1,66%. A queda mais intensa se deu no segmento de Serviços especializados para a construção (43.122 postos a menos, ou -6,50%). No entanto, nesse período, a ocupação cresceu 2,5% no segmento de Obras de infraestrutura (ou 13.374 postos de trabalho a mais).
O perfil do emprego na distribuição setorial mudou drasticamente ao longo de 10 anos, tornando a composição mais homogênea entre as atividades. Em 2018, 37,5% dos postos de trabalho do setor estavam na construção de edifícios; 33,2% em serviços especializados; e 29,3% nas obras de infraestrutura.
A Construção de edifícios era a atividade que mais empregava em 2018, incorporando 37,5% das pessoas ocupadas (ante 43,6% em 2009). A atividade de Serviços especializados para construção, embora permaneça na segunda posição do ranking, foi a que mais ganhou espaço, aumentando sua participação em 13,3 p.p. nesse período e representando 33,2% dos trabalhadores da construção – ante 19,9% em 2009.
Já Obras de infraestrutura, vêm perdendo espaço na composição de mão de obra desde 2009, com uma redução de 7,2 p.p. em 10 anos, de 36,5% para 29,3%. Essa atividade também enfrenta redução no porte das empresas, de uma média de 92 pessoas, em 2009, para 43 pessoas em 2018.
Entre 2009 e 2018, remuneração média do setor de obras de infraestrutura cai de 3,4 para 2,8 salários mínimos
Quanto aos salários, o segmento de Obras de infraestrutura - historicamente com a remuneração média mais elevada - registrou 2,8 s.m. mensais em 2018 (ante 3,4 em 2009), na maior redução em dez anos, queda de mais de meio salário mínimo entre 2009 e 2018 Os segmentos de Construção de edifícios e o de Serviços especializados para construção registraram média de 2,1 s.m., preservando a estrutura apresentada ao longo da década.
Quase 7 mil empresas encerraram as atividades nos últimos três anos
O número de empresas no setor de construção passou de 63.829 em 2009 para 124.522 em 2018. Porém, comparando-se o pico da série histórica, em 2015, quando havia 131.318 empresas, houve uma queda de 5,2% (ou 6,8 mil empresas a menos na indústria da construção).
Pesquisa Anual da Indústria da Construção 2009/2018 | ||||||||||
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Número de empresas | ||||||||||
2009 | 2010 | 2011 | 2012 | 2013 | 2014 | 2015 | 2016 | 2017 | 2018 | |
Total | 63.829 | 76.308 | 93.375 | 104.534 | 116.720 | 127.933 | 131.318 | 126.943 | 126.258 | 124.522 |
41-Construção de edifícios | 32.527 | 27.974 | 32.516 | 43.338 | 49.203 | 53.142 | 51.514 | 49.723 | 47.054 | 47.438 |
42-Obras de infraestrutura | 8.117 | 10.189 | 9.117 | 10.388 | 11.240 | 11.477 | 11.829 | 12.036 | 12.775 | 12.799 |
43-Serviços especializados para construção | 23.185 | 38.145 | 51.742 | 50.808 | 56.277 | 63.314 | 67.975 | 65.184 | 66.429 | 64.285 |
As reduções ocorreram nos segmentos de Construção de edifícios (-4 mil empresas) e Serviços especializados (-3,7 mil empresas); apenas o segmento de infraestrutura teve expansão de cerca de 1 mil empresas.
Entre 2017 e 2018, a Indústria da Construção perdeu 1.736 empresas, ou -1,37%. No entanto, entre os segmentos, houve queda apenas em Serviços especializados para a construção (2.144 empresas, ou -3,23%). Ocorreram pequenas altas no segmento da Construção de edifícios (mais 384 empresas ou 0,82%) e em Obras de infraestrutura (24 empresas, ou 0,19%).
Gastos com pessoal atingem 32,2% das despesas da indústria da construção
O principal item de custos e despesas da atividade de construção, tanto em 2009 quanto em 2018, foi o referente aos gastos de pessoal, passando de 30,8% para 32,2%. O consumo de materiais de construção registrou queda de 25,3% para 22,9% do total. Por sua vez, as obras e/ou serviços contratados recuaram de 11,3%, em 2009, para 9,6%, em 2018. Estes dois últimos itens perderam participação nos últimos dez anos em face da modernização da produção, assim como as novas relações de trabalho, entre outras transformações significativas enfrentadas pelo setor. As demais categorias somadas representaram cerca de 35,3% dos custos e despesas.
Entre os produtos e/ou serviços oferecidos pelas empresas com 30 ou mais pessoas ocupadas, obras residenciais - que ocupava a terceira posição em 2009 -, passou a ser o conjunto com maior participação, respondendo por mais de ¼ do total em 2018. Já a construção de rodovias, ferrovias, obras urbanas e obras de arte especiais (relacionados notadamente às Obras de infraestrutura) ocupava a primeira posição neste ranking, mas passou para a terceira posição em 2018.
Participação da região Sul na indústria da construção foi a que mais cresceu
Entre 2009 e 2018, embora a região Sudeste tenha perdido participação, permaneceu liderando em termos de contribuição no valor de incorporações, obras e/ou serviços da construção com 49,2%, seguida do Nordeste (18,7%), Sul (17,2%), Centro-Oeste (8,7%) e Norte (6,2%). Destaca-se a redução da concentração do Sudeste em favor da Região Sul, que apresentou variação de 5,2 p.p., e da Região Nordeste, aumentando a participação em 1,9 p.p. em dez anos.
O Sudeste concentrou 48,2% do volume de trabalhadores da construção em 2018, ocupando a primeira posição neste ranking. Completam a lista, nesta ordem: Nordeste (20,4%), Sul (16,9%), Centro-Oeste (8,3%) e Norte (6,2%). Apenas a região Sul registrou evolução na comparação com 2009, tendo aumentado a sua participação em 3,3 p.p. no período.