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Em 30 anos, menos crianças desnutridas e mais adolescentes acima do peso

A Pesquisa de Orçamentos Familiares 2002-2003 do IBGE detectou que a desnutrição infantil diminuiu nos últimos 30 anos, especialmente entre os mais afetados pelo problema: as crianças das regiões Norte e Nordeste, e as das famílias com menores rendimentos

23/06/2006 07h01 | Atualizado em 23/06/2006 07h01

Diferenças regionais diminuíram muito em 30 anos

Nas regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste, os déficits caíram muito entre 1974-1975 e 1989: de 10%-12% para cerca de 3%-4% (gráfico 24). Entre 1989 e 1996 e entre 1996 e 2002-2003, a prevalência nessas três regiões aparenta flutuar em torno de 3%-4%. Já nas regiões Norte (urbano) e Nordeste, as prevalências eram mais altas (22%-25% em 1974-1975), mas a queda foi contínua, até 6,7% e 5,4%, respectivamente, em 2002-2003.

Em 1973-74, no grupo etário com menos de cinco anos de idade, o déficit de peso-para-idade atingia uma em cada cinco (20,8%) crianças em áreas urbanas, e uma em cada quatro (27,4%) nas áreas rurais (gráfico 25). Já em 2002-2003, apenas uma em cada 20, aproximadamente, encontrava-se nesse estado nutricional: ambos os percentuais despencaram, respectivamente, para 5,3% e 5,8%.

Prevalência de déficit de peso teve maior redução entre as crianças mais pobres

Dividindo-se as crianças menores de cinco anos de idade em cinco níveis de renda familiar per capita, nota-se enormes diferenças de prevalência no déficit peso-para-idade que, no entanto, diminuíram intensamente entre 1974-75 e 2002-03 (gráfico 26). Na década de 70, as prevalências atingiam 30,8% no primeiro quinto de renda (os 20% mais pobres) e 4,0% no último quinto (das famílias com maiores rendimentos per capita). Já em 2002-03, os percentuais eram 8,7% e 1,5%, respectivamente.

A queda da prevalência foi bem maior entre as crianças das famílias com menores rendimentos, enquanto nos quintos mais ricos, a oscilação foi mais amena, chegando a uma quase estabilidade entre os 20% mais ricos, principalmente ao longo dos últimos dois inquéritos. Assim, pela primeira vez, há uma clara tendência de redução das enormes desigualdades econômicas quanto à prevalência da desnutrição na infância.

Desigualdades regionais e de renda também afetam a estatura dos adolescentes

Cerca de 10% dos adolescentes brasileiros apresentavam déficits de altura-para-idade em 2002-2003, sendo maior a freqüência em meninos (11,3%) do que em meninas (8,3%). Entre meninos, os déficits de altura são mais freqüentes a partir dos 15 anos de idade, e entre as meninas não havia um padrão de variação (Tabela 12).

Em ambos os sexos, a freqüência de déficits de altura é cerca de três vezes maior na região Norte e duas vezes maior na Nordeste do que nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste. No Norte e Nordeste, os déficits de altura são bem mais freqüentes nas áreas rurais do que nas urbanas, situação não observada nas demais regiões.



A maior freqüência de adolescentes com déficits de altura ocorre entre meninos no Norte rural (28,8%) e a menor entre meninas no Sul rural (3,6%) (Tabela 13). Em ambos os sexos, a freqüência de déficits de altura diminui muito com o aumento da renda familiar: cerca de 20% dos adolescentes apresentam déficits de altura quando a renda é de até 0,5 salário mínimo per capita e 4-5% quando a renda é de 5 ou mais salários mínimos per capita (Tabela 14).

Prevalência de déficit de IMC-para-idade varia pouco entre os adolescentes

De acordo com o critério déficit de IMC-para-idade, a freqüência de adolescentes magros na população de adolescentes seria de 3,7% – 2,8% entre meninos e 4,6% entre meninas – não havendo variações substanciais com a idade (Tabela 12). Em ambos os sexos, a freqüência de déficits de IMC é ligeiramente maior nas regiões Norte e Nordeste do que nas demais regiões, permanecendo, entretanto, sempre abaixo de 4%, em meninos, e abaixo de 6%, em meninas.

Dentro de cada região, não se nota maior freqüência de déficit de IMC no meio rural. A maior freqüência de déficit de IMC ocorre entre meninas que vivem nas áreas urbanas das regiões Norte e Nordeste (5,6%) e a menor entre meninos do Sudeste urbano (2,1%) (Tabela 13).



Observa-se, ainda, certa tendência de redução da freqüência de déficit de IMC com a renda, particularmente no sexo masculino. Na menor classe de renda familiar, a freqüência de déficits de IMC é de 3,6% para meninos e de 5,8% para meninas enquanto, na maior classe de renda, a mesma freqüência é de 1,4% para meninos e de 4,6% para meninas (Tabela 14).



Excesso de peso já afeta um em cada cinco meninos do Sul , Sudeste e Centro-Oeste

A freqüência de adolescentes com excesso de peso foi de 16,7% em 2002-2003, e um pouco maior em meninos (17,9%) do que em meninas (15,4%). Em ambos os sexos, a freqüência foi máxima entre adolescentes de 10-11 anos (cerca de 22%), diminuindo para 12%-15% no final da adolescência (Tabela 12).

A freqüência de adolescentes do sexo masculino com excesso de peso foi maior nas regiões Sul (22,6%), Sudeste (21,5%) e Centro-Oeste (19,3%) do que nas regiões Norte (15,3%) e Nordeste (11,8%). Dentro de cada região, o problema em meninos foi sempre mais freqüente no meio urbano do que no meio rural. A menor freqüência do problema no sexo masculino ocorreu no Nordeste rural (6,8%) e a maior no Sul urbano (23,6%).

Há diferenças menos marcantes entre meninas. Nelas, a freqüência de excesso de peso foi apenas ligeiramente maior nas regiões Sul (17%), Sudeste (18%) e Centro-Oeste (15,6%) do que no Norte (13,9%) e Nordeste (11,6%). Apenas no Nordeste e Sudeste a freqüência foi claramente maior nas áreas urbanas do que nas rurais. A menor freqüência do excesso de peso feminino ocorreu no Nordeste rural (9,4%) e a maior, no Sudeste urbano (18,2%) (Tabela 13).

Em ambos os sexos, há evidência de associação entre renda familiar e excesso de peso. No sexo masculino, a freqüência do problema aumenta intensa e continuamente com a renda, indo de 8,5% na menor classe de renda (até 0,5 salário mínimo per capita) até 28,2% na maior classe de renda (5 ou mais salários mínimos per capita). No sexo feminino, o aumento do excesso de peso associado com a renda ocorre clara e intensamente apenas ao longo das três primeiras classes de renda – de 8,9% para 16,4% – pouco se modificando nas três classes seguintes de renda: 15,7%, 18% e 18,4% (Tabela 14).

Obesidade é mais freqüente entre as meninas e nas áreas urbanas

Pouco mais de 2% dos adolescentes brasileiros foram diagnosticados como obesos, sendo 1,8% os meninos obesos e 2,9% as meninas obesas. Além disso, em 2002-2003 havia um obeso para cada 10 meninos com excesso de peso e uma obesa para cada 5 meninas com excesso de peso. Observa-se, ainda, que a freqüência da obesidade pouco varia com a idade em meninos e tende a diminuir com a idade em meninas (Tabela 12).

Em ambos os sexos, a freqüência da obesidade é maior nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste do que nas regiões Norte e Nordeste e, dentro de cada região, tende a ser maior no meio urbano do que no meio rural. A maior freqüência de obesidade ocorreu entre meninas do Sudeste urbano (4%) e a menor entre meninos do Nordeste rural (0,2%) (Tabela 13).

No sexo masculino, a freqüência da obesidade aumenta intensa e continuamente com a renda familiar, alcançando 0,4% dos adolescentes quando a renda é de até 0,5 salário mínimo per capita e 4,1% quando a renda é de 5 ou mais salários mínimos per capita. No sexo feminino, o aumento da obesidade ocorre apenas até a terceira classe de renda – de 1,4% para 3,3% – pouco se modificando nas três classes seguintes de renda: 3,2%, 3,6% e 3,1% (Tabela 14).

Em 14 anos cai o déficit de altura-para-idade e cresce o excesso de peso entre adolescentes

Declínios intensos e contínuos caracterizam a evolução da freqüência de déficit de altura-para-idade ao longo dos três inquéritos nacionais realizados em 1974-1975, 1989 e 2002-2003: 33,5%, 20,5% e 10,8%, no sexo masculino, e 26,3%, 16,9% e 7,9%, no sexo feminino. Já a freqüência de adolescentes magros, evidenciada pelo indicador déficit de IMC-para-idade, é relativamente baixa nos três inquéritos, flutuando, nos dois sexos, entre 2,8% e 4,8%.

O excesso de peso em meninos, cuja freqüência também é relativamente baixa no primeiro inquérito (3,9%), duplica do primeiro para o segundo inquérito (8,3%) e novamente duplica do segundo para o terceiro inquérito (17,9%). A freqüência de excesso de peso em meninas aumenta em cerca de 80% do primeiro para o segundo inquérito (de 7,5% para 13,8%) e em apenas cerca de 10% do segundo para o terceiro inquérito (de 13,8% para 15,4%). A evolução da obesidade repete, com freqüências menores, a evolução do excesso de peso observada ao longo dos três inquéritos em meninos e meninas (Gráfico 28).

Desigualdades regionais na altura dos adolescentes diminuem menos que as de peso de crianças menores

Declínios contínuos e expressivos na freqüência de adolescentes com déficit de altura ocorrem ao longo dos três inquéritos em todo o País. Entretanto, diferentemente do que se viu para os déficits de peso em crianças menores de 5 anos, a evolução dos déficits de altura nos adolescentes não indica diminuição de desigualdades regionais: em 2002-2003, como em 1974-1975, permanece havendo duas vezes mais adolescentes com déficits de altura nas regiões Norte e Nordeste do que nas demais regiões (gráfico 29).

Nos três inquéritos, a freqüência de adolescentes magros, evidenciada pelo indicador déficit de IMC-para-idade, permanece relativamente baixa em todas as regiões, flutuando, nos dois sexos, entre 2,8% e 4,8%. Já a freqüência de excesso de peso evolui de forma distinta em meninos e meninas. Para os meninos, o problema aumenta intensa e continuamente ao longo dos três inquéritos em todas as regiões. Para meninas, o mesmo aumento ocorre de forma substancial, em todas as regiões, apenas entre o primeiro e o segundo inquérito. Entre o segundo e o terceiro inquérito, o excesso de peso em meninas apresenta aumento discreto em todas as regiões e chega a declinar na região Sul.

Em 14 anos, desigualdade de renda continua se refletindo na estatura dos adolescentes

Declínios contínuos e expressivos na freqüência de adolescentes com déficit de altura-para-idade ocorrem ao longo dos três inquéritos em todos os estratos de renda. Mas as desigualdades econômicas não parecem se modificar ao longo dos inquéritos: em 2002-2003, como em 1974-1975, os adolescentes com déficits de altura são quatro vezes mais freqüentes entre as famílias mais pobres do que entre famílias mais ricas (gráfico 30).

Nos três inquéritos, a freqüência de adolescentes magros, evidenciada pelo indicador déficit de IMC-para-idade, permanece relativamente baixa em todos os estratos de renda, flutuando, nos dois sexos entre 2% e 6%.

Novamente, a freqüência de excesso de peso evolui de forma diferente nos dois sexos: entre meninos, ela aumenta intensa e continuamente ao longo dos três inquéritos em todos os quintos da distribuição da renda familiar; entre meninas, aumentos substanciais ocorrem em todos os estratos de renda apenas entre o primeiro e o segundo inquérito. Já entre o segundo e o terceiro inquérito, a freqüência de excesso de peso tem aumento discreto para as meninas mais pobres (três quintos inferiores da renda familiar) e redução, também discreta, para as mais ricas (dois quintos superiores).

Conclusões da POF alertam para o crescimento intenso do excesso de peso entre meninos

1) A POF 2002-2203, embora contando apenas com o indicador nutricional de peso-para-idade, mostrou baixa prevalência de desnutrição na faixa etária mais vulnerável (menores de 5 anos).

2) Prevalências ainda menores de desnutrição infantil, indicando a presença residual e o virtual controle do problema, foram encontradas nas áreas urbanas e rurais das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste. Prevalências intermediárias, indicativas da persistência do problema com baixa magnitude, foram encontradas no Nordeste e nas áreas urbanas da região Norte. Já nas áreas rurais da região Norte, estudadas pela primeira vez, está a maior prevalência de desnutrição infantil.

3) A POF confirmou a estreita associação entre a renda familiar e o estado nutricional das crianças, indicando que a desnutrição infantil concentrava-se nas famílias com renda de até 0,5 salário mínimo per capita, ou 22,1% das famílias brasileiras.

4) A comparação da POF 2002-2003 com inquéritos anteriores confirmou a redução da desnutrição infantil no país ao longo das três últimas décadas. E entre 1996 e 2002-2003 ela decaiu fortemente nos estratos da população mais castigados pelo problema: crianças do Nordeste rural e de famílias pertencentes aos 40% com menor renda familiar.

5) O estudo da amostra de adolescentes da POF 2002-2003 confirma análises da amostra de adultos: distúrbios nutricionais originados no consumo alimentar excessivo e na atividade física insuficiente predominam largamente sobre os originados na alimentação escassa e no gasto energético excessivo.

6) A tendência apontada para adolescentes de todas as regiões e estratos econômicos – particularmente os do sexo masculino – parece ser a redução dos distúrbios originados na alimentação escassa e o crescimento intenso do excesso de peso e da obesidade.

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1O gráfico 23 traz a evolução da prevalência de déficits peso-para-idade em crianças com entre zero e quatro anos de idade, conforme a ENDEF 1974-1975, a PNSB de 1989 e as POF de 1996 e 2002-2003. A restrição a crianças menores de 5 anos se deve ao fato de que a POF 1996 apenas incluiu a crianças desta faixa etária. Os inquéritos de 2002-2003 e de 1974-1975 empregam valores corrigidos de peso que levam em conta o excessivo coeficiente de variação das distribuições originais do peso. Esta correção é essencial para que a ENDEF e a POF possam ser comparadas aos demais inquéritos.



Norte rural tem prevalência moderada de déficits de peso-para-idade

As tabelas 8 e 9 apresentam prevalência de déficits de peso-para-idade por grandes regiões. As mais elevadas foram encontradas nas áreas rurais da região Norte: 14,9% para menores de 5 anos e 12% para crianças entre 5 e 9 anos de idade, configurando, em ambos os casos, prevalências moderadas de desnutrição.



Mesmo com a correção das medidas de peso (tabela 9), persistiu a prevalência moderada de desnutrição (11%) para crianças menores de cinco anos das áreas rurais da região Norte, confirmando-se ser o Norte rural o local do país onde o problema da desnutrição infantil alcança a maior magnitude. Este fato era até então desconhecido, pois a POF 2002-2003 foi a primeiro a investigar os domicílios das áreas rurais da região Norte.



Após o Norte rural, as maiores prevalências entre menores de 5 anos são vistas no Norte urbano (9,9%), no Nordeste rural (8,7%) e no Nordeste urbano (7,7%). Prevalências mais baixas, entre 5% e 7%, são observadas entre as crianças menores de 5 anos que vivem nas áreas urbanas ou rurais das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste. Nessas mesmas áreas e regiões, a prevalência de déficits ponderais em crianças de 5 a 9 anos de idade é ainda mais baixa, ficando entre 1,8% e 4,2%.

Quanto menor a renda, maior a prevalência de déficits de peso-para-idade

As tabelas 10 e 11 apresentam prevalência de déficits de peso-para-idade em seis estratos da renda familiar: desde rendas iguais ou inferiores a um quarto de salário mínimo per capita até as superiores a 5 salários mínimos per capita. Há forte tendência de diminuição da prevalência com o aumento da renda familiar: de 11,9% para 2,3% no caso das crianças menores de 5 anos e de 9,2% para 2,1%, no caso das crianças com idades entre 5 e 9 anos, denotando a forte determinação que a renda familiar exerce sobre o risco da desnutrição infantil no país.



Prevalências acima de 10%, características de freqüência moderada de desnutrição, são encontradas apenas nos dois primeiros estratos de renda familiar (rendas de até 0,5 salário mínimo per capita) da população de menores de 5 anos. A correção das medidas de peso (tabela 11) diminui a magnitude das prevalências de déficits de peso-para-idade, mas não altera sua forte relação inversa com a renda.



Em 30 anos, diminuiu a diferença condição de desnutrição infantil entre as áreas rurais e urbanas

Houve forte declínio da prevalência nos cerca de 14 anos que separam os inquéritos de 1974-1975 e 1989 (de 16,6% para 7,1%) e quedas menos intensas, mas contínuas, nos intervalos de cerca de sete anos que separam os inquéritos subseqüentes (de 7,1% para 5,6% entre 1989 e 1996 e de 5,6% para 4,6% entre 1996 e 2002-2003).

O declínio foi, inicialmente, mais intenso nas áreas urbanas (gráfico 23). Em 1996, a prevalência de déficits ponderais chega a ser duas vezes maior no meio rural (9,1%) do que no meio urbano (4,6%). Já entre 1996 e 2002-2003, o declínio foi bem maior no meio rural, aproximando a prevalência urbana (4,3%) da rural (5,6%).



A Pesquisa de Orçamentos Familiares 2002-2003 do IBGE detectou uma melhora nos indicadores antropométricos da população com menos de 20 anos, em relação às medições feitas anteriormente, no Estudo Nacional de Despesa Familiar de 1974-. Isso indica que a desnutrição infantil diminuiu nos últimos 30 anos, especialmente entre aqueles que, historicamente, eram mais afetados pelo problema: as crianças das regiões Norte e Nordeste, e as das famílias com menores rendimentos.

Levando em conta padrões recomendados pela OMS, a POF 2002-2003 também detectou um aumento considerável na proporção dos adolescentes brasileiros com excesso de peso: em 1974-75, estavam acima do peso 3,9% dos garotos e 7,5% das garotas entre 10 e 19 anos; já em 2002-03, os percentuais encontrados foram 18,0% e 15,4%, respectivamente.

A Pesquisa de Orçamentos Familiares 2002-03 do IBGE confirmou, ainda, que a desigualdade econômica do Brasil continua estampada no corpo de seus filhos: 22,18% dos garotos nascidos nas famílias com o menor rendimento per capita têm déficit de altura, enquanto 28,2% daqueles nascidos nas famílias com o maior rendimento estão com excesso de peso (tabela 14).

A inclusão de um módulo de avaliação antropométrica na POF 2002-2003, feita em parceria com o Ministério da Saúde, certamente representou um grande desafio para as equipes técnicas e agentes de pesquisa do IBGE.

Principalmente os dados relativos à medição de altura das crianças com menos de seis anos de idade – operação que exige equipamento e treinamento bastante especializados – apresentaram limitações. Com isso, as análises do estado nutricional das crianças a partir da POF não levaram em consideração as medidas de altura nesse grupo etário. Os indicadores obtidos a partir dos pesos das crianças dessa mesma faixa etária também foram calculados e analisados a partir dos dados obtidos diretamente da POF e de dados ajustados. Tais ajustes são particularmente importantes para comparações ao longo do tempo com resultados de pesquisas antropométricas especializadas. Assim, os resultados do ENDEF, pesquisa de ampla abrangência e similar a POF, também sofrem ajustes. O banco de microdados da POF conterá todas as medidas antropométricas e será disponibilizado na íntegra para que todos os usuários possam elaborar suas próprias análises.

A POF 2002-2003 aponta resultados positivos sobre a desnutrição infantil no país nos últimos 30 anos. Mas o fato de se poder contar com um único indicador do estado nutricional (peso-para-idade) para crianças com menos de 10 anos de idade sugere cautela nas conclusões. Serão necessários novos inquéritos antropométricos para confirmar os resultados apontados pela POF 2002-2003.

Em 2002-03, predominava no Brasil a baixa prevalência de déficits de peso-para-idade

O estado nutricional das crianças menores de 10 anos de idade foi avaliado a partir do índice antropométricos peso-para-idade. Em uma análise do Banco Internacional de Dados sobre Crescimento Infantil da OMS, com base na revisão de inquéritos antropométricos realizados em amostras da população de crianças menores de 5 anos de 79 países em desenvolvimento entre 1980 e 1992, identificou-se que em cerca de um quarto dos países a prevalência de déficits de peso-para-idade era inferior a 10%, no quarto seguinte variava entre 10% e 19,9%, no quarto seguinte entre 20% e 29,9% e no quarto seguinte era igual ou superior a 30%. O percentual de prevalência de déficits de peso-para-idade indica quantas crianças em cada grupo de cem encontram-se abaixo do limite estabelecido a partir da distribuição padrão adotada pela OMS.

Esses quatro intervalos foram classificados como prevalências relativamente baixas, moderadas, altas e muito altas. Podemos citar alguns exemplos internacionais: há baixa prevalência na Venezuela (6,2% em 2000) e Colômbia (6,7% em 2000); prevalências moderadas no Equador (14,3% em 1998) e Haiti (17,2% em 2000); prevalências altas em Moçambique (23,7% em 2000) e Somália (25,8% em 2000); e prevalências muito altas em Angola (30,5% em 2001) e Etiópia (47,2% em 2000). No Brasil, segundo a POF 2002-2003, as prevalências relativamente baixas predominaram em quase todas as comparações, à exceção das áreas rurais da região Norte, onde ocorreram prevalências moderadas, como veremos a seguir.

A Tabelas 6 e 7 mostram a prevalência de déficits peso-para-idade entre as crianças menores de 10 anos de idade, segundo sexo e idade. Prevalências relativamente baixas de déficits ponderais são observadas a partir dos valores de peso obtidos diretamente da POF (tabela 6): 5,8% para o conjunto das crianças, sendo 7% nos menores de 5 anos e 4,6% em crianças com idades entre 5 e 9 anos. As conclusões não se alteram a partir da observação da tabela 7 (dado ajustado).