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Seminário do IBGE reuniu especialistas para discutir dados de contas nacionais de saúde

Editoria: IBGE

11/12/2025 16h28 | Atualizado em 11/12/2025 16h28

Gustavo Junger, Diretor de Pesquisas do IBGE, avalia como os dados vão impactar na orientação de políticas públicas de saúde - Foto: Pablo Felix

Um seminário com especialistas em dados de saúde, realizado nesta segunda-feira (08/12) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), marcou a publicação do “Panorama Nacional e Internacional da Produção de indicadores sociais - Estatísticas de saúde e serviços relacionados”, sob organização dos pesquisadores do IBGE Claudio Dutra Crespo, Clician do Couto Oliveira e Marcos Antonio Ratzsch de Andreazzi, e também do primeiro Manual Metodológico do System of Health Accounts (SHA) , desenvolvido para o Brasil (SHA-BR), do Ministério da Saúde.

“Panorama Nacional e Internacional da Produção de indicadores sociais - Estatísticas de saúde e serviços relacionados” é uma publicação da Diretoria de Pesquisas do IBGE, e trata-se do 9º volume da série “Estudos e Análises Informação Demográfica e Socioeconômica”. Publicada em julho de 2025, traz os capítulos Indicadores socioeconômicos e de recursos e as Contas de Saúde; Indicadores Demográficos e o uso para a saúde; Indicadores de saúde produzidos por pesquisas domiciliares; PeNSE: a pesquisa de saúde na adolescência; Indicadores de saúde mental e o Panorama nacional e internacional sobre a produção de estatísticas da capacidade instalada em saúde.

“Com este seminário que visa discutir as publicações, queremos dar mais visibilidade para a divulgação de nossas pesquisas, mas principalmente colocar os dados do IBGE para debate com a sociedade e especialistas no assunto”, afirmou o Diretor de Pesquisas (DPE) do IBGE, Gustavo Junger.

Clician do Couto Oliveira, também da DPE, destacou a importância do seminário realizado na Casa Brasil IBGE, no Centro do Rio de Janeiro, que promoveu “a reunião de pessoas de um perfil muito qualificado na área de contas nacionais de saúde para discutir as publicações”.

Pedro Buril, do Ministério da Saúde, explicou que o SHA-BR é um documento elaborado com base na estrutura SHA 2011, criada pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pelo Gabinete de Estatísticas da União Europeia (Eurostat): “O SHA é uma metodologia de estimativa de contas que permite a gestores, a pesquisadores e à sociedade civil compreender o fluxo do financiamento, da produção e da alocação de bens e serviços de saúde em um país. Com isso, são produzidas informações estratégicas e comparáveis internacionalmente sobre o financiamento dos sistemas de saúde, permitindo o monitoramento de gastos com a saúde”.

O especialista afirmou que “hoje, não há um arranjo formal para o SHA-BR”, que busca dados de financiamentos em fontes como os regimes do Sistema Único de Saúde (SUS), Planos de Servidores Civis e Planos de Servidores da Defesa. “Por isso, é importante institucionalizar o Sistema de Contas Nacionais de Saúde, pois o SHA busca transparência e prestação de contas”, defendeu. Mesmo ainda pendente de institucionalização, o Brasil está avançado, em relação ao cenário internacional, “pois o Brasil já conta com um manual metodológico de contas nacionais de saúde, o que não ocorre em vários países”. Os dados do SHA-BR são “consolidados de múltiplos bancos de dados e triangulados para fazer a conta”, disse Buril.

Dentre as informações compiladas no SHA-BR, e apresentadas por Buril no seminário, calcula-se que cerca de 60% dos gastos públicos com saúde no Brasil atualmente sejam com a atenção curativa, em detrimento da preventiva – é a maior parcela de gastos em saúde pública. Quanto a gastos com medicamentos, 91,31% dos brasileiros pagam do próprio bolso, contra 8,68% de gasto público. Em comparação com a França, por exemplo, 82,23% dos gastos com medicamentos são públicos; 4,97% pelo plano de saúde e apenas 12,70% dos franceses pagam do próprio bolso.

Pedro Buril, do Ministério da Saúde, apresentou informações do Brasil usando a metodologia do System of Health Accounts (Sistema de Contas de Saúde) - Foto: Pablo Felix

Em seguida, os autores dos capítulos do “Panorama Nacional e Internacional da Produção de indicadores sociais - Estatísticas de saúde e serviços relacionados” comentaram os dados das pesquisas do IBGE. Tassia Holguin falou sobre “Indicadores socioeconômicos e de recursos e as Contas de Saúde”. “A conta satélite de saúde se insere no contexto das contas nacionais, segundo a metodologia do Fundo Monetário Internacional (FMI), e coleta dados como a despesa de consumo final por setor institucional, a exportação e importação (por produto), renda, valor adicionado bruto (por atividade) e variação em volume, postos de trabalho (por atividade) e rendimento médio do trabalhador”, explicou.

Isabel Guimarães tratou dos “Indicadores Demográficos e o uso para a saúde”, e mostrou a transição demográfica em curso no Brasil, com “cada vez mais envelhecimento populacional, com aumento na expectativa de vida, e queda nos nascimentos”. Dados do Censo Demográfico apontam que a expectativa de vida do brasileiro, que em 1940 era de 45,5 anos, deve chegar a 83,9 anos em 2017. “Em 2025, 16,6% da população tem 60 anos ou mais; em 2017 este número deve saltar para 37,8%”, disse a pesquisadora. Ao mesmo tempo, a taxa de fecundidade vem caindo: em 1940 era de 6,16 filhos por mulher; em 2022 era de 1,58 e a projeção é de que em 2070 seja de 1,50. “Esta tendência de envelhecimento da população, com aumento da expectativa de vida, indica que os tratamentos de saúde ficarão mais longos e mais caros, demandando uma mudança ainda maior nas políticas públicas de saúde”, avalia Isabel.

Quanto aos “Indicadores de saúde produzidos por pesquisas domiciliares”, Rosa Marina Dória destacou como alguns temas produzem indicadores de saúde coletados a partir de pesquisas domiciliares, como a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua). Perguntas sobre ocorrência de doenças crônicas e/ou transmissíveis são capazes de gerar indicadores sobre proporção de adultos com diagnóstico de diabetes, hipertensão, sobrepeso, por exemplo. Também são indagadas informações sobre uso de tabaco, álcool, realização de atividade física, realização de exames médicos, entre outras. “A vantagem da pesquisa domiciliar é que as pessoas contam coisas que não necessariamente entram nos registros do sistema de saúde, porque nem sempre a pessoa procura um médico ao ter um problema de saúde. Há ocorrências que, se simples, são resolvidas em casa, como dores de cabeça e mal-estar gastrointestinal”, contou Rosa Marina.

Marcos Andreazzi comentou sobre a “PeNSE: a pesquisa de saúde na adolescência”. A PeNSE é uma pesquisa nacional sobre saúde com adolescentes de 13 a 17 anos, em ambiente escolar, realizado nos anos de 2009, 2012, 2015, 2019 e 2024 pelo IBGE, em parceria com o Ministério da Saúde e o apoio do Ministério da Educação. Seu objetivo é mapear fatores de risco e a proteção para a saúde, na adolescência. “É um questionário autoaplicável aos adolescentes, por meio de Dispositivo de Coleta Móvel (DMC), com perguntas simples e objetivas”, esclarece. Embora seja baseada na metologia da pesquisa Global School-based Student Health Survey (GSHS), do então órgão sanitário dos Estados Unidos Centers for Disease Control and Prevention (CDC), a PeNSE desenvolveu “aperfeiçoamentos próprios, como testes cognitivos para validar as perguntas, maior abrangência temática, maior número de respondentes e a série histórica de 15 anos e 5 edições”, constata o pesquisador. “Isso dá ao Brasil potencial para exercer liderança metodológica, contribuindo com órgãos internacionais em vez de apenas seguir suas diretrizes”, acrescentou.

O capítulo “Indicadores de saúde mental e o Panorama nacional e internacional sobre a produção de estatísticas da capacidade instalada em saúde” foi tratado pela pesquisadora Danielle Marques. Ela frisou que o IBGE é produtor de dados para subsidiar políticas públicas nacionais em saúde mental que são implementadas pelo Ministério da Saúde, a Fiocruz e o Ministério da Previdência Social. “O IBGE faz algumas pesquisas que coletam dados de saúde mental. A Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) resulta em dados sobre depressão, psicoses, transtornos de ansiedade, internações, uso de medicamentos e de serviços de saúde mental, e fatores de risco como álcool e tabaco. A PNAD Contínua já trabalhou a temática da COVID-19 e condições persistentes (insônia, ansiedade e depressão) 30 dias após a infecção. O Censo Demográfico tem dados sobre diagnóstico de autismo por algum profissional de saúde”, enumera. Para a pesquisadora, entretanto, o maior desafio destas pesquisas é “reconhecer que a saúde mental é mais do que um CID, casos de suicídio, uso e abuso de substâncias; é se lembrar de que saúde mental é mais do que a ausência de transtorno mental”.

Ao fim do seminário, Crespo falou da Pesquisa de Assistência Médico-Sanitária e acrescentou que o principal desafio na produção de dados de saúde no Brasil está na integração. “É preciso pensar as Contas SHA e as contas nacionais de forma integrada, em suas peculiaridades e lacunas, para qualificar a produção das nossas informações e, assim, ajudar na distribuição dos custos do sistema de saúde”, afirmou.