IBGE realiza 1ª prova piloto para a maior radiografia do sistema agrário do Brasil
10/12/2025 16h41 | Atualizado em 10/12/2025 16h41
É o prime iro dos três testes preparatórios do Censo Agro e ocorre nos estados do Maranhão, Bahia, Minas Gerais e Rio de Janeiro
Nos primeiros dias de dezembro até o dia 12, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) realiza testes de campo nesses quatro estados brasileiros do 12º Censo Agropecuário, Florestal e Aquícola.
A iniciativa busca contemplar diferentes biomas e diversas atividades agropecuárias, permitindo uma avaliação abrangente do questionário, das funcionalidades do sistema de gerenciamento de coleta e das inovações propostas para a operação censitária.
Recenseadores, assistentes técnicos, observadores do IBGE, coordenadores e demais profissionais participam das equipes que estão visitando os setores censitários para realizar os testes com diversos tipos de comunidades e produtores rurais em seus diversificados arranjos e modalidades de cultivo e produção.
O pré-teste é o primeiro dos três testes preparatórios que antecedem o 12º Censo Agro, a saber: Prova Piloto I, Prova Piloto II e Censo Experimental.
Presidente do IBGE acompanhou os trabalhos em Nova Friburgo, no Rio de Janeiro
O presidente do IBGE, Marcio Pochmann, que acompanhou o teste no Rio de Janeiro, na terça-feira, dia 09 de dezembro, conversou com dezenas de servidores do IBGE envolvidos na operação e avaliou positivamente o andamento do pré-teste, após sair a campo em uma das atividades de coleta, realizada no distrito de Mury, na zona rural da cidade fluminense, no município de Nova Friburgo. Ele demonstrou otimismo em relação ao andamento do cronograma do 12º Censo Agro : “Foi uma experiência bastante interessante, positiva, e que mostra também o quanto a equipe do IBGE está envolvida nesse trabalho que permitirá ter uma radiografia do sistema agrário no Brasil”.
Ainda no Rio de Janeiro, o Coordenador-Geral de Operações Censitárias, Fernando Damasco, disse que o teste tem sido um momento fundamental para observar a eficácia do questionário, aplicativos de coleta, assim como verificar as metodologias de percurso no território e a abordagem aos produtores. “Nossos recenseadores e observadores já identificaram diversos pontos de aperfeiçoamento, que agora estão sendo consolidados para avaliação pelas áreas responsáveis. Com os resultados do teste, vamos aperfeiçoar vários parâmetros do planejamento e do orçamento da pesquisa, garantindo uma operação eficiente e de qualidade”, explicou.
Vinicios Abreu, chefe da agência IBGE de Nova Friburgo e veterano dos setores censitários que estão sendo utilizados para os testes, confirmou que a operação está atendendo às expectativas. “Até a produtividade e a quantidade de questionários aplicados por dia estão dentro do esperado. Há alguns pontos de ajuste, que a gente está encontrando em relação ao questionário e em relação ao equipamento, mas a ideia é justamente essa, que no pré-teste a gente vá testando tudo isso, para quando chegar na coleta, a gente já esteja com tudo alinhado”, analisou.
Geraizeiros do Norte de Minas Gerais
Em meio às árvores de galhos retorcidos e cascas grossas do Cerrado mineiro, comunidades tradicionais do Norte de Minas Gerais se inspiram na adaptabilidade e resiliência da vegetação nativa para seguir preservando a biodiversidade do bioma e os próprios modos de viver. Um desses povos tradicionais, visitados pelo pré-teste do 12º Censo Agro na área rural de Grão Mogol, são os geraizeiros.
Na própria definição de uma pessoa pertencente a este povo tradicional, ser geraizeiro é “ter liberdade para colher as coisas – pequi, araçá, cagaita, rufão”, exemplifica Valderita da Silva Ferreira, de 74 anos, moradora na localidade de Boa Vista. Trata-se de um assentamento da Reforma Agrária onde as famílias exercem atividades coletivas e individuais de extrativismo e agroecologia.
Além de coletar frutos, principalmente o pequi, o casal cria animais, como gado, porco e galinhas, planta uma variedade de cultivos (milho, diferentes espécies de feijão, mandioca, cana-de-açúcar, vandu, laranja, banana, entre outros) e cuida de uma horta onde cultiva, inclusive, plantas medicinais.
O casal de geraizeiros reconhece a importância da visita do IBGE. Pela primeira vez, o Censo Agro aplicará um questionário específico para povos e comunidades tradicionais, que é testado nesta 1ª prova piloto. “O trabalho que o IBGE está fazendo é de divulgar uma cultura que parece um pouco invisível. Eu acho que quando alguém faz uma pesquisa e divulga isso, ajuda a gente a continuar vivendo nesse ambiente”, afirma Cristovino. “É muito boa a visita de vocês. Quer dizer que vocês estão querendo saber da gente, né? E é bom também para as pessoas conhecerem a nossa realidade”, completa Dona Vá.
No Maranhão, em Bacabal, prova piloto destaca extração do coco babaçu
O teste-piloto que está ocorrendo na cidade de Bacabal, revela a grande produção de babaçu da região.
Entre eles, no Povoado de Barreira em Bacabal, estava a jovem Geovana, 24 anos, que trabalha na extração do babaçu. A jovem destaca como é viver desse cultivo: “É bem exaustivo. Trabalho de 7h30 até 15h30 de segunda a sexta com a minha mãe. A nossa produção é para venda mesmo. A gente tem outras rendas também, além do coco babaçu. Por exemplo, eu recebo o Bolsa Família e minha mãe é aposentada”, revela Geovana que cursou até o 9º ano do ensino fundamental. Segundo a jovem, a produção dura o ano todo.
O babaçu serve para variados usos: a amêndoa é utilizada na produção do óleo, azeite, sabonete; já a casca vira carvão, artesanato ou cobertura de casas.
Um olhar aos povos e comunidades tradicionais do Vale do São Francisco, na Bahia
Na Bahia, o teste piloto está sendo realizado nos municípios de Juazeiro e Sobradinho, na região do Vale do Rio São Francisco, no norte do estado. As cidades foram escolhidas por conta da variedade de produções existentes, como a fruticultura irrigada, que é destaque nacional. A presença de povos e comunidades tradicionais (PCTs) também é uma marca do local, que está recebendo devida atenção na operação censitária.
No município de Sobradinho, a coleta está ocorrendo somente em setores com presença de povos e comunidades tradicionais, como a aldeia Camixá, onde vivem os indígenas do povo Truká. No local, a equipe do IBGE, composta pelo recenseador Vinícius Farias, e pelas observadoras Marta Antunes, coordenadora do Grupo de Trabalho de Povos e Comunidades Tradicionais do Instituto, e Camila Carneiro, representante do Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome, foi recebida pela cacica Rita Barbalho, liderança local.
Na aldeia, que possui 29 hectares de área coletiva e onde há diversas culturas temporárias, a equipe do IBGE aplicou dois questionários e pôde descobrir a realidade de uma comunidade que cria pequenos animais, realiza atividade de piscicultura e planta para o próprio consumo, com a venda do excedente. “Nós precisamos dessa pesquisa para o governo saber onde botar recurso, e para que as coisas aconteçam direito aqui”, explicou Elias da Silva, que recebeu o Instituto em sua casa.
Experiências, ajustes e desafios para colher a maior safra de dados do Brasil
Os testes da 1. a Prova do 12º Censo Agropecuário, Florestal e Aquícola, são fundamentais para a verificação em campo de todos os elementos e aspectos que envolvem uma operação do porte de um Censo nacional tão importante para o país.
O tamanho do questionário, a redação das perguntas, os tempos de resposta, entre outros fatores, são rigorosamente observados durantes os testes para que possam ser devidamente acertados e ajustados.
São testados os equipamentos como o Dispositivo Móvel de Coleta (DMC), usado pelos recenseadores, também para os devidos ajustes, quando necessários.
Formas de agendamento das entrevistas, percursos percorridos, receptividade dos informantes, entre outros tantos fatores também devem ser vivenciados de maneira ativa para que toda estrutura da operação funciona possa ser ajustada de forma harmônica e precisa.
Todos esses desafios e outros pontos levantados pelos observadores serão consolidados em um relatório final sobre o teste. Nos dias 17 e 18 de dezembro, o IBGE realizará um encontro de avaliação, na Escola Nacional de Ciências Estatísticas (ENCE), para tratar das dificuldades e aprendizados decorrentes deste primeiro teste para o próximo Censo Agropecuário.