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Triplo Fórum

Fórum debate potencialidades e desafios para indicadores de juventude na Era Digital

Editoria: IBGE | Marília Loschi

16/06/2025 14h01 | Atualizado em 16/06/2025 15h00

A mesa incluiu representantes da Guiné-Bissau, China, Etiópia e Brasil - Foto: @graoamarca

A plenária da manhã do último dia do Triplo Fórum foi dedicada a refletir sobre juventudes, no plural. A mesa “Os atuais e novos indicadores de Juventude sob a perspectiva do Sul Global na Era Digital”, que ocorreu na manhã de sexta-feira (13/06), foi marcada pela diversidade de discursos sobre juventude, mas também trouxe, em comum, a afirmação da urgência de narrativas contra-hegemônicas e inclusão digital. À tarde foi assinada a Carta IBGE Ceará Brasil Sul Global, que prevê a criação do Fórum de Jovens Pesquisadores do Sul Global, “para que a atual geração possa ter as bases para disputar as oportunidades da Era Digital, a começar pelo combate à desigualdade real e digital, criando emprego e renda, a partir do investimento em inovação e conhecimento.

Nilson Florentino Júnior, diretor de Políticas Públicas Transversais de Juventude da Secretaria Nacional de Juventude e da Coordenação do Conselho de Juventude do BRICS, foi o mediador do debate, que incluiu representantes da Guiné-Bissau, China, Etiópia e Brasil. A mesa foi organizada pela Secretaria Nacional da Juventude da Presidência da República, em conjunto com o IBGE e o PNUD.

Na perspectiva da professora doutora Artemisa Candé, pró-reitora da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab), da Guiné-Bissau, entender o que é – ou o que são – essas juventudes é essencial para a construção de indicadores correlatos. “Enquanto se fala de indicadores de juventude, nós ainda estamos falando sobre como é essa juventude. No contexto africano, a juventude não é questão de faixa etária. Temos fatores econômicos, sociais, estruturais para que se defina essa juventude”, explicou. Artemisa comentou sobre a desigualdade no acesso ao conhecimento e aos recursos da Era Digital. A Unilab, por exemplo – a única universidade que integra Brasil e países africanos de Língua Portuguesa – é considerada “um lugar de sonhos da Juventude africana”, segundo a professora, e as dificuldades não se limitam ao número de vagas. A exclusão digital faz com que o próprio processo de inscrição e seleção não sejam possíveis para grande parte dos jovens.

“Nós não estamos na era digital. Nós estamos acompanhando os outros na era digital”, frisou Artemisa, salientando a necessidade de uma gramática mais inclusiva, mais solidária. “Quando falamos da inclusão digital, estamos falando também sobre equidade. Hoje em dia, todo mundo anda com o celular na mão e acha isso uma coisa simples, mas não é”. Artemisa deu como exemplo a situação da Guiné-Bissau, onde o acesso à internet é basicamente por dados móveis. Trata-se de uma realidade que, antes de mais, precisa de democratização de acessos, como a expansão de fibra ótica e wi-fi gratuitos nos espaços públicos. “Se você quiser hoje comunicar com a minha família, tem que marcar o horário, para eles comprarem dados móveis para acessar a internet e a gente se comunicar. Estamos falando de um Sul Global em que a periferia não tem acesso à biblioteca, em que o celular constitui privilégio de poucos. Não tem como produzir conhecimento se você não tem nem como fazer pesquisa”.

Juventude deve ser pensada como um problema público”

O evento contou com a participação online do sociólogo Paulo Ramos, do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap) e do Observatório Nacional da Juventude do Brasil, e de Ronald Luiz dos Santos, Secretário Nacional de Juventude da Secretaria Geral da Presidência da República e Presidência do Conselho de Juventude do BRICS.

Paulo Ramos é pesquisador de juventude, violência, movimentos sociais e sua interlocução com o Estado, desigualdade e racismo. “Nossa preocupação principal é como reunir padrões de dados com qualidade, padrões científicos, como formas de superação da desigualdade, sobretudo nas periferias do Brasil e agora também nas periferias do mundo”. Ele explicou o trabalho do Observatório Nacional da Juventude, que está sendo pensado com o objetivo de geração de conhecimento para respaldar a formulação, implementação, monitoramento e avaliação de políticas públicas específicas para a juventude. Entre os resultados esperados desta iniciativa está a produção, sistematização e difusão de dados sobre as condições dos jovens com idade entre 15 e 29 anos no Brasil, bem como publicações e a construção de uma plataforma digital que reunirá todas as informações levantadas, com disponibilidade ao público em geral.

A forma como a sociedade aborda o tema da juventude também foi trazida ao debate. Paulo reforçou que essa forma é muitas vezes inadequada, pois traz uma série de estigmas, como os jovens sendo aqueles que irão “salvar a sociedade”. “É uma forma positiva, mas que traz um problema. Neles se deposita toda a esperança para resolver os problemas que aqueles que já são velhos criaram”. Daí o estigma do jovem como um ser “em transição”, do qual depende o futuro, mas que hoje ocupa um não-lugar. “Não é criança nem adulto, e precisa ser controlado pelo Estado porque é um potencial agente de desordem. E, quando isso é unido aos estigmas raciais e de classes sociais, esse jovem é sempre um potencial criminoso. Aquele que, se não cometeu crime nenhum, é preciso prevenir que o crime aconteça”.

Pensando em como a juventude é tratada pelas instituições, Paulo ressaltou a necessidade de pensá-la como um problema público, impulsionando linhas de estudos, apostando nas produções acadêmicas que gerem insumos para políticas públicas no Brasil, para esse grupo específico.

No mesmo caminho, Ronald Luiz dos Santos, conhecido como Ronald Sorriso, explicou o trabalho da Secretaria Nacional de Juventude no sentido de produzir dados para ajudar a organizar essas políticas. Ele enxerga possibilidades de parceria com os vizinhos do Mercosul, outros países de Língua Portuguesa e o BRICS. “A juventude é perspectiva de futuro porque consegue pensar ao longo prazo, mas também é presente porque não existe futuro sem presente e as coisas precisam ser materializadas agora. Nós não queremos herdar um futuro pronto. Queremos construir um futuro que seja nosso, com as nossas mãos, e isso nós precisamos fazer no presente”, afirmou.

A chinesa Jing Jiayi abordou o tema da desinformação digital - Foto: @graoamarca
Shumete Gisaw, da Etiópia, aposta em novas narrativas para a juventude - Foto: @graoamarca
Paulo Ramos e Ronald Sorriso participaram online da discussão - Foto: @graoamarca
Artemisa Candé, professora doutora da Guiné-Bissau, comentou sobre a desigualdade no acesso aos recursos da Era Digital - Foto: @graoamarca
Nilson Florentino Júnior, da Secretaria Nacional de Juventude e da Coordenação do Conselho de Juventude do BRICS, foi o mediador do debate - Foto: @graoamarca

Vamos promover mentes brilhantes”

Essa foi a tônica da fala de Shumete Gisaw, da Etiópia, Subsecretário Geral de Inovações Tecnológicas e Aprimoramento de Digitalização (tradução livre para Undersecretary General for Technological Innovations and Digitalisation Enhancement) da Organização de Cooperação do Sul (OSC). A OSC é uma organização de cooperação técnica entre países em desenvolvimento no Sul Global, e possibilita que Estados, organizações internacionais, acadêmicos, sociedade civil e setor privado possam colaborar e compartilhar conhecimentos e iniciativas.

Shumete propõe uma nova narrativa para o Sul Global, formado majoritariamente por jovens. “Diante da inadequação dos atuais indicadores, precisamos desafiar o que vem do passado. Os indicadores sociais desenvolvidos por instituições do Norte Global muitas vezes são lineares, padronizadas, que refletem seu modelo de desenvolvimento”. Por isso, explicou, falham na captura do contexto diverso dos direitos e realidades da juventude do Sul Global, como as economias informais e culturas próprias.

“Precisamos criar um Fórum de jovens pesquisadores no Sul Global. Eu acredito nisso. Para construir a sua própria narrativa, empoderando e gerando a própria pesquisa. Vamos promover um movimento prático de mentes brilhantes de jovens do Sul Global, que sejam capazes de definir e redefinir seus próprios futuros, de forma coletiva”, afirmou.

China destaca importância da alfabetização digital no combate à desinformação

A chinesa Jing Jiayi, Secretária-Geral do Centro Mundial de Comunicação da Academia Chinesa de Ciências Sociais, apresentou uma realidade um pouco diferente no que tange seu país, onde o problema não é mais a inclusão digital e sim os desafios que a conectividade traz para a juventude.

“De maneira crescente somos definidos por conectividade digital”. Ela destacou, por um lado, o problema da poluição da informação em tempos de mídias sociais; por outro, sua abertura para inovação e resiliência. Ela explicou que a tecnologia digital chega até áreas montanhosas e rurais, possibilitando a fazendeiros e artesãos, por exemplo, criarem pequenas empresas que lhes geram renda e acesso à educação de qualidade.

Já nas metrópoles, como Pequim, acontece o que ela chama de “autodeterminação digital”. “A ‘geração Z’, como chamamos aqui, não está recebendo a informação digital de forma passiva. Eles não esperam autorização para participar do futuro, estão construindo o futuro eles mesmos”. Entretanto, ressaltou, é preciso perguntar quem está sendo silenciado e quem está sendo ouvido. “O cenário digital ainda é desigual. Temos muita desinformação e o domínio de algumas plataformas específicas, que limitam as vozes online”. Daí a necessidade de promover parcerias de alfabetização digital da juventude, unindo Brasil, China e outros países do Sul global em torno de recursos de educação digital.

Sobre o Triplo Fórum

O Triplo Fórum foi organizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em co-organização com o Governo do Estado do Ceará, de 11 a 13 de junho, no Centro de Eventos do Ceará (Av. Washington Soares, 999, acesso pavilhão oeste, portão C). O evento teve o apoio do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), do Banco do Nordeste do Brasil (BNB), do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), do Ceará Sem Fome, da Companhia de Participação e Gestão de Ativos do Ceará S/A – Ceará Par, da Secretaria de Turismo do Ceará, da Secretaria Nacional de Juventude – Secretaria Geral da Presidência da República, e demais parceiros. As plenárias foram transmitidas pelo IBGE digital e pelos canais oficiais do instituto IBGE DigitalYoutubeInstagramTikTok e Facebook.