Triplo Fórum
Mesa Global debate a construção de novo multilateralismo para os países em desenvolvimento
13/06/2025 09h09 | Atualizado em 13/06/2025 09h09

A necessidade de repensar o modelo de cooperação internacional diante das persistentes assimetrias de poder entre os países orientou as discussões da Mesa Global, realizada na manhã de quinta-feira (12), no Triplo Fórum, que é organizado pelo IBGE, em coorganização com o Governo do Estado do Ceará, de 11 a 13 de junho, em Fortaleza, no Centro de Eventos do Ceará (Av. Washington Soares, 999, acesso pavilhão oeste, portão C).
Inscrições ainda podem ser feitas para a Mesa sobre Indicdores da Juventude e mesas temáticas na tarde de hoje (13). Veja a programação no portal do evento, que tem o apoio do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), do Banco do Nordeste do Brasil (BNB), do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), do Ceará Sem Fome, da Companhia de Participação e Gestão de Ativos do Ceará S/A - Ceará Par, da Secretaria de Turismo do Ceará, da Secretaria Nacional de Juventude - Secretaria Geral da Presidência da República, e demais parceiros. As plenárias serão transmitidas pelo IBGE digital, e pelos canais oficiais do instituto IBGE Digital, Youtube, Instagram, TikTok e Facebook.
Mediada por Hidelbrando Soares, Reitor da Universidade Estadual do Ceará (UECE), a mesa teve como tema “O multilateralismo sob a Perspectiva do Sul Global na Era Digital” e contou com a participação de José Daniel Castro, Coordenador-Geral do Centro de Documentação e Disseminação de Informações (CDDI) do IBGE, e do Diretor de Estudos e Políticas Sociais do Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (IPECE), José Meneleu Neto. Assista o vídeo aqui.
O objetivo foi tratar das reconfigurações de poder na atual ordem geopolítica, onde os países do Sul Global passam a reinvidicar maior protagonismo na governança internacional. O debate abordou as estratégias de cooperação entre esses países do BRICS, Mercosul e CPLP, voltadas ao fortalecimento de suas posições políticas e ao avanço de agendas próprias de desenvolvimento.
“Esse tema sintetiza, de certa forma, tudo o que vem sendo discutido no Triplo Fórum Internacional da Governança do Sul Global”, ressaltou Hidelbrando em fala de abertura. Para o reitor da UECE, o multilateralismo pode servir como estratégia para fomentar um desenvolvimento mais sustentável, equitativo e respeitoso entre os países. Nesse sentido, eventos como o Triplo Fórum servem para construir uma governança internacional estabelecida dentro dos princípios do bem comum, útil para o enfrentamento conjunto de desafios persistentes como a pobreza crônica e a fome.
Daniel Castro, por sua vez, afirmou que o multiralateralismo não envolve apenas um conceito, mas trata-se de uma prática que vai além da decisão local. “No multiralateralismo tudo é compartilhado. Se você descobre uma vacina, ela pode salvar a humanidade”, destacou. O coordenador-geral do CDDI abordou modelos de governança global e de cooperação econômica, com destaque para o papel de novas lideranças como o Brasil e a China, e a universalização da saúde e educação. Ele ressaltou que o multilateralismo é fundado num sistema de redução das desigualdades, equilíbrio monetário, e promoção da inovação entre os países.
O surgimento de novos desafios, inclusive tecnológicos, e a emergência dos países do Sul Global no contexto das relações internacionais tornaram mais evidentes as assimetrias de poder, o que aponta para a necessidade de um novo multilateralismo, defendeu José Meneleu Neto. Para o pesquisador, isso impõe abandonar um modelo fundado na dinâmica do pós segunda guerra mundial, onde essas nações tinham um papel diferente.
Multilateralismo, equilíbrio e inovação científica como pilares do desenvolvimento
Outro ponto importante discutido durante o encontro foi o papel da indústria e inovação no desenvolvimento do Sul Global, tema abordado pelos três integrantes da mesa.
José Meneleu, economista e diretor do IPECE, propôs pensar o desafio do multilateralismo sob o ponto de vista da termodinâmica. O empréstimo das leis da Física, através da analogia, foi utilizado como recurso para refletir sobre como os países podem reorganizar a dinâmica global na busca do desenvolvimento sustentável. Para o pesquisador, a economia obedece a fundamentos semelhantes aos que estruturam os sistemas físicos: conservação de energia, entropia (desordem), equilíbrio e a impossibilidade de uma ordem perfeita devem ser considerados na elaboração de estratégias dentro do multilateralismo.

“Tem que haver um mínimo de equilíbrio entre os sistemas globais”, afirmou. Desordem e aleatoriedade (entropia) são um componente inevitável nessas relações, mas as instituições devem criar sistemas resilientes para combater questões naturais à ordem econômica. Nesse sentido, o multilateralismo surge como uma ferramenta essencial ao desenvolvimento global, e que não deve ser enfraquecido por ações unilaterais, que levam à instabilidade sistêmica. Na perspectiva atual, as decisões dos países têm cada vez mais poder de gerar desequilíbrios globais, em vez de apenas danos internos, defendeu.
“Não há ganho unilateral sem se produzir perda. É melhor um sistema cooperativo. O multilateralismo se pauta na ideia de trabalhar o princípio da cooperação como forma de racionalidade econômica e social”, ressaltou Meneleu. Contudo, o combate à atual hegemonia não implicaria a sua substituição por uma hegemonia do Sul Global, mas teria como alicerce um modelo fundado no cooperativismo, sem pretensão hegemônica.
Quanto ao desenvolvimento sustentável e ao uso das matrizes energéticas, Meneleu defendeu que essa transição deve se nortear no equilíbrio econômico e ambiental, na busca do não-retrocesso, mas observando as dinâmicas do sistema econômico e avaliando o que compensa do ponto de vista ecológico, sob uma perspectiva internacional.

As narrativas têm um papel de importância dentro das dinâmicas de desenvolvimento nos países do eixo Sul, em especial nas pautas de maior repercussão sociopolítica, conforme apontou Daniel Castro. “A discussão às vezes se dá na narrativa. Não entendemos nossa importância”, afirmou”. O coordenador-geral do CDDI também ressaltou que é preciso que os países e a população enxerguem suas potencialidades nesse processo.
Em outro momento, Hidelbrando Soares, da UECE, destacou o valor da era digital e o papel estratégico das universidades na produção de conhecimento colaborativo sobre os grandes dilemas contemporâneos. Defendeu, ainda, a criação de um modelo de governança e de projetos nacionais voltados ao fortalecimento do multilateralismo Sul-Sul, com ênfase em ciência, tecnologia e inovação, capazes de projetar o Brasil e demais países do BRICS como atores centrais em setores estratégicos.
Professores, gestores e estudantes da rede pública participaram do debate

Após as apresentações, a mesa realizou duas rodadas de perguntas, com o objetivo de abrir o debate para o público externo. A interação foi marcada pela multiplicidade de perfis entre aqueles que apresentaram suas indagações aos palestrantes. Professores da rede estadual de ensino, gestores municipais, estudantes de graduação e do ensino médio tiveram a oportunidade de levantar seus questionamentos e participar do debate.
No primeiro bloco, as perguntas versaram sobre o papel das big techs e da formação de data centers dentro de uma perspectiva multilateralista. Também foram abordadas as mudanças de hegemonia na ordem geopolítica atual e quais são os limites do Sul Global nesse processo; além disso, questionou-se sobre quais são as possíveis contradições entre a exploração da matriz energética, o desenvolvimento sustentável, e o avanço econômico no Brasil.

A segunda rodada contou com perguntas sobre o uso de ferramentas tecnológicas e possibilidades de digitalização nos processos de pesquisa estatística; as estratégias para a evitar fuga de cérebros causada pela evasão de pesquisadores e profissionais nos países em desenvolvimento; e quais são as atuais ameaças ao multilateralismo, em especial nos países do Sul global.
O debate foi considerado proveitoso e instigante, com ampla participação do público e engajamento dos palestrantes, que aprofundaram as reflexões propostas e reforçaram a urgência de se repensar os modelos de cooperação internacional e posicionamento diante dos desafios contemporâneos.
Sobre o evento
O Triplo Fórum é organizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em coorganização com o Governo do Estado do Ceará, de 11a 13 de junho, no Centro de Eventos do Ceará (Av. Washington Soares, 999, acesso pavilhão oeste, portão C). Acesse a programação no portal do evento, que tem o apoio do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), do Banco do Nordeste do Brasil (BNB), do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), do Ceará Sem Fome, da Companhia de Participação e Gestão de Ativos do Ceará S/A - Ceará Par, da Secretaria de Turismo do Ceará, da Secretaria Nacional de Juventude - Secretaria Geral da Presidência da República, e demais parceiros. As plenárias serão transmitidas pelo IBGE digital, e pelos canais oficiais do instituto IBGE Digital, Youtube, Instagram, TikTok e Facebook.