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IBGE e INE: desafios e estratégias semelhantes para manter pesquisas durante a pandemia
26/08/2020 14h00 | Atualizado em 26/08/2020 17h47
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) promoveu, na sexta-feira (21/8), um Webinário Especial. A convite da Diretoria de Pesquisas, o Instituto Nacional de Estatística (INE) do Chile apresentou suas experiências relacionadas a pesquisas e indicadores de força de trabalho durante a pandemia de Covid-19. Com audiência de mais de 200 pessoas, o evento contou com a participação de servidores do IBGE, especialistas brasileiros e de outros institutos de estatísticas da América Latina.
David Niculcar, chefe do Departamento de Estatísticas Laborais do INE Chile, apresentou as estratégias de manutenção das pesquisas neste período crítico, detalhando os ajustes que foram necessários na operação de coleta das informações, as alterações metodológicas e processuais, bem como o aproveitamento da amostra original da pesquisa e as análises dos indicadores.
Ele explicou que o INE realiza pesquisa domiciliar, cuja população-alvo são todas as pessoas com 15 anos ou mais. A pesquisa é de coleta contínua durante o ano e alinhada com as recomendações da Organização Internacional do Trabalho (OIT) para medir estatísticas de trabalho, ocupação e subutilização da força de trabalho. O desenho da amostra garante estimativas representativas para um trimestre móvel, mas não é possível obter dados mensais. Também apresenta indicadores em níveis nacional e regional, mas não há estimativas em nível comunal (municipal).
“Dada a contingência da Covid-19 a partir da segunda quinzena de março, a coleta deu-se principalmente por telefone e, em alguns casos, a partir de questionário na web autoaplicável. Usamos uma base de dados que consiste apenas em pesquisas completas. A taxa de realização do trimestre abril-maio-junho de 2020 foi de 62,5%, equivalente a 24.054 domicílios pesquisados, garantindo a cobertura”, informou Niculcar.
O chefe do instituto chileno observou que, como medida de transparência, o INE divulgou, desde o início da pandemia em março, cinco notas técnicas. Elas tiveram como temas "Mensuração de vieses nos principais indicadores do mercado de trabalho", "Impactos esperados nos indicadores", "Impacto da lei de proteção ao emprego", "Inclusão de novas questões" e "Experiências internacionais". O INE também publicou um documento metodológico com a análise do efeito da Covid-19 no desenho da amostra e estimativas.
A pesquisa de trabalho tem um ajuste nas projeções populacionais com base no Censo de 2017, controlando mais até mesmo as possíveis diferenças relativas (vieses) da amostra. O INE também se preocupou com a distribuição equilibrada da amostra nas semanas de coleta que compõem o mês e o trimestre. O levantamento da subamostra de junho foi entre 11 de junho e 9 de julho de 2020.
Niculcar reiterou que o questionário é autoaplicável, e o INE usa uma ferramenta gratuita do Banco Mundial para que as pessoas informem os dados pela página do instituto na Web. Funciona como alternativa ao telefone, especialmente para cidadãos desconfiados que se sentem mais seguros respondendo pela Web. “Até o momento, seu uso é de baixa incidência: os informantes preferem responder à pesquisa por telefone”, ressalta.
Ele destacou que o impacto na taxa de realização da pesquisa deve-se à maior dificuldade de contato para o informante quando comparado à pesquisa presencial e ao fato de o INE não ter disponíveis os telefones para contato com a casa, devido às discussões de não compartilhamento de dados pessoais. Para contornar essa limitação, passou a utilizar domicílios da mostra que já haviam cumprido o ciclo de rotação. A pesquisa telefônica tem, em média, 40 minutos.
Na nota técnica número 5, o INE adotou as recomendações da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal); e a estratégia foi acompanhar o comportamento da amostra de abril, maio e junho e comparar com a de dezembro, janeiro e fevereiro.
“A diferença entre a taxa de desocupação anterior e a simulada foi de 0,02 p.p., uma diferença relativa aceitável. Houve diferenças também entre os setores econômicos. As maiores diferenças relativas foram observadas nas atividades de organizações extraterritoriais, energia, abastecimento de água, informação e comunicação, serviços administrativo e de suporte. Já as menores foram nos setores de construção, ensino, comércio, atividades imobiliárias, transporte e armazenamento”, explicou Niculcar.
Outra preocupação do INE, seguindo as recomendações da OIT, é a manutenção dos padrões internacionais – em especial a 19ª CIET –nas pesquisas da força de trabalho e tratamento de grupos e situações especiais. Para Niculcar, é preciso haver equilíbrio entre a qualidade do indicador e a necessidade de informações para suportar as políticas públicas.
Foram introduzidas diretrizes sobre como tratar pessoas ausentes de seus empregos no período de referência. De acordo com as recomendações da OIT, novas questões foram incluídas, como a sobre a expectativa de retorno ao trabalho.
“Também foram incluídas perguntas para medir o impacto da Covid-19 na renda dos trabalhadores. Elas foram adicionadas no final do módulo de busca de emprego, sem afetar o fluxo pesquisa atual. Medimos de forma qualitativa e não quantitativa, incluindo três novas perguntas. Essas novas questões serão publicadas a partir do trimestre maio-julho de 2020”, sinalizou Niculcar.
A partir de junho, foram incluídas perguntas relacionadas à Covid-19 para, por exemplo, caracterizar empregos anteriores. O objetivo é conhecer quando deixaram a última ocupação, a razão da demissão ou de renúncia ao emprego.
Por fim, o chefe de Estatísticas do INE apresentou os principais indicadores da força de trabalho no Chile. O país tem 15,67 milhões de pessoas em idade para trabalhar, dos quais 8,14 milhões estão na força de trabalho, sendo 7,14 milhões de ocupados e 996,9 mil de desocupados. São 7,54 milhões fora da força de trabalho, e a taxa de desocupação é de 12,2%, enquanto a de ocupação, 45,6%.
No encerramento, Eduardo Rios Neto, diretor de Pesquisas do IBGE, destacou a similaridade dos desafios e das estratégias adotadas pelo INE e pelo IBGE para continuar conduzindo as pesquisas. “Os dois países têm as mesmas características de mercado de trabalho; e fiquei muito surpreso com o grau de similaridade dos resultados. Na parte metodológica, gostei muito do que ocorreu no INE e no IBGE durante a transição para a coleta por telefone: rapidez da mudança e aparente sucesso. Nos EUA, onde predomina a coleta por telefone, as pesquisas foram desligadas, e, no Brasil e no Chile, permaneceram”, ressaltou Rios.
Cimar Azeredo, diretor-adjunto de Pesquisas do IBGE, observou que toda a experiência acumulada no período de pandemia não será perdida, pois a forma de se realizar as pesquisas não será mais a mesma. “O que está claro para nós é que, voltando ao normal com segurança, não vamos mais fazer pesquisas como antes. Toda semana, temos feito sondagens com os pesquisadores, escolhendo dois por estado, com objetivo de conhecer melhor esta experiência. A experiência com trabalho remoto com certeza vai introduzir mudanças expressivas na nossa forma de trabalhar. Não acredito que seremos iguais depois dessa pandemia. Estamos aprendendo muito com essa experiência”, destacou Azeredo.
“Foi uma excelente oportunidade de poder conhecer a experiência de outro país, neste momento de grande adaptação na modalidade de fazer pesquisa, constatar que os desafios são os mesmos que os nossos e, principalmente, que estamos acumulando um valioso aprendizado desse processo”, concluiu Maria Lúcia Vieira, coordenadora de Trabalho e Rendimento do IBGE.