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Seminário relembra 40 anos do IPCA e debate futuro do cálculo da inflação
14/08/2020 16h50 | Atualizado em 14/08/2020 17h03
“O IBGE é a casa dos números, a casa da precisão, e assim deve ser”. A descrição sucinta – porém verdadeira – da missão do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística foi definida pelo economista Francisco de Assis Moura de Melo, em seminário realizado via internet, no dia 12, para uma plateia virtual de quase 50 pessoas. No ano em que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) completa quatro décadas de existência, o evento tratou da Trajetória do IPCA: conceitos e métodos, usos e futuro. Também presentes ao debate estavam o coordenador de Índices de Preços, Gustavo Vitti, e o diretor-adjunto de Pesquisas, Cimar Azeredo.
Em duas horas e meia, os especialistas relembraram as origens do índice, na segunda metade dos anos 1970, num país imerso em inflação elevada, e descreveram a evolução de seu uso e o ganho de relevância ao longo dos anos. “Hoje o IPCA é um produto consolidado e balizador do regime de metas para a inflação do Brasil, que está em vigor desde 1999”, enfatizou Gustavo Vitti, explicando que o IPCA mede a variação do custo de uma cesta representativa do consumo de famílias que têm rendimentos de um a 40 salários mínimos.
Francisco de Assis Melo, que trabalhou por 13 anos no IBGE, afirma que a construção do sistema de cálculo da inflação do Instituto obedeceu, desde o início, os textos científicos dos melhores autores e os métodos mais modernos do Bureau of Labor Statistics dos Estados Unidos. “Em um ambiente de descrédito nos índices de preços no Brasil, o IBGE discutiu metodologias, firmou conceitos e aspectos operacionais e implantou a melhor estatística de preços do País”, destacou.
Mestre em Economia pela FGV-RJ, Melo é autor do texto “IPCA quarentão, trajetória e futuro”, escrito para sua apresentação no seminário. Nesta obra, de 75 páginas, o autor defende a criação de um Observatório das Estatísticas Econômicas, com o objetivo de analisar o dado sob a ótica do IBGE, isto é, da correção e da precisão da estatística. “Caberia ao Observatório fazer as vezes de um processo de destruição criativa para construir melhor. Seria o alerta interno, eficaz para manter a qualidade das estatísticas econômicas do Instituto”.
Encerrada a descrição da história do índice, houve espaço para perguntas da audiência e até para debater os futuros desafios ao cálculo da inflação. Francisco de Assis Melo sugeriu a extinção do IPCA-15, no que foi acompanhado por Gustavo Vitti, para simplificar o sistema de indexação brasileiro. O IPCA-15 difere do IPCA apenas pela menor abrangência geográfica e pelo período de coleta, geralmente do dia 16 do mês anterior ao 15 do mês de referência. “Serve mais como uma antecipação do IPCA, numa conjuntura de muito curto prazo, abrangendo 11 das 16 áreas regularmente pesquisadas”, comentou o coordenador sobre o IPCA-15.
Ao mesmo tempo, o quarentão IPCA – balizador da política monetária, referência para a Emenda Constitucional do teto dos gastos e presença marcante em cláusulas de constituição de fundos de ativos financeiros e indexador das Notas do Tesouro Nacional (NTN-b) – demonstra vitalidade para encarar os próximos anos, ao incorporar novas tecnologias aos métodos de coleta. “Já temos coleta online de alguns preços e a ideia é, dentro dos limites legais, ter acesso às notas fiscais eletrônicas ao consumidor e, com isso, acessar o universo das transações em termos de preços e quantidades”, adiantou Gustavo Vitti, prevendo que esses registros administrativos poderão servir de base para estimativas mais precisas e mais rápidas.
Na avaliação do técnico Leonardo Santos, que trabalha há 10 anos com a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) e teve uma pergunta respondida pelos palestrantes, saber mais sobre a história dos índices de inflação foi uma experiência enriquecedora. Além disso, o seminário evidencia a tradição de diálogo do IBGE. “Aqui se promove o diálogo, diferentes públicos têm abertura para participar e discutir os rumos da Casa”, disse. Já a supervisora das pesquisas por empresas do IBGE em Sergipe, Rosinadja Morato, ressalta o caráter didático do evento. “Ao descobrir os detalhes de como se dá a confecção do índice, os servidores entendem ainda mais os desafios que cada setor enfrenta no dia a dia”, resumiu.
Fernanda Estelita, tecnologista do IBGE desde 2002 e atualmente gerente de Planejamento e Gestão da Unidade Estadual de Pernambuco, se disse gratificada após o evento. “Em nenhum momento havia participado de um seminário técnico nesses termos. A gente discutia muito sobre o como fazer da pesquisa, mas muito pouco sobre os fundamentos e os porquês. A discussão metodológica sobre a pertinência dos índices e as soluções apresentadas foram enriquecedoras”, comentou.