Nossos serviços estão apresentando instabilidade no momento. Algumas informações podem não estar disponíveis.

Cooperação internacional

Países latino-americanos buscam recursos para gestão de desastres naturais

Editoria: Geociências | Carmen Nery

18/11/2019 16h00 | Atualizado em 18/11/2019 17h33

Estudos de geodésia podem contribuir para a gestão do impacto de desastres naturais - Foto: Secom Bahia

O Brasil e outros 13 países da América Latina que já adotaram o Sistema de Referência Geocêntrico para as Américas (SIRGAS) estão preparados para se adequarem ao Quadro de Referência Geodésico Global, cuja adoção é recomendada pelas Nações Unidas (ONU). O quadro trata da medição da Terra, a partir de sua orientação no espaço, seu campo gravitacional e a sua forma, informações fundamentais para a gestão de mudanças climáticas e desastres naturais.

Mas, para atender a proposta da ONU, serão necessários recursos que a comunidade internacional de geociências e geodésia tenta buscar sensibilizando governos e organismos multilaterais. “A resolução das Nações Unidas abriu a possibilidade de se alertar os governos de que a geodésia é uma questão de Estado e estratégica para governar um país. Os governos devem dar apoio econômico para que um órgão como o IBGE, quando tiver de instalar uma estação, tenha recursos disponíveis”, afirmou a pesquisadora da Universidade de Tecnologia de Munique e ex-vice-presidente do SIRGAS, Laura Sanchez.

O tema foi debatido no Simpósio SIRGAS 2019 que reuniu as principais organizações internacionais no campo da geodésia e contou com a participação de especialistas de 14 países latino-americanos, além de representantes da Alemanha, Estados Unidos, Áustria e Itália. O evento foi realizado pelo IBGE e pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), de 11 a 14 de novembro, no Centro de Documentação e Difusão da Informação (CDDI) do IBGE.

O chefe do departamento de Engenharia Cartográfica da Uerj, Luiz Paulo Souto Fortes, destaca que o simpósio é realizado desde 1993 quando a Associação Internacional de Geodésia (IAG) criou o SIRGAS.

“A iniciativa SIRGAS implantou na América Latina uma infraestrutura de referência geodésica comum que é considerada tão importante como as infraestruturas de energia, saneamento e telecomunicações, fornecendo a referência para o posicionamento de qualquer ponto, em qualquer localidade da região, para aplicações como obras de engenharia e infraestrutura”, explica Fortes.

O especialista da Agência Nacional de Mineração da Colômbia e atual presidente do SIRGAS, William Martinez, diz que a Colômbia adotou o SIRGAS em 2005 e experimentou um avanço em termos de granulometria, estações permanentes e processamento de dados além do fortalecimento de diferentes setores acadêmicos e empresas que foram criadas.

“Até hoje 14 países na região adotaram o SIRGAS em nível nacional. A adoção depende da situação interna de cada país, muitos não contam com recursos. Agora, como um tema das Nações Unidas, a gestão da informação geoespacial seguramente vai fortalecer centros técnicos como o IBGE”, acredita Martinez.

Mesa de abertura do do evento Sirgas, realizado no Rio de Janeiro - Foto: Álvaro Vasconcellos/IBGE

O diretor de Geociências do IBGE, João Bosco de Azevedo, observa que o SIRGAS dá suporte a sistemas de localização por satélite como o GPS, americano, e o Glonass, russo. Ele destaca que, além de sediar o evento pela primeira vez, o IBGE ganhou ainda mais relevância na comunidade internacional de geociência com a eleição de Sonia Costa, gerente de Geodésia do IBGE, para a presidência do SIRGAS pelos próximos quatro anos. “O Brasil adotou o SIRGAS em 2005 e já está apto a adotar o sistema global recomendado pela ONU”, reforça Azevedo.

Sonia Costa diz que a escolha de um representante do Brasil mostra a importância do país no continente e a relevância na produção da geoinformação, não apenas no campo da geodésia, mas também na cartografia e na infraestrutura de dados espaciais.

“A geodésia é a camada de referência para toda informação georreferenciada. Até 2005, tínhamos uma metodologia antiga, não havia sistemas de satélites e a cartografia dos países não podia ser integrada. Hoje já há quatro sistemas que formam o GNSS (Global Navigation Satellite System), o GPS (americano), o Glonass (russo), o Galileo (europeu), Beidou (chinês), que facilitam o monitoramento de desastres naturais e permitem disparar alertas. O Japão tem expectativa de já no próximo ano ter precisão centimétrica”, destaca Sônia.

Sistema de referência vertical

Hector Rovera, especialista do Instituto Panamericano de Geografia e História, ligado à Organização dos Estados Americanos (OEA), ressalta que muitos países adotam seus próprios sistemas, mas com a resolução da ONU, todo o mundo vai adotar o sistema global para melhor monitorar as mudanças climáticas e os desastres. Há um esforço para que os EUA e o Canadá também adotem o sistema para que o SIRGAS contemple, de fato, todas as Américas.

“Os EUA e o Canadá estão atrasados, usando sistemas baseados em tecnologia de 1983, e agora têm de trocar tudo para o marco de referência internacional que é 100% consistente com os sistemas de satélites a exemplo do SIRGAS”, diz Hermann Drewes, sub-secretário geral da IAG e representante da entidade no SIRGAS.

Hermann Drewes, sub-secretário geral do Associação Internacional de Geodésia - Foto: Álvaro Vasconcellos/IBGE

Presidente do grupo de trabalho do SIRGAS, Victor Cioce, diz que isso não chega a ser um problema, mas apenas uma questão de organização já que os sistemas utilizados pelos dois países são compatíveis com o SIRGAS. “Houve um grande avanço na implementação do SIRGAS. O que falta é um sistema de referência vertical, mas não há sistemas físicos locais uniformes”, resume Cioce.

Maria Virginia Mackern, pesquisadora da Universidade Nacional de Cuyo em Mendoza, Argentina, e vice-presidente do SIRGAS, destacou no evento o avanço do SIRGAS ao estabelecer um marco geométrico. Agora, além de densificar a utilização do SIRGAS pelo interior dos países, a meta é estabelecer um marco altimétrico para que o SIRGAS também seja o marco de referência vertical.

Hoje cada país tem um sistema vertical e unificar o padrão é um dos principais temas que mobilizam a comunidade geodésica. Drewes, da IAG, diz que este é um dos desafios da entidade, além de analisar e calcular todos os efeitos das mudanças climáticas globais; desenvolver a geodésia marinha; e adotar todas as técnicas modernas.

“O sistema de referência vertical é um desafio porque vários países contam com sistemas de medição em locais com diferentes níveis do mar; a exemplo do Brasil com dois pontos, e o Chile, com cinco. Estamos trabalhando para resolver o problema cientificamente e isso necessita do apoio dos governos locais. A ONU já decidiu que o sistema global é uma necessidade para o desenvolvimento sustentável em todo o mundo. Assim, consideramos que é possível pedir ajuda financeira à ONU e ao Banco Mundial”, sinaliza Drewes.


Palavras-chave: Geociências, Geodésia, Geografia, América Latina, Cooperação Internacional, ONU.