Servidores do IBGE apresentam trabalhos no 65º Congresso Mundial de Estatística, em Haia
17/10/2025 15h13 | Atualizado em 17/10/2025 17h05

O 65º Congresso Mundial de Estatística, principal evento internacional da área, reuniu, entre os dias 5 a 9 de outubro, mais de 2.000 delegados de governos, universidades e empresas privadas em sua 65ª edição, em Haia, na Holanda. Organizado bienalmente desde 1887 pelo Instituto Internacional de Estatística (ISI), o encontro promoveu o intercâmbio de experiências e inovações na produção e disseminação de estatísticas.
O evento contou com participação expressiva de representantes de Institutos Nacionais de Estatística e de instituições relevantes para a produção de estatísticas oficiais e experimentais. O IBGE esteve presente com uma delegação composta por sete servidoras e servidores: Alinne Veiga, Maria Luiza Toledo, Claudio Marques e Bianca Walsh, da Escola Nacional de Ciências Estatísticas; Ian Nunes e Marcelo Maia, da Diretoria de Pesquisas; e Andrea Diniz da Silva, da Presidência.
As servidoras e os servidores participaram de sessões e mesas convidadas, nas quais apresentaram e debateram importantes inovações nos processos de trabalho do programa de atividades do IBGE. A participação proporcionou uma valiosa oportunidade de troca de conhecimentos e experiências com pares da comunidade estatística nacional e internacional.

Andrea Diniz da Silva, Chefe de Relações Internacionais do IBGE e professora da Escola Nacional de Ciências Estatísticas, apresentou o projeto “Indicadores ambientais e de mudanças climáticas: uma abordagem comum utilizando métodos inovadores e fontes de dados alternativas”, coordenado pelo IBGE e desenvolvido em parceria com 11 países da América Latina e Caribe.
O Congresso abordou temas centrais para a agenda da produção estatística, com destaque para dezenas de sessões voltadas à modernização, novos métodos, avaliação e disseminação de dados em censos demográficos, pesquisas domiciliares e empresariais. A servidora ressaltou que foram discutidas questões estratégicas para o desenvolvimento metodológico, coordenação e integração de sistemas estatísticos, além de aspectos relacionados à cooperação técnica e à organização institucional.
“Trata-se de uma valiosa combinação de conteúdo de ponta, enorme rede de oportunidades, aprendizado de alto valor, compartilhamento de conhecimento, celebrações de prêmios e criação de novas oportunidades de colaboração”, afirmou Andrea Diniz da Silva.
O evento contou com forte presença de estatísticos, técnicos e acadêmicos internacionais, líderes empresariais e pensadores da área, que debateram temas atuais e futuros em mais de 200 sessões. O programa incluiu tópicos diretamente alinhados à agenda de modernização do IBGE, como métodos inovadores, aprendizado de máquina, inteligência artificial, o futuro das pesquisas amostrais na era do big data, uso de dados massivos para monitoramento da Agenda 2030, tecnologias emergentes e desafios dos sistemas estatísticos.

Participação no World Statistics Congress 2025 reforça presença do IBGE no cenário internacional
A participação no congresso foi uma experiência marcante para a pesquisadora Alinne Veiga. Durante o congresso, a servidora reencontrou pesquisadores e professores com quem teve contato durante seu doutorado na Inglaterra, incluindo seu coorientador, o que tornou a experiência ainda mais significativa. As sessões acompanhadas abordaram temas diretamente relacionados aos desafios atuais enfrentados pelo IBGE, como estatísticas oficiais, uso de registros administrativos, survey statistics e a integração da inteligência artificial na modernização da produção estatística.
“Duas reflexões da pesquisadora Natalie Shlomo sintetizaram o espírito das discussões. A primeira — “Surveys aren’t going anywhere” — destacou que, mesmo com o avanço de novas fontes de dados, as pesquisas amostrais continuarão sendo fundamentais para validar e complementar os registros administrativos. A segunda — “All statisticians are data scientists, but the opposite isn’t true” — reforçou a profundidade e o rigor da ciência estatística.”, destacou Alinne Veiga.
Outro ponto ressaltado pela servidora foi a importância de integrar-se à comunidade internacional. “Percebi como faz diferença fazer parte desse ambiente global. Saí de lá com o desejo de me associar à IASS (International Association of Survey Statisticians), pois os temas discutidos nesses fóruns são extremamente relevantes”, afirmou.

A pesquisadora e professora da ENCE, Maria Luíza, apresentou um estudo desenvolvido em parceria com os servidores Cristiano Fonseca e Lucas Silveira, da Superintendência do IBGE em Minas Gerais (SES-MG), sobre a estimação de erro não amostral na PNAD Contínua.
O trabalho fundamentou a implementação de um projeto de Supervisão da Qualidade na pesquisa, com a realização de reentrevistas e o uso de indicadores de consistência para monitorar possíveis interferências do entrevistador nos resultados. A apresentação integrou uma sessão temática dedicada ao viés de não resposta e à presença de valores faltantes em levantamentos estatísticos.
“A apresentação integrou uma sessão dedicada a viés de não resposta e valores faltantes em levantamentos e contou com ativa participação do público, que trouxe questionamentos sobre os procedimentos de campo e sobre a possibilidade de empregar sistemas de inteligência artificial como entrevistadores.", explicou Maria Luíza.

O servidor Marcelo Rodrigues de Holanda Maia, da recém-criada Gerência de Inteligência em Dados Agropecuários e Inovação (GIDAI), vinculada à DPE/COAGRO, apresentou o trabalho “Developing Improvements in Field Operations with Routing Optimization for the Brazilian Census of Agriculture”.
A pesquisa detalha propostas inovadoras para otimizar as operações de campo do Censo Agropecuário, com destaque para o mapeamento das vias nos setores censitários rurais e a aplicação de algoritmos de otimização no planejamento de rotas dos recenseadores. As soluções visam reduzir custos operacionais e aumentar a eficiência logística da coleta de dados em áreas extensas e de difícil acesso.
Durante o congresso, Marcelo Maia também acompanhou sessões voltadas à convergência entre estatísticas oficiais e ciência de dados, reforçando uma visão estratégica para o futuro da produção estatística no país. “A adoção de técnicas avançadas de otimização e inteligência artificial é um caminho promissor para aprimorar a precisão, a eficiência e a relevância das estatísticas oficiais. Participar deste evento global reforça o compromisso do IBGE com a incorporação de metodologias de ponta nas pesquisas nacionais de grande escala”, afirmou.
Ian Nunes detalhou a técnica que divide o espaço rural em áreas contínuas e homogêneas, denominadas talhões, para fins de análise agropecuária
O servidor Ian Nunes, gerente da Gerência de Inteligência em Dados Agropecuários e Inovação (GIDAI/COAGRO/DPE), apresentou o trabalho “Divide and conquer: Using plots to understand agricultural activities”, que detalha a metodologia de talhonamento do território nacional — técnica que divide o espaço rural em áreas contínuas e homogêneas, denominadas talhões, para fins de análise agropecuária.
A proposta permite uma leitura mais precisa das atividades no campo, ao identificar áreas com uso agropecuário e possibilitar sua espacialização com base na continuidade e uniformidade territorial. Durante a apresentação, Ian discutiu as aplicações estatísticas do talhonamento, seus impactos na produção de dados e as perspectivas de uso futuro da técnica para gerar estatísticas mais refinadas e sensíveis ao território.
Além disso, o servidor participou de debates sobre o uso de inteligência artificial, aprendizado de máquina e métodos de otimização na produção estatística, especialmente no contexto dos institutos nacionais de estatística. “Observar praticamente todos os INEs incorporando técnicas de matemática computacional, machine learning, inteligência artificial, entre outras, me fez acreditar que o caminho que estamos seguindo na COAGRO não só está alinhado, mas está na vanguarda da modernização da produção de estatísticas agropecuárias oficiais”, afirmou.

O jornalista e professor da ENCE, Claudio Marques, apresentou o artigo “The IBGE Communication Circuit” durante a sessão CPS 64 – Data Dissemination and User Engagement in Official Statistics, no congresso. O trabalho, baseado em um dos tópicos de sua tese de doutorado, propõe um modelo de circuito de comunicação para analisar como o IBGE dissemina suas informações estatísticas à sociedade.
A proposta busca compreender e aprimorar os fluxos de comunicação institucional, com foco na acessibilidade e na efetividade da transmissão dos dados produzidos pelo Instituto. “É necessário tornar as informações cada vez mais acessíveis à sociedade como um todo. Fortalecer o fluxo de disseminação é crucial para combater a desinformação e promover a cidadania”, destacou Claudio Marques.
A apresentação integrou um debate mais amplo sobre o papel das instituições estatísticas na era da informação, com ênfase na transparência, no engajamento dos usuários e na responsabilidade social da comunicação pública de dados.

IBGE é reconhecido por ações de letramento estatístico
A servidora Bianca Walsh representou o IBGE com três apresentações orais, incluindo uma no evento satélite da Associação Internacional de Educação Estatística (IASE-ISI). Os trabalhos apresentados detalharam projetos de letramento estatístico desenvolvidos na ENCE em parceria com as professoras Larissa Alves e Renata Bueno.
Além das apresentações, Bianca subiu ao palco para receber, em nome de dois estudantes brasileiros, o prêmio da etapa internacional da Competição de Pôsteres Estatísticos. Ela coordenou a competição no Brasil ao lado da professora Mauren Porciúncula, da FURG, atuando como coordenadoras nacionais no âmbito do Projeto Internacional de Letramento Estatístico (ISLP-IASE).
“Participar do ISI foi a confirmação de que estamos no caminho certo na promoção do letramento estatístico. Recebemos o reconhecimento de referências internacionais na área. Além disso, tive a felicidade de representar o Brasil na competição do ISLP — uma enorme conquista para o país e para o IBGE, que abraçou a iniciativa nas edições de 2024 e 2025”, destacou Bianca Walsh.