Gestão do Território
São Paulo lidera e Itajaí ganha destaque no ranking da gestão do território
26/03/2025 10h00 | Atualizado em 26/03/2025 10h32
Destaques
- O estudo Gestão do Território, em sua segunda edição, mostra, no universo dos 5.570 municípios do país, quais são os Centros de Gestão, isto é, os responsáveis pelo papel de comando na rede urbana brasileira, tanto do ponto de vista empresarial quanto da gestão pública.
- Em 2024, apenas 39,1% dos municípios do Brasil se qualificavam como Centros de Gestão do Território (2.176 municípios), total ligeiramente inferior aos 39,6% (2.204 municípios) identificados no estudo realizado em 2014.
- São Paulo (SP) é o município que detém a primazia da Gestão Empresarial, seguido do Rio de Janeiro (RJ) e Brasília (DF). Barueri, Osasco e Guarulhos, municípios da área metropolitana de São Paulo, também possuem posições relevantes no mesmo ranking, realçando a centralidade da metrópole paulista.
- Em 2012, as empresas multilocalizadas (aquelas que estão presentes, simultaneamente, em diversos pontos do território, com suas unidades instaladas em diferentes municípios) eram 1,86% do total de empresas pesquisadas e passaram para 2,18% em 2021. Apesar do pequeno percentual, em 2021 estavam presentes em 99,9% dos municípios, demonstrando expressiva capilaridade.
- Em 2021, das cinco principais atividades das empresas multilocalizadas, três eram do setor de saúde. O setor de transporte foi o principal destaque nesse ano, seguido do comércio varejista de vestuário, invertendo a ordem apresentada em 2012.
- Brasília (DF) se destaca como principal centro da Gestão Pública, seguida do Rio de Janeiro (RJ), São Paulo (SP) e Recife (PE).
- O topo da Gestão do Território corresponde à tríade de municípios São Paulo (SP), Rio de Janeiro (RJ) e Brasília (DF).
- Campinas (SP) é o único município que não é capital entre os que ocupam maior posição na hierarquia da Gestão do Território.
- Ainda sobre o indicador Gestão do Território, Itajaí (SC) é o município de maior valor dentre os municípios que não são capital nem componente de metrópole, ocupando a 26ª posição no ranking nacional. Esse resultado foi impulsionado principalmente pelo desempenho de Itajaí no indicador de intensidade empresarial, ao abrigar um número expressivo de sedes e filiais de empresas multilocalizadas, superando até mesmo o indicador de capitais estaduais como Manaus (AM), Cuiabá (MT) e Belém (PA).

Em 2024, apenas 39,1% dos municípios brasileiros se qualificavam como Centros de Gestão do Território (2.176 municípios), total ligeiramente inferior aos 39,6% (2.204 municípios) identificados no estudo de 2014. São Paulo (SP) permanece no topo da gestão, seguido de Brasília (DF) e do Rio de Janeiro (RJ), que também mantiveram suas posições no ranking nacional. O resultado demonstra o papel de comando que os três municípios exercem na rede urbana brasileira, tanto do ponto de vista empresarial quanto do da gestão pública. Itajaí (SC) é o município de maior destaque entre os que não são capitais nem pertencem a uma metrópole.
Essas informações fazem parte da pesquisa Gestão do Território 2024, divulgada hoje (26/3), que identifica os Centros de Gestão existentes no universo dos 5.570 municípios do país. O estudo traz aspectos sobre a Gestão Empresarial, com enfoque para os municípios com atividades empresariais que atuam de forma articulada a outros municípios; e aspectos sobre a Gestão Pública, identificando as redes hierárquicas de gestão de uma série de instituições públicas com unidades descentralizadas, em níveis federal e estadual.
De acordo com Marcelo Motta, gerente da pesquisa, essas informações são importantes para identificar os centros urbanos que concentram a capacidade de comando e controle do país e para compreender como as diferentes cidades e regiões se articulam por meio de redes de gestão do território:
“Os relacionamentos a distância dos agentes econômicos e políticos ajudam a definir o papel das cidades. De um lado, o Estado, através de seus organismos públicos, atende a população, levanta dados, recolhe tributos, executa políticas públicas. De outro, as empresas que, para garantirem lucratividade, vão ter suas estratégias particulares de atuação e de organização no espaço”.
Apesar de representarem uma pequena porcentagem do total (2,2%), em 2021 empresas multilocalizadas estavam presentes em 99,9% dos municípios
A parte da pesquisa sobre a Gestão Empresarial cobre os municípios com atividades empresariais que atuam de forma articulada com outros municípios, e os pares de cidades que se relacionam mais intensamente. Para compreender essas relações, o estudo contemplou as empresas multilocalizadas: aquelas que estão presentes, simultaneamente, em diversos pontos do território, com suas unidades instaladas em diferentes municípios. Assim, foram selecionadas do Cadastro Central de Empresas (Cempre) as unidades que possuíam pelo menos uma filial em município diferente daquele onde se localizava a sua sede.
Em 2012, as empresas multilocalizadas eram 1,9% do total de empresas pesquisadas e passaram para 2,2% em 2021.Apesar de representarem uma pequena percentagem do total, em 2021 estavam presentes em 99,9% dos municípios. Entre 2012 e 2021, o percentual de participação dessas empresas em relação às empresas em geral variou 0,3%, passando de 1,9% (2012) para 2,2% (2021). Porém, quanto ao crescimento relativo, enquanto as empresas em geral apresentaram alta de 13,0% no mesmo período, as multilocalizadas registraram um crescimento de 32,5%.
De acordo com o gerente da pesquisa, os motivos para o aumento das multilocalizadas não foram captados diretamente pela pesquisa. “Normalmente, são processos complexos e com múltiplas causas, como as fusões e aquisições, que levam ao crescimento de redes varejistas, ou o aumento de relevância dos setores de transporte de carga e logística, dado o crescimento do comércio eletrônico”, esclarece.
Em termos regionais, a Região Sudeste possui a maior concentração de empresas multilocalizadas (45,4%). No entanto, de 2011 para 2021, essa concentração se reduziu nas Regiões Sudeste e Sul para aumentar nas demais regiões, com destaque para o Nordeste, que passou de 15,3% de unidades locais, em 2011, para 17,0%, em 2021.
São Paulo (SP) detinha a primazia da Gestão Empresarial em 2021
Uma vez estabelecidas as relações entre municípios, a pesquisa calculou a intensidade das ligações por município, que é um indicador composto pelo somatório do número de sedes e filiais das empresas multilocalizadas para cada município brasileiro. Quanto maior a intensidade atribuída a um município, maiores são as suas interações com os demais, não importando a distância entre eles.
“Não levamos em consideração se a empresa é sede ou filial. Ambas têm o mesmo valor, o mesmo peso, porque, assim, um município que concentra muitas sedes, é óbvio que ele tem uma concentração de poder, mas o município que concentra muitas filiais também tem uma centralidade relevante. A filial pode ser só uma executora, como também pode ser um centro de pesquisa e desenvolvimento, um lugar importantíssimo”, explica Marcelo.
De acordo com Evelyn Pereira, gerente substituta e assistente da pesquisa, o objetivo é ver como esses municípios se comportam em rede. “Ele é um nó importante na rede? Esse município, do ponto de vista empresarial, é uma referência para vários outros? É isso que significa essa intensidade”, complementa.
Ao se analisar a intensidade das ligações por pares de municípios (ligações de sedes e filiais de empresas), o par de maior valor é São Paulo (SP)-Rio de Janeiro (RJ).
Em função de suas ligações, São Paulo (SP) é o município que detém a primazia da Gestão Empresarial em 2021, seguido do Rio de Janeiro (RJ) e Brasília (DF).
Barueri, Osasco e Guarulhos, municípios da área metropolitana de São Paulo, também possuem posições relevantes no mesmo ranking, realçando a centralidade da metrópole paulista.
Em uma década houve pouca variação na representação das centralidades municipais, mas é possível registrar a ascensão no ranking nacional de centralidades intermediarias, como Cuiabá (MT), Belém (PA), Manaus (AM) e, em especial, Itajaí (SC), que abriga um número expressivo de sedes e filiais de empresas multilocalizadas.
Em 2021, das cinco principais atividades das empresas multilocalizadas, três eram do setor de saúde
Ao observar os setores nos quais atuam as empresas multilocalizadas, as maiores concentrações se encontram nos setores do comércio (43,8%) e de serviços (36,2%), muito à frente da indústria (16,7%) e da agropecuária e extrativismo (3,3%). Em termos de atividades, em 2021, das cinco principais, três eram do setor de saúde. O setor de transporte foi o principal destaque nesse ano, seguido do comércio varejista de vestuário, invertendo a ordem apresentada em 2012.
Em 2012, das cinco principais atividades das sedes das empresas multilocalizadas, quatro pertenciam ao setor varejista, enquanto, atualmente, apenas o comércio varejista de artigos do vestuário e acessórios figura com destaque. Já o setor de transporte ganhou importância relativa, o que pode estar relacionado ao crescimento do comercio online e à necessidade de entrega das mercadorias.
“Esse aumento de transporte de carga era esperado. Antes, o primeiro colocado era o comércio varejista de artigos de vestuário e acessórios, que é algo importante até hoje. Isso faz sentido, então, quando a gente relaciona com a distribuição de produtos comprados online hoje, que é consistente com o fato de o transporte de carga ser algo muito dinâmico, que precisa ter muitas unidades descentralizadas em vários municípios”, esclarece Evelyn.
Ainda segundo a pesquisadora, chamam atenção as atividades farmacêuticas, que incluem atividades de atenção ambulatorial executadas por médicos e na área de odontologia, redes de clínicas, produtos farmacêuticos (para humanos e animais), atividades de serviços de complementação diagnóstico e terapêutica, entre outras.
Em 2021, São Paulo foi o município com o maior número de assalariados externos, com crescimento de 17,4% em relação a 2012
Também é possível medir o porte das ligações empresariais entre municípios pelo número de assalariados externos ao município da sede da empresa. Para isso, a pesquisa levantou o total de empregados que trabalham em estabelecimentos (fábrica, loja varejista, agência bancária etc.) de uma empresa cuja sede social está localizada em um município diferente.
Em 2021, São Paulo (SP) foi o município com o maior número de assalariados externos (1.855.722), o que significa um crescimento de 17,4% em relação a 2012. Dentre os dez municípios que lideraram esse quesito, o Rio de Janeiro (RJ) ficou em segundo lugar, com 486.696 assalariados externos, seguido por Brasília, com 315.047.
Entre as cidades que mais apresentaram crescimento relativo do número de assalariados externos, Itajaí (SC) se destaca, por seu setor industrial e pelo polo naval/portuário. Além disso, o município reúne um número significativo de sedes e filiais de empresas multilocalizadas, superando o quantitativo de capitais estaduais como Belém, Manaus e Cuiabá.
Brasília é o principal centro da Gestão Pública do país, seguida por Rio de Janeiro, São Paulo e Recife
Outra vertente da pesquisa é a Gestão Pública. Ela analisa as estratégias territoriais de atuação do Estado, com base na articulação em rede dos centros urbanos, tendo como referência a ação do poder público e a conexão hierarquizada entre municípios, formando uma escala de subordinações que pode chegar até o nível federal.
“A gente tem como pressuposto que o Estado organiza o espaço geográfico por meio das suas organizações, tanto diretamente como pelas instituições públicas que estão descentralizadas nas cidades. É essa distribuição espacial dos órgãos públicos que gera a capacidade de decisão e mostra a maneira como o Estado organiza o próprio espaço”, diz Marcelo.
O principal centro urbano responsável pela gestão pública do país é Brasília (DF), capital federal e sede nacional da maior parte das instituições públicas, que ocupa, isoladamente, a maior de centralidade de gestão pública, atuando como principal de gestor da estrutura administrativa estatal. O Rio de Janeiro (RJ) ocupa a segunda posição, o que pode ser explicado por ainda possuir várias instituições públicas do período em que foi capital federal. São Paulo e Recife completam a lista de municípios no segundo nível de centralidade de gestão pública.
Os três primeiros níveis de centralidade de gestão pública são ocupados exclusivamente por municípios que são núcleos de metrópoles. Juntos, esses municípios compõem os centros urbanos mais influentes do Brasil, além de concentrarem a maior parte da população. A região Nordeste concentra o maior percentual de municípios que não são Centros de Gestão Pública (31,5%) ou que têm baixo nível de centralidade (37,8%).
Ranking dos Municípios, segundo os níveis de centralidade de gestão pública
Níveis de Gestão Pública | Municípios |
---|---|
1 | Brasília (DF) |
2 | Rio de Janeiro (RJ) |
São Paulo (SP) | |
Recife (PE) | |
3 | Belo Horizonte (MG) |
Porto Alegre (RS) | |
Curitiba (PR) | |
Fortaleza (CE) | |
Salvador (BA) | |
Belém (PA) | |
Florianópolis (SC) |
Para compor o quadro da Gestão Federal, a pesquisa selecionou um conjunto de instituições multilocalizadas: IBGE, INSS, Justiça Federal, Ministério do Trabalho e Emprego, Receita Federal, Justiça Eleitoral e Justiça do Trabalho. Entre elas, com maior capilaridade territorial é a Justiça Eleitoral, que está presente em 2.028 municípios.
Quanto à Gestão Estadual, foram consideradas as Secretarias Estaduais de Educação e de Saúde. Um total de 528 municípios receberam reforço no indicador de centralidade de gestão pública em função de seu papel na gestão estadual. Assim, em função da contribuição desse indicador, 25% dos Centros de Gestão Pública foram melhores qualificados, sobretudo em municípios de médio porte com influência relevante nos contextos estaduais.
Itajaí (SC) ocupa a 26ª posição no ranking nacional de Gestão do Território
Os municípios que se qualificam como Centros de Gestão do Território são aqueles que possuem, simultaneamente, entidades de instituições públicas descentralizadas e unidades locais de empresas multilocalizadas, quer sejam elas sedes ou filiais. Com base nesse critério, mais da metade os municípios brasileiros não podem receber essa classificação, pois somente 2.176 (39,1%) municipalidades possuem as duas estruturas.
Em 2024, os três municípios com o maior nível de Gestão do Território foram São Paulo (SP), Brasília (DF) e Rio de Janeiro (RJ), mostrando a centralidade da capital paulista na Gestão Empresarial, Brasília como principal centralidade da Gestão Pública e o Rio de Janeiro como segundo colocado em ambos os tipos de gestão.
Sobre esse indicador, Itajaí (SC) é o município de maior valor dentre os que não são capitais nem componentes de metrópole, ocupando a 26ª posição no ranking nacional. Esse resultado foi impulsionado principalmente pelo desempenho do município no indicador de intensidade empresarial, ao abrigar um número expressivo de sedes e filiais de empresas multilocalizadas, superando até mesmo o indicador de capitais estaduais como Manaus (AM), Cuiabá (MT) e Belém (PA).
“Tem uma pujança grande no estado de Santa Catarina, que não está restrita à capital. Isso é uma coisa que interessa muito, porque cada vez mais as cidades do interior do estado têm maior papel econômico e político”, avalia Evelyn. Já Marcelo destaca o forte papel da rede urbana de Santa Catarina, ao contrário de outrosestados, que têm grande centralização na capital: “Em Santa Catarina, você tem Chapecó, Joinville e Itajaí. Há uma rede urbana mais distribuída”.
Em 2024, 2.176 municípios foram classificados como Centros de Gestão do Território, total ligeiramente inferior aos 2.204 levantados pela pesquisa em 2014. A variação pode ser explicada pela redistribuição de zonas eleitorais e de Agências do INSS.
“A maioria dos municípios brasileiros está absolutamente fora do centro de gestão do território. São 3.394 municípios pequenos e com média de 8.000 habitantes. Então, é uma coisa que se retroalimenta. Quanto maior a gestão do território, maior vai ser a hierarquia do município e ele vai ser atrativo para novas atividades”, conclui Marcelo.
Mais sobre a pesquisa
Gestão do Território 2024 identifica os Centros de Gestão existentes no universo dos 5.570 municípios do país, ou seja, municípios que têm papel de comando na rede urbana brasileira, tanto do ponto de vista empresarial como da gestão pública o estudo de gestão empresarial, foram observados dados do Cadastro Central de Empresas - CEMPRE, do IBGE, referente aos anos de 2020 e 2021, contendo a localização municipal das unidades locais das empresas, quer sejam elas sedes, quer sejam filiais. Já para os estudos de gestão pública, os dados são referentes ao ano de 2024, assim como foi considerada a divisão político administrativa do País vigente em 2024.
Esta é a segunda edição do estudo. A primeira é referente ao ano de 2012. Destaca-se, ainda, que o estudo sobre gestão do território também foi incluído na publicação Regic 2018.
Os dados são disponibilizados em base de dados consolidada, formada por dois conjuntos de tabelas, e podem ser visualizados na Plataforma Geográfica Interativa (PGI) do IBGE.