PNAD Contínua
IBGE participa de treinamento e teste cognitivo de questionário sobre educação inclusiva
24/08/2023 10h00 | Atualizado em 28/08/2023 16h45
O IBGE, em parceria com o UNICEF e o Grupo de Washington para Estatísticas sobre Pessoas com Deficiência (WG), está realizando uma semana de treinamento de pesquisadores e avaliação de questionários cognitivos para a realização entrevistas com enfoque em educação inclusiva e crianças com deficiência. Com uma semana de duração, entre os dias 21 e 25 de agosto.
Os dois primeiros dias de treinamento ocorreram no Centro de Inteligência Corporativa na sede do IBGE, no Rio de Janeiro. As instrutoras apresentaram o método de entrevistas e o questionário, que deve ser aplicado também em outros países. O objetivo geral do projeto é desenvolver, testar e validar o conjunto de perguntas sobre a participação e o ambiente escolar, que possam ser usados por todos os países a fim de recolher dados internacionais comparáveis, nacionalmente representativos e estatisticamente sólidos.
“Está sendo uma semana bastante produtiva, tanto para a nossa equipe quanto para os colegas do UNICEF, que estão indo a campo. Será importante a coleta desses resultados para que posteriormente nós tenhamos elementos de análise para as possibilidades que serão traçadas para as nossas pesquisas”, destacou a coordenadora da PNAD Contínua, Adriana Beringuy.
Por parte do IBGE, as atividades foram acompanhadas pelo Grupo de Trabalho de Deficiência da Diretoria de Pesquisas, que recentemente foi responsável pela divulgação do módulo Pessoas com deficiência da PNAD Contínua 2022, que investigou de que maneira essas pessoas estão inseridas do mercado de trabalho e seu acesso à educação e renda.
O treinamento contou com a participação de duas instrutoras do WG, Meredith Massay e Kristen Cibelli Hibben.
A instrutora da WG, Meredith Massay, explicou que, antes da pesquisa ir a campo, é possível que algumas perguntas apresentem problemas. Portanto, essa fase do processo é importante para que seja possível identificá-los e corrigi-los antes dos questionários serem aplicados. Meredith acrescentou que há também a possibilidade de uma pergunta funcionar em um grupo que não possui uma deficiência funcional mas não funcionar em um grupo que a possui, então é necessário o teste para otimizar ao máximo a comparabilidade dos dados, para ter certeza de que o questionário está sendo compreendido pelos informantes de diferentes grupos de pessoas.
Massay esclareceu ainda quais são as principais diferenças de objetivos de questionários cognitivos que os pesquisadores devem ter em mente ao abordar os informantes. “Em questionários cognitivos, o objetivo é saber como os informantes entendem cada pergunta e os motivos para suas respostas. Nós queremos descobrir qual é a história sobre a vida do informante que o leva a responder cada questão de uma forma específica. A pergunta que o informante está respondendo pode ser completamente diferente da pergunta que nós, cientistas de dados, estamos perguntando, por uma questão de percepção e de experiências da vida, e é isso que queremos descobrir”.
Já Kristen Cibelli Hibben destacou que existem diversos fatores a serem levados em conta na análise dos resultados. “Além da compreensão da pergunta em si, é importante também entender que existem outras etapas no processo de pergunta-resposta, como a recordação, a ponderação e a resposta em si. Nem todos os informantes conseguirão recordar um período de referência com a mesma facilidade, nem todos entenderão que o mesmo tipo de informação é importante para a resposta. E todas essas etapas são influenciadas por fatores sociais, que devem ser entendidos pelos pesquisadores. Precisamos ter a certeza que os termos usados nos questionários são acessíveis e fazem sentido para os informantes”, ressaltou.
Após a etapa de análise do questionário pelos pesquisadores, foram realizadas rodadas de entrevistas-teste entre os participantes para que eles pudessem se familiarizar com os questionários. Em um segundo momento, foram selecionados pelo UNICEF cerca de 80 mães ou detentores de guarda efetiva de crianças de 6 a 17 anos para que os questionários pudessem ser aplicados, metade de famílias com crianças com deficiência e metade sem.
Durante as entrevistas em campo, a coordenadora do Grupo de Trabalho de Deficiência do IBGE, Maíra Bonna Lenzi, relatou que os pesquisadores puderam perceber que, em muitos casos, o questionário não corresponde à realidade das famílias. Ela pontuou que as instrutoras do Washington Group entenderam melhor as necessidades dessa famílias e ajustes serão feitos para que o texto seja universalmente compreendido, independente da classe social ou do nível educacional.
“Essa pesquisa de campo é fundamental, pois conseguimos chegar até as famílias e ouvir as histórias, as experiências de vida, contar sobre a trajetória educacional do filho, como é a rotina, o que ela entende como educação inclusiva. Uma coisa me surpreendeu foi o fato de em muitas dessas famílias que tem um filho com deficiência, já existe uma militância pra correr atrás dos direitos, para que os filhos estejam na escola, para que tenham mediadores, para que tenham acompanhamento adequado no SUS. Eu percebi muito essa luta diária para que, minimamente, as crianças tenham o direito à saúde e educação exercido”, destaca Maíra.
Os testes contribuirão para garantir que as perguntas refletem eficazmente a intenção dos temas a serem avaliados, de um modo que façam sentido e sejam compreendidas pelos informantes. As entrevistas cognitivas são registradas por meio de notas e também gravadas em áudio. Posteriormente, será produzido um relatório de síntese pelas representantes do WG com as principais conclusões, observações e recomendações.