Cartografia
IBGE lança manual e contribui para a padronização dos nomes geográficos
17/07/2023 10h00 | Atualizado em 24/08/2023 10h02
Destaques
- O Manual de Coleta de Nomes Geográficos visa atender às demandas de produtores de mapeamento, escolas, universidades e instituições públicas e privadas.
- Nomes geográficos são nomes próprios utilizados para se referir a um lugar, uma feição ou áreas específicas como vilas, bairros, montanhas, cursos d’água, hospitais e lugares sagrados.
- A publicação detalha cada etapa do processo de coleta de acordo com as recomendações do Grupo das Nações Unidas de Especialistas em Nomes Geográficos (UNGEGN).
- É também um Manual voltado para o uso internacional, e seu lançamento é esperado por diversos países lusófonos, já que contribuirá com o trabalho realizado no âmbito da Divisão dos Países de Língua Portuguesa, do UNGEGN.
O IBGE lançou hoje (17) o Manual de Coleta de Nomes Geográficos, que detalha a metodologia desenvolvida e utilizada pelo órgão no processo de coleta dos nomes de lugares. O Manual, desenvolvido a partir da experiência dos técnicos do IBGE em campanhas de mapeamentos ocorridas em diferentes épocas e locais do território brasileiro, tem como objetivo fornecer uma metodologia consolidada e aprovada para os produtores de mapeamento, escolas, instituições públicas e privadas e para qualquer pesquisador que deseje desenvolver projetos em Toponímia.
Nomes geográficos são nomes próprios utilizados para se referir a um lugar, uma feição ou áreas específicas. Alguns exemplos são nomes de estados, municípios, vilas, bairros, montanhas, cursos d’água, hospitais e lugares sagrados.
“O uso primordial dos nomes geográficos é de referência e identidade. É como as pessoas organizam e comunicam a organização do espaço. É onde você mora, onde você pega o ônibus, para onde você viajou semana passada, todas essas questões são respondidas com nomes geográficos. Se fossem respondidas com coordenadas geográficas, a dúvida permaneceria. O nome geográfico é uma referência sólida e de conhecimento geral, por isso, permite fácil referência e comunicação. Um bom exemplo é o Pico Dedo de Deus, que fica na Serra dos Órgãos. O pico é uma feição que se diferencia da serra por ter um nome. Caso não tivesse, não seria percebido como um elemento diferenciado dela e não nos referenciaríamos a ele de forma particularizada. Essa percepção do pico como feição diferenciada é comunicada pelo nome geográfico”, explica a pesquisadora da Coordenação de Cartografia do IBGE, Ana Cristina Resende.
A pesquisadora alertou que "para que se possa usufruir de todo o potencial inerente aos nomes geográficos, no entanto, é preciso minimizar os equívocos na identificação das feições e na recuperação das informações neles contidas, produzindo uma economia de tempo e dinheiro ao aumentar a eficiência operacional em todos os níveis do governo, indústria, comércio e educação”.
Ana Cristina acrescenta que são numerosas as áreas de atividade cujo funcionamento eficiente depende da consistência na nomeação de lugares, como fabricantes e usuários de sistemas de navegação de superfície, aéreos e marítimos. Isso porque os nomes geográficos são a principal ferramenta usada para busca de informações sobre lugares na web e nas Infraestruturas de Dados Espaciais (IDEs) dos países e sistemas de informação geoespacial em geral. Também são beneficiadas as agências estatísticas que baseiam seus censos populacionais e pesquisas sociais sobre lugares povoados nominados.
“Recentemente, os índices de nomes geográficos foram usados para subsidiar a delimitação dos setores censitários para o Censo 2022. Os nomes geográficos não são menos importantes para autoridades da lei e da ordem, tais como a polícia, as forças armadas e serviços de emergência, como os bombeiros e redes de ambulâncias, equipes de resgate aéreo e marítimo e agências de ajuda humanitária, que precisam responder rapidamente aos acontecimentos em algum local. Também no controle de desastres naturais os nomes geográficos têm um papel de destaque. O mundo corporativo se beneficia de nomes geográficos precisos, para o desenvolvimento de marcas, em especial as Indicações Geográficas", completa.
Internacionalmente, o Manual será utilizado por diversos países lusófonos, contribuindo com o trabalho realizado no âmbito da Divisão dos Países de Língua Portuguesa, do Grupo das Nações Unidas de Especialistas em Nomes Geográficos (UNGEGN), vice-presidido, no momento, pelo Brasil, representado pelo IBGE.
Com um guia detalhado das etapas da coleta de nomes geográficos, partindo da fase de preparação, passando pela atividade de campo até a consolidação do trabalho, o Manual apresenta com clareza a importância de cada etapa de acordo com as recomendações do UNGEGN, que define que o nome oficial deve ser aquele de uso local e atual. Amostras de documentos provenientes de coletas executadas por equipes de campo do IBGE ilustram a publicação, o que facilita a compreensão das diretrizes e possibilita a melhor visualização dos resultados esperados.
“A melhor fonte para se conhecer o uso local e atual é, naturalmente, o próprio local. Existem nomes que podem ser coletados em gabinete, mas, locais menores, feições menos expressivas, a fonte é o campo, pois o nome geográfico é dinâmico, ele pode ser modificado. Além disso, o nome precisa ser padronizado, inclusive na questão da grafia. Uma forma de alcançar essa padronização é buscar a motivação do nome. Um exemplo é o Rio Água Suja, que faz referência à água imprópria, mas que se fosse grafado água-suja, com hífen, seria uma referência a confusão, desentendimento. Essas histórias são encontradas em campo”, analisa a pesquisadora.
Algumas feições são reconhecidas por mais de um nome geográfico, como, por exemplo, a Serra do Rio Grande ou Serra dos Cristais, no Município de Diamantina (Minas Gerais). Nesses casos, os dois nomes são adotados para designar a feição, sem juízo de valor sobre eles. Quando se trata de feições criadas por lei, ainda que o nome geográfico que consta na lei de criação ou no descritivo de limites não seja mais encontrado em levantamentos de campo, ele deve ser mantido como o principal.
“Em casos de nomes variantes, o nome da lei de criação vem primeiro, seguido pela conjunção ‘ou’ e o nome que ele é conhecido extraoficialmente. Isso é sempre seguido na cartografia quando tratamos de feições citadas em descritivos de limites entre unidades administrativas. Por exemplo, o nome de um rio, que pode constar um nome na lei, mas que pode ser conhecido localmente de outra maneira. É importante a indicação dos dois nomes, para que não seja perdida a intenção do legislador ao citar o nome para a definição do limite, nem causar confusão na população local que pode conhecer a área de outra maneira”, aponta Ana Cristina.
As diretrizes propostas no Manual podem ser aplicadas em qualquer tipo de projeto, nas mais diversas organizações e áreas do conhecimento, e independem de recursos digitais.