Censo Agropecuário
Na Bahia, filhos de japoneses investem no cacau
27/12/2019 14h00 | Atualizado em 30/12/2019 16h03
O último dia 18 foi o Dia Internacional do Migrante. No Brasil, a presença de imigrantes de diversos países trouxe contribuições significativas para nossa produção agropecuária, especialmente alemães, italianos e japoneses. Os japoneses chegaram ao país principalmente por São Paulo, onde se dedicaram ao café, mas também se espalharam para o Sul e Nordeste, variando suas produções de acordo com a região, como a pimenta do reino e a fruticultura na Bahia.
De acordo com os dados do site Nippo Brasil, entre 1953 e 1962 foram criadas três colônias japonesas pelo governo brasileiro na Bahia, com o objetivo de povoar e desenvolver áreas improdutivas e praticamente abandonadas. Os municípios de Una, Mata de São João e Ituberá (este último localizado a 170 km de Salvador, na região do Baixo Sul), receberam dezenas de famílias japonesas.
O pai da agricultora Yuriana Kuratani, 38 anos, foi um desses imigrantes. Yoshimasa Kuratani, então com 9 anos, seus pais e cinco irmãos desembarcaram no porto de Ilhéus (BA) em 1957, fugindo de uma grande crise em seu país natal, devastado pelos efeitos da Segunda Guerra Mundial. Ao chegarem, foram encaminhados para Una, porém, três meses depois, se mudaram para Ituberá. “Em Una o clima era muito seco e o solo ruim para cultivo. Meu avô, Torao, soube que outras famílias de japoneses tinham seguido para Ituberá, pois lá a terra era boa, e partiu também”, conta Yuriana.
Padeiro de profissão, o avô de Yuriana serviu à marinha japonesa durante a Segunda Guerra. Já aqui no Brasil, seu primeiro negócio foi o cultivo de dendê, que deu prejuízos. “Foi quando meu avô começou a produzir pimenta do reino que tudo começou a melhorar. Ele foi comprando mais pedaços de terra e ampliando a produção”.
O pai de Yuriana cresceu e se apaixonou por uma baiana. O casamento foi a contragosto dos pais, que queriam uma noiva japonesa. “Dessa união nasceram meus quatro irmãos e eu, que sou a caçula. Na nossa infância, por meio da associação de moradores da colônia, aprendemos muito sobre nossa cultura e tínhamos aulas de japonês”, detalha a produtora rural, que chegou a morar cinco anos no Japão, entre 2003 e 2008, e retornou a Ituberá para viver da agricultura.
“Meu pai faleceu em 2015 e deixou três hectares e meio de terra para cada um dos filhos. Cuido da minha área e das áreas de dois irmãos, que não vivem na zona rural. Produzo banana, mamão, maracujá, cravo, mas o nosso principal negócio é o cacau. O cacau é uma maravilha para gente! Quero investir mais no cacau, porque é dinheiro entrando o ano todo”, comemora.
O cacau faz parte da identidade da Bahia. Desde 1970, quando o Censo Agropecuário começou a registrar a produção de cacau por estado no Brasil, a Bahia é, disparado, o maior produtor. Mais recentemente, o Pará vem aumentando sua produção, enquanto a Bahia tem se deparado com problemas como a doença da vassoura-de-bruxa, nos anos 1990, e a seca, desde 2015. Ainda assim, a produção baiana de cacau em amêndoas, em 2017, ultrapassou as 85,2 toneladas em mais de 69 mil estabelecimentos.
Uma das formas de agregar valor que vem sendo adotada pelos produtores do cacau na Bahia é o investimento na especialização e beneficiamento da amêndoa, gerando subprodutos como manteiga de cacau, pó de cacau, polpa ou “nibs” (amêndoa torrada e granulada).
Hoje, o município de Ituberá, onde Yuriana vive com sua família, está entre os 20 maiores municípios produtores de cacau na Bahia, em termos de quantidade produzida. Lana Kuratani, de 17 anos, é a filha única de Yuriana e motivo de grande orgulho e esperança nos novos rumos da produção. A jovem está cursando o ensino médio profissionalizante em agronegócio e se prepara para ajudar a mãe na busca por novos mercados e estratégias de beneficiamento do cacau.
“Pensamos em produzir chocolate. Será um produto de valor agregado, pois toda nossa adubação é natural, sem uso de químicos”, conta Yuriana, que também revela uma preocupação muito grande com a preservação ambiental da região. “Passa um rio em nossa propriedade e temos o cuidado de manter a área de mata em pé e conservada, para não comprometer a água”, finaliza.