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Copa do Mundo

Quem vai vencer? Projeções no futebol divulgam estatística

Editoria: IBGE | Rodrigo Paradella

15/06/2018 09h00 | Atualizado em 15/06/2018 09h52

Além de pesquisas e indicadores como os divulgados pelo IBGE, a estatística tem como outra utilidade o cálculo de probabilidades, como as de chances de título das seleções na Copa do Mundo. Esse é o foco do trabalho desenvolvido por Marcelo Leme de Arruda no site Chance de Gol, criado por ele em 1999, com as chances para cada resultado em jogos e competições nacionais e internacionais.

Marcelo Leme participou do seminário "A estatística aplicada aos esportes", realizado no dia 8 de junho, na Ence (Escola Nacional de Ciências Estatísticas), como parte da comemoração pelo dia do profissional da área, que se passou no dia 29 de maio, também aniversário do IBGE. Em sua palestra, ele falou justamente da probabilidade aplicada a jogos e campeonatos de futebol.

"No caso da Copa, levamos em consideração os resultados de todas as seleções do mundo nos últimos quatro anos, considerando jogos oficiais e Datas-FIFA. Nos amistosos fora das Datas-FIFA não temos garantia de que as equipes usarão os times principais, então deixamos de fora", explicou Marcelo. "Calculamos a probabilidade de cada time ganhar e do empate. Faço isso para cada jogo e um programa faz essa simulação 10 mil vezes para toda a Copa e vemos os resultados, quantas vezes cada time terminou em cada posição", completou.

Segundo a projeção do Chance de Gol, o Brasil é a seleção com maior chance de levar o título da Copa do Mundo, com 34,6% de probabilidade. A maior ameaça seria a Espanha, com 19,7% de chances de conquistar a taça e 34,6% de chegar à grande final, embora a troca de técnico de última hora não seja considerada, por exemplo.

"Além dos amistosos fora da Data-FIFA, não entra o que não dá para matematizar: tradição, peso do 7 a 1, peso da camisa, desfalques, se o time trocou de técnico dois dias antes. Mas é levado em consideração o mando de campo, então a Rússia é considerada mandante, por exemplo", disse Marcelo.

Os dois maiores azarões na competição, por sua vez, seriam Panamá e Coreia do Sul, com apenas 1,1% e 1,3% de probabilidade de passarem da fase de grupos, respectivamente.

A primeira fase não deve ser problema para a seleção brasileira. O Chance de Gol vê probabilidade de 95,8% de que o Brasil passe pelo Grupo E e avance para as oitavas de final, com a Suíça (46,4%) e Sérvia (43,3%) como candidatas mais fortes a outra vaga, enquanto a Costa Rica seria a zebra (14,5%). No grupo, alcançar os sete pontos garante a classificação, enquanto cinco levariam a uma chance de 97% e quatro, de 60%.

Estatística e esporte

Doutor em estatística pela Universidade de São Paulo (USP), Marcelo conta que a aproximação com o cálculo das probabilidades de resultados em jogos de futebol aconteceu naturalmente e teve forte influência familiar.

"Eu sempre gostei de matemática, sou de uma família que sempre gostou muito de discutir futebol. Quem tem mais chance de ser campeão, por exemplo. Então, juntando as duas coisas, eu fui tomando conhecimento de artigos sobre probabilidade, uma coisa foi levando a outra. Entrei na faculdade de matemática porque gostava e queria aprender coisas que me ajudassem nesse tipo de discussão também. Quando fiz mestrado na USP mostrei para o meu orientador um modelo e ele achava que dava uma tese. Na época, fizemos um site com o cálculo das chances de rebaixamento no Campeonato Brasileiro de 99 e o Terra se interessou”, lembrou o estatístico.

Acostumado com a dificuldade de explicar conceitos matemáticos para o grande público, Marcelo conta que já passou por situações complicadas por ser cobrado por resultados inesperados. Também por isso, ele vê o trabalho como importante para divulgar o conhecimento estatístico na sociedade.

"Existem dois universos que essa relação entre esporte e estatística pode se dar. Uma pode ser útil, mas ainda sofre com preconceito, que é o scout, como existe no vôlei. O que você deve trabalhar de acordo com os números e assim por diante. E também a probabilidade, que também é importante. Dá para ter uma noção pelo trabalho que se tem pela frente no campeonato", ponderou.

"As pessoas mesmo muitas vezes não entendem a diferença entre probabilidade e certeza. Acham que, se o Brasil tem mais chances, vai ser campeão. Esse tipo de deficiência de entendimento que faz com que a coisa seja tão mal difundida no Brasil, vítima de preconceitos. É complicado, é o famoso exemplo dos 99% do Fluminense em 2009", encerrou, lembrando o célebre caso em que o time carioca escapou do rebaixamento no Campeonato Brasileiro contra todas as expectativas.