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Revista de Relações Internacionais

Primeira edição destaca centros de referência em coleta digital na África

Editoria: IBGE | Rodrigo Paradella

04/04/2018 09h00 | Atualizado em 10/04/2018 08h50

Com o intuito de ampliar e divulgar sua participação no cenário global, o IBGE lança nesta quarta-feira (4) a primeira edição da Revista Relações Internacionais em Notícias. O número de estreia mostra as principais atividades da instituição neste âmbito no segundo semestre de 2017, além de uma entrevista com o presidente Roberto Olinto Ramos.

Entre as matérias da edição inicial destaca-se o treinamento realizado por servidores do IBGE em Cabo Verde e Senegal, um dos passos finais para a formação de centros de referência em coleta digital na África. Abaixo, a reportagem pode ser lida na íntegra.

#praCegoVer Imagem da capa da revista
A primeira edição da revista está disponível em formato digital
#praCegoVer Participantes da capacitação posam para foto
Senegal foi o primeiro dos dois países africanos a receber capacitação
#praCegoVer Cynthia Damasceno faz apresentação durante treinamento
Cynthia Damasceno representou o IBGE na capacitação na África
#praCegoVer João Baptista de Pina faz apresentação durante treinamento
João Baptista de Pina representou Cabo Verde na capacitação
#praCegoVer O senegalês Babacar Ndir concede entrevista à imprensa local
O senegalês Babacar Ndir concedeu entrevista à imprensa local
#praCegoVer Participantes do evento reunidos em mesa, discutindo coleta digital
Participantes discutiram coleta digital durante o evento

Centros de Referência compartilham conhecimento do IBGE

Mais do que inovar, uma instituição de referência também deve estar disposta a compartilhar o conhecimento adquirido com as experiências bem-sucedidas. Com esse objetivo, o IBGE promoveu, entre novembro e dezembro de 2017, na África, a capacitação dos institutos nacionais de estatística de Senegal e Cabo Verde, para disseminar nos países do continente a coleta eletrônica de dados realizada no Censo Demográfico 2010 e reconhecida como modelo nesse aspecto pela ONU (Organização das Nações Unidas).

A cooperação com países africanos é um exemplo do papel central que, cada vez mais, o Instituto vem ocupando no cenário geoestatístico internacional. A capacitação teve como objetivo formar dois Centros de Referência em Censos com Coleta Eletrônica, dando autonomia a Senegal e Cabo Verde para instruir outras nações africanas e difundir, assim, o conhecimento obtido por meio da capacitação oferecida pela instituição brasileira pelo continente.

As capacitações duraram duas semanas cada, nas cidades de Saly (Senegal) e Praia (Cabo Verde), envolvendo cerca de 25 técnicos de cada um dos países e 11 do IBGE. Além do instituto brasileiro e dos africanos, a iniciativa envolveu a Agência Brasileira de Cooperação (ABC) e o Fundo das Nações Unidas para População (FNUAP Brasil). Mais do que um treinamento, o período serviu como um espaço de troca entre os institutos de estatística dos três países.

“Não precisamos ensinar ninguém a fazer censo, não é esse o foco. Eles sabem como fazer o treinamento, sabem fazer um censo. Nosso foco é mostrar as diferenças do treinamento para a coleta eletrônica. Não adianta dar o DMC (dispositivo móvel de coleta) ao recenseador para ele sair trabalhando, porque existem passos anteriores”, explica a gerente de treinamento da Coordenação Operacional dos Censos do IBGE, Cynthia Damasceno, que participou da capacitação.

“Houve mais um bate-papo, não fomos com a ilusão de que iríamos só ensinar. Há uma experiência grande e eles querem muito saber exatamente como fazemos. Ainda existe uma insegurança na hora de passar para outros países. Mas não existe uma maneira só, até porque cada país tem sua estrutura”, explica o analista do IBGE Miguel Ângelo Montenegro, também presente no treinamento.

Na capacitação, foram tratados temas como formação de pessoal, mapeamento censitário, infraestrutura tecnológica, questionário, supervisão, tudo voltado para a coleta eletrônica de dados, além das potencialidades da disseminação de dados e da sensibilização da sociedade. Os dois países já realizaram censos com equipamento digital no passado, mas agora estão preparados para treinar outras nações. A missão, contudo, ainda não foi a última do projeto.

“Eles já nos apontaram algumas necessidades em relação ao repasse desse conhecimento para os outros países africanos. Levantaram a necessidade de elaborar instrumentos de análise dos países que receberão essa capacitação no futuro”, explica Miguel Ângelo. Em fevereiro de 2017, uma reunião em Praia (Cabo Verde) foi realizada para tratar também dessa questão.

O papel de referência do IBGE na coleta eletrônica de dados foi alcançado em 2010, quando o Brasil executou com sucesso o Censo Demográfico de forma digital, sem o uso de questionários em papel. A experiência em um país de tamanho continental e uma população de, então, 190,7 milhões de pessoas chamou a atenção de institutos de estatística que ainda tinham dificuldades nessa transição, como o de Cabo Verde.

“Fomos o primeiro país de grande porte, digamos assim, que fez um censo totalmente digital. Já em 2010, quando estávamos nos preparando, recebemos uma demanda de ajudar Cabo Verde a fazer o deles. Nosso presidente à época, Eduardo Pereira Nunes, disse: “vamos ajudar, mas já com a nova tecnologia’, que já havíamos usado, em 2007, no Censo Agropecuário. Praticamente fizemos o censo de Cabo Verde”, conta a Coordenadora Operacional dos Censos do IBGE, Maria Vilma Salles Garcia.

A ajuda a Cabo Verde foi somente um dos casos de cooperação do IBGE nessa área. A demanda crescente por capacitações em coleta eletrônica foi o principal motivo para a criação do projeto de Centros de Referência na África, em 2016.

“A cooperação técnica internacional do IBGE intensifica-se a partir do Censo 2010, principalmente em função dessa nova tecnologia, que é a coleta eletrônica de dados, além da transmissão e do controle de campo, pagamento e mapeamento. Isso a ONU reconhece como uma das atividades que eles chamam de Data Revolution, que não se dá só com os dados em si, mas, também, com os processos relacionados”, explica o Assessor de Relações Internacionais do IBGE, Roberto Sant’Anna, que destaca a importância dos parceiros no projeto, a ABC e o FNUAP.

“A ABC tem como atividade a cooperação internacional voltada para o eixo Sul-Sul. Em todas as cooperações desse tipo, ela está conosco. O que temos visto é que a cooperação brasileira tem se caracterizado por ser trilateral, por ser formada pelos países envolvidos e uma instituição que colabora e entra como parceira. No caso dos censos, nosso parceiro é o FNUAP, como nos centros de referência”, destaca Sant’Anna.

Com dois países preparados para difundir o conhecimento na África em idiomas distintos, o IBGE conta com apoio para disseminar suas técnicas mais rapidamente e de forma eficiente, mesmo que não esteja diretamente envolvido.

“A cooperação Sul-Sul busca não manter dependências. Ela procura capacitar, para que o conhecimento possa circular livremente. Não queremos criar dependências, para que toda vez que eles precisem de informação também precisem do IBGE. A ideia é capacitar multiplicadores. E, claro, trazer experiências de lá também”, conclui Sant’Anna.