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Entrevista: Maria Vilma coordena Censo Agro em busca de retrato atualizado do setor rural

Editoria: IBGE

09/10/2017 09h00 | Atualizado em 10/10/2017 10h02

Desde o dia 2 de outubro, quase 19 mil recenseadores começaram a visitar mais de 5,3 milhões de propriedades agrícolas espalhadas pelo país, com o objetivo de produzir um retrato atualizado sobre o setor rural brasileiro. À frente da operação censitária que mobilizará o IBGE durante os próximos cinco meses, está a coordenadora operacional de Censos, Maria Vilma Salles Garcia. Ela completou, neste ano, 40 anos de IBGE, tendo no currículo a realização de quatro operações censitárias anteriores bem-sucedidas (os censos demográficos de 1991 e 2010 e os censos agropecuários/contagem da população de 1996 e 2007).

Em entrevista à Agência IBGE Notícias, Maria Vilma lembra que, por falta de recursos, o Censo Agro (que tinha orçamento previsto de R$ 1,3 bilhão) poderia não ser realizado. Mas com a mudança na presidência do IBGE, em 2016, o então presidente Paulo Rabello de Castro viabilizou o início do censo em 2017, mas com orçamento de R$ 780 milhões (2017/2018). Por essa razão houve necessidade de adequação de todas as etapas, começando pelo questionário, que foi reduzido para possibilitar ser respondido em média na metade do tempo (de 1h30 para 45 minutos). Para fazer frente ao quadro menor de pessoal temporário, a duração da coleta foi estendida de três para cinco meses.

Dez anos após coletar informações sobre o setor rural brasileiro, o IBGE volta ao campo para produzir a mais completa investigação estatística e territorial sobre a produção agropecuária do país. A previsão é que a partir de maio de 2018 sejam divulgados os primeiros resultados e, segundo Maria Vilma, “todos se beneficiam com dados novos, o governo pode fazer melhor suas políticas públicas para o setor, o setor privado e as entidades também poderão se planejar melhor com um retrato novo do setor rural”.

Agência IBGE Notícias: O que mudou no Censo Agro 2017 em relação aos Censos 2007 (Agropecuário e contagem da população)? 

Maria Vilma Salles Garcia: Quando começamos a planejar o Censo Agropecuário, em 2013, ele seria realizado em 2015 e, em seguida, haveria a contagem da população, ou seja, não seriam operações simultâneas, como nos Censos 2007, mas sim, em sequência. Devido à falta de recursos, o Censo Agro foi sendo adiado e acabou previsto para abril de 2018.

Com a mudança de direção, em 2016, o então presidente Paulo Rabello de Castro decidiu antecipar o Censo, com início em outubro de 2017 até fevereiro de 2018. Em razão do orçamento menor, houve uma série de ajustes. Primeiro, reduziu-se bastante o questionário: antes, a entrevista que era feita em torno de 1h30 e passou para 45 minutos; não temos mais uma equipe por município, e sim uma equipe por conjunto de municípios. Com isso, diminuímos o número de recenseadores, de 62 mil passamos para 18,8 mil, e a equipe de supervisores. Diminuímos, também, a quantidade de equipamentos para 26 mil (Dispositivos Móveis de Coleta - DMC). Por outro lado, nós aumentamos o prazo de coleta de três para cinco meses. Assim, com essa série de mudanças, conseguimos nos ajustar ao orçamento. Desse modo, estamos preparados para o início do Censo. Contamos, especialmente, com as Unidades Estaduais do IBGE, que têm muito fôlego.

Agência IBGE Notícias: O Censo Agro 2017 utilizará um modelo de coleta nos moldes do utilizado nos Censos 2007, por que essa opção?  

Maria Vilma Salles Garcia: Esse Censo volta a fazer uso da tecnologia que usamos em 2007, que é transmitir a informação coletada no equipamento diretamente para a Central de processamento de Dados (CPD). No Censo Demográfico 2010, os equipamentos de coleta transmitiam para o computador do posto de coleta e à noite esses dados eram retransmitidos para o CPD. Para o Censo Agro 2017, a Diretoria de Informática ressaltou ter tido sucesso na experiência de transmissão direta dos dados na PNADC (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua), e por isso apostou em aplicá-la nessa operação. Isso se deve aos avanços tecnológicos que permitiram que essa transmissão de dados fosse atualizada e aperfeiçoada. 

Agência IBGE Notícias: Que outros avanços tecnológicos serão adotados no Censo Agro 2017?

Maria Vilma Salles Garcia: As novas tecnologias de georreferenciamento permitiram um avanço muito importante na parte do mapeamento, porque melhoramos muito os nossos mapas, com a utilização de imagens de satélites. O equipamento do recenseador possui ferramentas de localização que poderão direcioná-lo para o caminho correto, mostrar se há rios no percurso, para onde ele irá depois, qual o estabelecimento mais próximo. O equipamento indicará, ainda, ao recenseador se ele está fora ou dentro de seu setor censitário.

Do total estimado de 5,3 milhões de propriedades rurais, 4 milhões estão georreferenciadas e compõem uma lista prévia que auxiliará o recenseador na cobertura do setor. Outra característica dessa tecnologia é que o supervisor de coleta poderá acompanhar o caminho traçado pelo recenseador, então qualquer dificuldade ou dúvida dos recenseadores poderão ser assistidas remotamente pelo supervisor. Do mesmo modo, o supervisor poderá ver se alguma propriedade deixou de ser recenseada. Todas essas atualizações vão ajudar muito numa coleta mais precisa e segura. Além disso, o equipamento de coleta, nesse censo, é mais leve e a tela é maior. Outra facilidade é a opção de o recenseador manter contato com o supervisor através de mensagens em tempo real.

Agência IBGE Notícias: Como foi o treinamento dos 18 mil recenseadores? 

Maria Vilma Salles Garcia: O treinamento foi um dos itens que precisou ser redimensionado dentro do orçamento. Em 2010, fizemos o treinamento todo com videoaula. Nesse cronograma de 2017/2018, compactado, não houve tempo para essa produção. Então, produzimos três vídeos - institucional, percurso do setor e conceito de estabelecimento agropecuário, e o restante foi realizado com slides. Por outro lado, para compensar, o manual está bastante detalhado, os slides estão bem explicados e as avaliações feitas estão tendo resposta favorável. 

Agência IBGE Notícias: Qual o perfil de um bom recenseador? 

Maria Vilma Salles Garcia: Primeiro, ser um profissional que saiba abordar, a abordagem [primeiro contato do recenseador com o informante] é fundamental. Explicar qual é o seu trabalho, como será desenvolvido, ganhar a confiança do informante. O recenseador que conseguir ganhar nesses pontos já tem 50% do trabalho realizado. O segredo é chegar e conseguir estabelecer uma boa relação.  Nos casos em que o recenseador perceba algum tipo de resistência por parte do entrevistado, é necessário que o profissional saiba lidar com isso, quebrar essa resistência. E perguntar ao informante, também, se aquela hora é um bom momento para responder ao questionário, se não for, sugerir disponibilidade para voltar em outro horário. Com essas técnicas, o recenseador vai ganhando a simpatia da pessoa. 

Agência IBGE Notícias: Quais as dificuldades de realizar um Censo em um país tão extenso e diverso?

Maria Vilma Salles Garcia: A diversidade regional é bastante complicada. É muito mais fácil entrevistar estabelecimentos aqui da região, como Rio de Janeiro, São Paulo. Visitar municípios do Amazonas, Pará, exige mais disponibilidade porque as formas de acesso são muito diferentes. No Norte você precisa alugar barco, alugar avião, tem as áreas indígenas, as áreas em que há conflitos de terra. A dificuldade maior é a diversidade geográfica. 

Agência IBGE Notícias: O IBGE está contando com parcerias na divulgação do Censo Agro 2017?

Maria Vilma Salles Garcia: O que está nos ajudando bastante são as campanhas que estamos fazendo com o pessoal do agronegócio. Conseguimos contato com a Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), com a Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), com a Confederação Nacional da Agricultura (CNA), entre outros representantes da sociedade civil. Essa relação institucional forte foi um ganho comparado ao ano de 2007. Para os estabelecimentos pequenos, estamos contanto com o apoio da Confederação Nacional dos Trabalhadores Rurais (Contag). Haverá, também, campanha publicitária da Secretaria de Comunicação Social da Presidência (Secom).

Agência IBGE Notícias: Por que é importante responder e colaborar com o Censo Agro?

Maria Vilma Salles Garcia: Porque a informação é um bem muito valioso e ela precisa ser nova, se for velha não adianta de nada. Nós estamos com as informações do setor agropecuário paradas em 2007. Todos se beneficiam com dados novos, o governo pode fazer melhor suas políticas públicas para o setor, o setor privado e as entidades também poderão se planejar melhor com um retrato novo do setor rural do país. Então é do interesse de todos receber bem o recenseador e responder corretamente às suas perguntas. É isso que o Brasil espera desse Censo!

Entrevista: Adriana Saraiva (colaborou Marina Cardoso, estagiária)
Fotografia: Pedro Girão