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Compreendendo o território através de suas articulações

Editoria: Geociências

29/06/2017 13h48 | Atualizado em 03/07/2017 10h51

Uma construção do conhecimento geográfico orientada pelas recentes transformações na dinâmica dos municípios: a nova Divisão Regional do Brasil, divulgada hoje pelo IBGE, atualiza o olhar sobre o território para subsidiar o planejamento e a gestão de políticas públicas e também para divulgações de dados estatísticos e geocientíficos para os próximos dez anos.

O intuito da Divisão Regional do Brasil em Regiões Geográficas Imediatas e Regiões Geográficas Intermediárias 2017 é colaborar com a compreensão territorial do Brasil, dividindo-o em partes menores mas coerentes entre si e que respeitem os limites estaduais. Nesse sentido, as cidades são consideradas pontos de partida para organizar o território e a maneira como se relacionam, o fluxo de serviços, informações, consumo e outros recursos são os fatores que pautam a divisão.

“A gente pensou que a melhor maneira de poder retratar o Brasil inteiro seria pela rede urbana”, conta Felipe Mazur, geógrafo do IBGE. Ele explica que, a partir de uma base de dados, é possível agregar municípios de uma região em torno de pelo menos um município central: “Esses municípios ao entorno, por serem menores e terem menos infraestrutura, menos equipamentos, menos lojas, são atraídos para outros municípios”. 

A divisão regional atualizada continua trabalhando com duas escalas, agora com novos nomes. Substituindo as unidades mesorregionais e microrregionais, vigentes desde a década de 90, surgem as Regiões Geográficas Intermediárias e Imediatas, definidas através destes estudos da configuração da rede urbana local. As Regiões Geográficas Imediatas correspondem às áreas que procuram centros urbanos próximos para satisfação de necessidades imediatas como emprego, saúde, educação, compras de bens de consumo e prestação de serviços públicos. Já as Regiões Geográficas Intermediárias organizam as Imediatas no território a partir de uma região que oferece serviços mais complexos como serviços médicos especializados ou grandes universidades.

Para o coordenador do projeto, Cláudio Stenner, “quanto mais complexa a função, há um pressuposto de que as pessoas se deslocam para ter acesso àquilo, porque não é uma coisa cotidiana”, explica. “A Região Geográfica imediata é aquela do dia-a-dia, cotidiana. Já a intermediária responde pelos serviços mais complexos, mais ocasionais, e também mostra uma articulação na cidade em outro nível, também do ponto de vista da gestão, não apenas de deslocamento das pessoas e consumo”.

A necessidade de um novo olhar sobre o território brasileiro se verifica na medida em que as cidades se modificam e se reorganizam. O estado do Mato Grosso, por exemplo, era uma área pouco ocupada no início dos anos 80 mas que com o passar do tempo se tornou a principal área produtora de soja, milho e algodão do país, propiciando o surgimento de novas cidades polos como Sinope, Sorriso e Primavera do Leste, que até então eram pouco significativas. “A partir daí surgiu uma rede, uma atividade econômica nova que não existia, uma ocupação nova do território. Então temos novas regiões que se formaram e que [antes] não eram identificadas porque não existiam. Toda essa dinâmica econômica e de circulação não existia, e agora nesse estudo a gente identifica”, conta Cláudio Stenner. 

Segundo o gerente de regionalização do projeto, Cayo Franco, divulgar estatísticas num recorte que faz parte da realidade ajuda a promover políticas públicas efetivas. “Por exemplo, um município que está dentro da região de São José dos Campos pode estar muito mais na lógica de São Paulo, utilizar mais serviços em São Paulo, e isso faz diferença. Então o ajuste fino dos limites foi importante”, afirma.

Além de identificar essas novas articulações territoriais, a proposta do IBGE é atualizar esse recorte a cada 10 anos, visando incluir todas essas dinâmicas recém-descobertas a fim de auxiliar na divulgação de dados estatísticos, como enfatiza Felipe Mazur: “A preocupação que sempre esteve presente na divisão regional é o recorte que é dado. A ideia é renovar em ciclos decenais, para que o legislador, os ministérios, quem está planejando políticas públicas, saiba que aquele recorte daqui a dez anos vai ser revisto”.              

Texto: Marília Loschi e Diane Ferreira (estagiária)
Imagem: Helena Pontes
Foto: FreeImages.com/Joshua Davis