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Pessoas com deficiência: adaptando espaços e atitudes

Editoria: IBGE | Marília Loschi | Arte: Valberto Cabral

20/09/2017 09h00 | Atualizado em 17/05/2019 10h41

  No último Censo, 45,6 milhões de pessoas declararam ter pelo menos um tipo de deficiência - Foto: Juney Freire/Agência IBGE Notícias

Quando Renata Glasner visitou a Reserva Florestal do Grajaú, sentiu-se impedida de continuar o passeio ao perceber que não havia rampas de acessibilidade. Em outra ocasião, numa casa de festas, não tomou um gole d'água porque não havia banheiro adaptado. Renata é cadeirante e tem uma aposta: gerar um “constrangimento positivo” para mobilizar as pessoas e ajudar nas mudanças de hábitos quando o assunto é acessibilidade para pessoas com algum tipo de deficiência.

Conheça Renata no vídeo:

 

Sem brigar ou causar escândalo, Renata deixa patente a falta de preparação dos estabelecimentos. “Eu estava inspirada no dia. Quando vieram me servir água, virei para o meu marido e falei: ‘hora de constranger’. Procurei uma pessoa com cara de gerente e perguntei onde era o banheiro adaptado”, conta Renata. Sua decisão foi responder calmamente que não iria beber nada, para não ter de usar o – inexistente – banheiro. O constrangimento surtiu efeito: a gerente ficou tão sem jeito que a partir daquela festa passou a lutar pela construção de um banheiro adaptado. Quatro meses depois, Renata voltou à casa de festas e o banheiro já estava funcionando. “Eu tenho muita história feliz neste sentido de eu ter participado da mudança”, comenta.

O dia 21 de setembro é o Dia Nacional da Luta da Pessoa com Deficiência. No último Censo Demográfico, 45,6 milhões de pessoas declararam ter pelo menos um tipo de deficiência, seja do tipo visual, auditiva, motora ou mental/intelectual. Apesar de representarem 23,9% da população brasileira em 2010, estas pessoas não vivem em uma sociedade adaptada. Segundo a Pesquisa de Informações Básicas Municipais (Munic) de 2014, a maioria das prefeituras não promove políticas de acessibilidade, tais como lazer para pessoas com deficiência (78%), turismo acessível (96,4%) e geração de trabalho e renda ou inclusão no mercado de trabalho (72,6%).

O professor de direito Josemar Araújo faz parte deste grupo que, apesar de numeroso, ainda enfrenta dificuldades em direitos básicos, como o de ir e vir. Ele é cego e acabou de concluir seu doutorado em Ciências Sociais e Jurídicas na Universidade Federal Fluminense (UFF), tendo como tema a relação entre inclusão escolar e o direito penal. Ele também é militante de direitos humanos e defende uma reflexão mais profunda sobre a acessibilidade:

“O que a gente está chamando de acessibilidade? É construir ambientes adaptados? Se é construir ambientes adaptados, isso é muito pouco. Porque enquanto as pessoas não tomam consciência do que é acessibilidade, elas acabam usando para outras coisas”, diz Josemar, lembrando do caso de um bar que usou as rampas de acessibilidade para colocar cadeiras e mesas. Ou ainda os alunos da universidade que estão sempre conversando em pé sobre o piso tátil que serve de guia para pessoa com deficiência visual. Ou ainda quando esteve no banco e teve que lidar com o segurança dizendo para ir até a (invisível) “faixa amarela”, ou colocar as coisas no (invisível) “armário ali” e falar com aquela (invisível) “menina de colete ali” que poderia ajudá-lo, mas lhe pediu para aguardar, entregando-lhe uma (invisível) senha.

“São muitos pedidos impossíveis de uma vez só. E a gente acha mesmo que acessibilidade é só construir ambientes e não é. É muito mais do que isso. É um problema cultural”, conclui Josemar.